Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

sábado, 20 de abril de 2013

A máfia na agricultura - artigo - Diário do Nordeste



   A civilização vem sendo envenenada há décadas com o uso e o abuso dos agrotóxicos na agricultura que justifica essas práticas para o "controle" de pragas. Os agrotóxicos representam um mercado de 6 trilhões de dólares por ano e há lobby fortíssimo junto a governos, políticos e até na comunidade acadêmica. Os agrotóxicos estão sendo apontados como causadores de câncer, doenças no sistema nervoso e má formação nos fetos, pois cada cidadão consome em média 5,2 litros de agrotóxicos por ano. Se não bastasse tamanha perversão, o solo, o ar e o lençol freático também são envenenados por conta do uso dos venenosos agrotóxicos na agricultura.
   O esquema é tão criminoso que muitos bancos somente liberam financiamento para os agricultores se estes apresentarem as notas fiscais das sementes geneticamente modificadas (transgênicas), bem como a dos defensivos agrícolas (agrotóxicos) alegando que são para "proteção" da colheita da safra na lavoura, inclusive, o agricultor tem ainda que pagar royalties aos fabricantes das sementes geneticamente modificadas a cada colheita, pois elas são patenteadas. Ou seja, o agricultor virou refém da indústria mafiosa dos agrotóxicos e dos transgênicos - as indústrias Monsanto e a DuPont são apontadas como as mentoras desse esquema criminoso.
   A agricultura sobreviveu por milênios sem que fosse necessário o uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas, porém, as lavouras tornaram-se "dependentes químicas" dos agrotóxicos, sugerindo que há um plano em curso para dizimar a civilização...
   Há agrotóxicos de alto teor venenoso e que são proibidos em vários países por conta dos males na saúde humana, mas, estranhamente, aqui no Brasil estão liberados... Os especialistas sérios afirmam que é possível reverter o assustador quadro de envenenamento na comida das famílias, pois há a alternativa da agricultura orgânica que é livre de agrotóxicos e dos transgênicos, mas falta vontade política para quebrar esse esquema mafioso e enfrentar a poderosa indústria dos agrotóxicos e dos transgênicos. Na Índia, vários agricultores se suicidaram por terem ficado reféns do esquema criminoso de distribuição dos transgênicos e dos agrotóxicos dessa malfadada indústria - além de terem destruído suas lavouras e seus sonhos...



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Moisés e o Judaísmo - artigo - Tribuna do Ceará e OPOVO


   O judeu Sigmund Freud dizia que o egípcio Moisés (1391 a.C. – 1271 a.C.) não era judeu, mas fundou a suposta primeira religião monoteísta, o Judaísmo. Moisés, segundo a tradição, escreveu a Torá e se notabilizou pela sua liderança e mansidão — “E era o homem Moisés mui manso, mas do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm, 12,3). Mesmo cometendo assassinatos, Moisés era tido como bom homem e libertou o povo judeu da escravidão no Egito peregrinando num êxodo pelo deserto por 40 anos, levando-os a terra prometida, Israel.
Nascia então nova cultura religiosa e política que incomodaria reis e monarcas daquela época e começava uma saga milenar de conquistas, perseguições antissemitas e mortes. Por duas vezes o templo judaico de Jerusalém foi derrubado (587 a.C. e 70 d.C.) pelos inimigos dos judeus. Os judeus se autoproclamaram “povo eleito” e devido à promessa bíblica de que a terra prometida seria deles, lutam desde então para lá se manterem a qualquer custo.
   As causas das perseguições aos judeus se universalizaram devido à ordem para crucificação de Jesus Cristo registrada no evangelho de João, cap. XVIII e XIX, quando o Cristo diz: “O meu reino não é deste mundo. Se fosse deste mundo eu não teria sido entregue aos judeus” — também foram acusados de usura, pois a Torá autoriza o empréstimo a juros: “Poderás fazer um empréstimo com juros ao estrangeiro” (Dt, 23,21). A primeira expulsão dos judeus na França se deu em 1306, por Filipe, o Belo, e a segunda por Charles VI, em 1394 e outros países seguiram expulsando os judeus por diversas acusações.
   Freud alertava que o Judaísmo estava sendo mal interpretado pelos judeus, especialmente na questão da expropriação de Israel, na Palestina, pois iria ferir os sentimentos dos muçulmanos, árabes, judeus ortodoxos e cristãos que lá viviam há milênios. Freud admirava a universidade israelense e os kibutzim, mas desejava ver Israel livre e sem muros ou arames farpados e habitada por todos os povos. Na visita à estátua de Moisés esculpida por Michelangelo, na Igreja de S. Pedro, em Roma, no ano de 1909, Freud se empolgou para escrever sobre o patriarca do Judaísmo. Em 1938-39, no seu último ano de vida, Freud publicou o corajoso livro, “Moisés e o monoteísmo”. Após a leitura, o historiador Salo Wittmayer Baron proclamou: “Quando um pensador da estatura de Freud se posiciona quanto a uma questão que lhe é de interesse vital, o mundo deve escutá-lo”…



Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



A violência no futebol - artigo - Jornal OPOVO


   A população anda perplexa com a repetida violência entre torcedores e as torcidas organizadas, como se inimigos fossem, a cada partida de futebol. No último domingo, dia de Clássico-Rei entre os times do Fortaleza e do Ceará, após explosões de “bombas” caseiras e brigas com paus e pedras, dois torcedores do Ceará perderam a vida com tiros disparados na cabeça, desferidos por um jovem da torcida do Fortaleza de apenas 19 anos de idade durante mais uma dessas violentas batalhas travadas fora de campo. O episódio alertou para o fato de que alguns torcedores possam estar entrando com armadas de fogo nos estádios, o que é inadmissível.
   A violência no futebol acontece antes, durante e depois dos jogos, o que acaba por produzir uma tensão nos dias de jogos exigindo a mobilização da polícia para tentar conter a agressividade dos torcedores. Há uma explicação psicanalítica para essa batalha no futebol, pois na linguagem bélica utilizada nesse esporte, vê-se a pulsão de agressão e a de dominação, pois há nos times o “capitão”, o “artilheiro”, jogadas são “armadas”, há também a “morte súbita”, as “barreiras”, o “domínio” da bola, o “tiro de meta”, a “defesa e o ataque”, as “estratégias e táticas”, a “bomba” para designar um chute forte e os “gritos de guerra” da torcida e dos jogadores.
   Vêm também aumentando consideravelmente as brigas corporais entre jogadores dentro de campo, sugerindo que se trata de novo fenômeno psicossocial que precisa ser estudado. A violência praticada pelos torcedores tem alcançado até os jogadores dos seus próprios times, pois, quando não jogam bem ou o time é rebaixado de divisão, os jogadores têm que sair, muitas vezes, escoltados dos estádios. O futebol faz parte da cultura e é paixão nacional; porém, a violência de alguns torcedores tem afastado muitos dos estádios que preferem agora assistir incólumes aos jogos de seus times pela televisão.
   Quando Charles Miller, em 1894, desembarcou na cidade de Santos, em São Paulo, com duas bolas de futebol na bagagem e promoveu o primeiro jogo no Brasil, não tinha a menor noção que inseriria na cultura um dos mais geniais e populares esportes e que revelaria talentos como o rei Pelé e outros tantos gigantes da bola nem que projetaria gloriosamente o nosso país como um dos maiores celeiros de bons jogadores do planeta. Porém, a violência no futebol ameaça o futuro do futebol no Brasil...


