O recalque é um sofrimento psíquico
inconsciente que sempre retorna ao consciente em forma de atos falhos, sonhos,
sintomas e chistes e é uma “fonte de desprazer”. Schopenhauer e Nietzsche já
falavam em “recalque, mas foi Sigmund Freud (1856-1939) que conceituou o
“recalque”: “Assim como desviamos o nosso olfato de objetos fétidos, também
desviamos do pré-consciente e do consciente as lembranças. É a isso que
chamamos recalque”. Freud definiu três tempos do “recalque”: 1º, o recalque
propriamente dito; 2º, o recalque originário; e o 3º, o retorno do recalcado
nas formações do inconsciente.
O sujeito “recalcado” age muitas vezes sem
saber a razão de certas posturas suas que podem até causar-lhe vergonha, mas a
explicação é que o material recalcado está retornando ao consciente, o que
Freud denominou de: “O retorno do recalcado”. Todo sofrimento psíquico do
sujeito fica armazenado no inconsciente (recalcado), mas o inconsciente não é
todo preenchido somente de recalques. Nos comentários sobre o “recalque”, Freud
escreveu: “O que foi esquecido não foi apagado”, pois o sujeito “visitará”
sempre seu inconsciente em busca dessa fonte de desprazer que se não for
devidamente trabalhada no divã, por meio da “cura pela fala”, o “recalque” será
seu companheiro inseparável por toda a vida.
Freud associou a “formação do sintoma” ao
retorno do recalcado dizendo: “Não é o próprio recalque que produz formações
substitutivas e sintomas, mas estes são os indícios de um retorno do recalcado”,
daí nada ter a ver “recalque” com “inveja”, como, equivocadamente, vulgarmente
se diz.
Luís Olímpio Ferraz Melo
é psicanalista