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domingo, 24 de outubro de 2010

O poder das imagens - artigo - OPOVO

O poder das imagens




A arte visual moldou a civilização e arqueólogos descobriram que há 35 mil anos o homem já pintava nas cavernas imagens rupestres de rituais e símbolos para a preservação da cultura. O historiador grego Heródoto mostrou com destaque imagens da cultura egípcia inversa a da grega, em que naquela se escrevia da direita para a esquerda e que as mulheres urinavam sentadas e não em pé, como as gregas.
Em 18 de maio de 1498, Vasco da Gama chegou à Índia e avistou o monte Eli, onde repousa “o trono do deus Shiva”, e interpretou na cidade indiana de Calcutá a imagem da escultura de Brahma, Vishnu e Shiva como sendo a da Santíssima Trindade; e os chineses na Europa olhavam e adoravam a imagem da Virgem Maria, mas acreditavam ser da deusa budista Kuan Yin; já os missionários jesuítas quando foram ao Japão pensavam que uma imagem do imperador nipônico era na verdade a de um “papa oriental”; a imagem de Buda nos templos requer leitura dos textos budistas para compreensão, pois é dito que com a mão ele toca o chão, que supostamente seria a terra testemunhando a sua iluminação; os aborígines da Nova Zelândia não sabiam o sentido da imagem da “Última Ceia”, pensavam que era apenas uma refeição em grupo.
O cristianismo ganhou grande força na civilização devido ao apelo dramático e à glorificação da hipotética crucificação, pois o significado da cruz leva o sujeito a despertar três sentimentos: sofrimento, compaixão e esperança; e hoje há crucifixosespalhados por toda parte. Antes do século XIV, eram raríssimas as imagens publicadas de fantasmas e demônios, o que sugere que na Idade Média e na Santa Inquisição, a Igreja Católica usou exageradamente essas imagens de terror para converter pelo medo os incrédulos.
No Renascimento tentou-se retornar à arte e à cultura da Grécia Antiga e as igrejas e templos da Europa ganharam alegorias de narrativas de anjos, julgamentos, demônios, céu e inferno, pois os que não sabiam ler, entendiam de forma instrumental a mensagem bíblica nas pinturas e monumentos. A técnica de usar imagens para impressionar, ou sugerir situações à civilização, foi também utilizada em larga escala pelos reis e, num período recente da história, pelos totalitários ditos populares que eram tidos como “líderes supremos”.
A força da imagem na mente humana é devastadora e, como diz o provérbio: “uma imagem vale mais do que mil palavras”, daí o ritual das pessoas quando passam em frente aos templos sagrados e fazem por reverência o sinal da cruz, ou outro análogo, por automatismo e num processo inconsciente.
Na arte religiosa, no Ocidente e no Oriente, as imagens – no sentido mais amplo da palavra – despertam piedade e causam apreensão e medo com o possível fracasso da não salvação e de uma possível “punição” e exercem uma “vigilância” inconsciente no sujeito. A Iconoclastia - ou vandalismo - começou por volta do século VIII e tinha como objetivo destruir as imagens sacras, pois repudiava a adoração e a veneração das mesmas pela civilização, mas não há registros de que os iconoclastas tenham obtido êxito nessa empreitada.
Se retirarmos as imagens, as estátuas e as pinturas das religiões, pouco sobrará para a adoração e a devoção dos fiéis, pois quase todos precisam do recurso visual das imagens para manter a fé e a compreensão dos rituais religiosos.

 

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO , psicanalista..

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