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

sábado, 6 de abril de 2013

Conselho de anciões - artigo - Diário do Nordeste



   O filósofo argentino Jorge Luis Borges dizia que o homem é um animal, mas que com o tempo, o animal vai morrendo e acaba restando somente o homem. Os mais velhos sempre exerceram na civilização um papel fundamental, pois com a experiência de vida auxiliaram, nem sempre com êxito, na construção das normas da sociedade. Ouvir a voz da experiência é uma sábia atitude, pois se evita cometer equívocos. No Oriente, quando não se tem um ancião para orientar os demais, tem-se que contratar um, dizem os orientais. Ainda hoje, em várias culturas, os prudentes e sábios anciões se reúnem periodicamente para decidir os litígios dentro das comunidades, bem como para transmitir as tradições culturais orais aos mais jovens. Essa cultura de “Conselho de anciões”, ou Gerousia, remonta à antiga Roma, quando no pós-império romano, os eventos relacionados à sua comunidade eram decididos pelos sábios sacerdotes judeus anciões — suprema corte judaica judicial e legislativa, agora conhecida como Sinédrio — e incorporada por “empréstimo cultural” em outras culturas. Will Durant, no seu genial livro, “A História da filosofia”, diz que a imaturidade o tempo conserta, sugerindo não ser anomalia a imprudência na juventude — fase em que se mete os pés pelas mãos e a prudência é apenas plano para o futuro. O tempo é cruel e o conhecimento empírico dos anciões — ou dos mais velhos —, não pode ser desperdiçado, pelo contrário, deve-se abrir os ouvidos para ouvi-los. No sábio provérbio: “Se o jovem soubesse e o velho pudesse”, sugere-se que, quando se sabe, já não mais se pode usar a informação adquirida com a experiência. Quando há questão em litígio entre os judeus, eles a levam para um rabino solucionar, pois os rabinos são reconhecidamente homens maduros e sábios, daí terem recebido o honorífico título e a decisão deles é respeitada.
   Na antiga Roma, Marco Pórcio Catão (Catão, o Velho) — 234-149 a.C. — notabilizou-se na defesa do “ros maiorum” (o costume dos anciões) que apelava para uma vida simples e com o respeito às boas tradições. O respeitado sábio judeu Hillel, o Ancião, (60 a. C. – 9 d.C.) resumiu toda a Torá numa admirável regra de ouro: “Faze aos outros aquilo que queres que te façam”, mas lamentavelmente esse conselho é pouco aplicado na contemporaneidade...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

O poderoso juiz - artigo - Jornal OPOVO



O presidente do Conselho Nacional de Justiça, Joaquim Barbosa, num bate-boca com o conselheiro, Tourinho Neto, durante o julgamento de processo disciplinar desfavorável a um juiz acusado de desvio de conduta, afirmou haver conluio entre juízes e advogados. As entidades de classe da magistratura e a OAB Nacional criticaram Barbosa pela sua fala generalizada, mas o curioso é que no dia seguinte veio à tona na imprensa evento envolvendo o conselheiro do CNJ e representante da categoria da advocacia, Jorge Hélio, e o Tourinho Neto que é no CNJ da cota da magistratura. Jorge Hélio atendeu pedido de Tourinho Neto para conceder liminar num processo favorecendo sua filha que é juíza federal, mas, num “ato falho”, o caso vazou na lista de e-mail dos juízes federais, causando constrangimento nos magistrados. Afinal, dois conselheiros do CNJ, que teriam o dever constitucional de fiscalizar desvios de conduta e dar o exemplo de moralidade na magistratura, acabaram pilhados num episódio nada admirável.
Na minha época de estudante de Direito, o eminente professor de Direito Constitucional e hoje conselheiro do CNJ, Jorge Hélio, era referência de competência e crítico irrecuperável dos desvios de conduta na magistratura, o que sugere que o discurso não sobreviveu à prática. Que há conluio entre juízes e advogados não é novidade, mas o que chamou a atenção foi ocorrer deslize no seleto CNJ; e uma pergunta ficou sem resposta: a tropa é o reflexo do comando e com que autoridade o CNJ vai agora censurar e punir magistrados que fazem conluio com advogados?
No filme “O poderoso chefão”, a máfia tenta se aproximar do incorruptível juiz. Não logrando êxito, cooptam um de seus amigos. O juiz, percebendo a trama, e antes que o seu agora “mui-amigo” abrisse a boca e lhe causasse constrangimento ilegal, vai logo falando: — aquele que trouxer qualquer mensagem, será o traidor.


 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista