Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

domingo, 22 de abril de 2012

Memória seletiva - artigo - Diário do Nordeste



Até 1980, era tabu na Rússia falar sobre a "Grande Fome" programada e arquitetada por Stalin, ocorrida na Ucrânia entre 1932-33, em que 6 milhões de ucranianos morreram de inanição. Tida como a "primeira fome programada" da História, foi utilizada pelos comunistas como instrumento de controle, dominação e guerra. Durante a "fome política" do Grande Salto Adiante comunista de 1959-61 ocorrida no gulag maoísta, o Laogai, na China, 20 milhões de chineses morreram famintos e é tida como a maior fome da História. Nos gulags, na então União Soviética, as condições de vida e a alimentação eram medíocres e não respeitavam a dignidade humana, e milhões de dissidentes do comunismo eram enviados a esses campos de trabalho forçado onde, não raramente, morriam desnutridos ou eram brutalmente assassinados. O genocídio pela fome é torturante, pois o sujeito é condenado a morrer lentamente de fome, porém, tem que continuar a trabalhar até o último suspiro - nas guerras, os soldados são alimentados com ração diária à base de proteínas, mas não é raro morrerem de fome durante as batalhas. Todo regime totalitário mirou, desde seu início, no controle da produção e distribuição dos alimentos e na água potável, pois a população fica refém do "novo" sistema e tudo passa a ser racionado. Na Rússia lenista-stalinista, os cúlaques, camponeses bem de vida, foram perseguidos e considerados "inimigos" do regime comunista por terem produção e distribuição de alimentos - após a centralização da distribuição dos alimentos na Rússia pelos comunistas, os desvios e a corrupção generalizaram-se.
O comunismo é uma conspiração contra a civilização e o seu pseudodiscurso de igualdade não convenceu, inclusive, não é sábio acreditar num regime de governo que praticamente proibiu o cidadão de sair de seu país, em que a liberdade de expressão é apenas um sonho e que deseja "igualar" as pessoas na marra. O Muro de Berlim começou a ser construído em 13 de agosto de 1961 e iniciada a derrubada em 9 de novembro de 1989, quando o comunismo declarou-se falido, mas engana-se quem acredita que ele esteja morto... Os comunistas tentaram "apagar" a sua memória histórica, inclusive, não querem capitalizar e assumir os 100 milhões de assassinatos cometidos no malfadado período do século XX...


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

sábado, 21 de abril de 2012

Questão de consciência - artigo - OPOVO



   Nenhuma mulher sente prazer em abortar e não será com leis penais cada vez mais rígidas que a questão do aborto será resolvida. As leis criminais contra o aborto no planeta são burladas e não encontram efetividade e eficácia, pois a clandestinidade de clínicas, o uso de pílulas abortivas e os abortos realizados extraterritoriais — exemplo, o navio do movimento “Women on Waves” (Mulheres em onda), que defende o direito das mulheres ao aborto e que navega em águas internacionais fazendo abortos — mostram que a complexidade da questão do aborto ultrapassa, em tese, a questão jurídica, a religiosa e a ética.
   Alguns médicos recorrem à “cláusula de consciência” para se negarem a praticar o aborto, mesmo, em alguns casos, quando há determinação judicial. Na Índia, na Coreia do Sul, em Taiwan e na China, por exemplo, apesar do aborto ser liberado, apenas os fetos femininos são sacrificados, pois há misoginia nessas plagas — na Índia, algumas clínicas de abortamento propagam: “Pague 500 rúpias hoje e economize as 50 mil do dote. Certifique-se de que não está esperando uma filha”.
   Esses países misóginos desestimulam a gravidez de fetos femininos pois as famílias têm que, por tradição cultural, pagar o dote à família do noivo, o que pode levá-las, se tiverem várias filhas, à falência.
   Estimativas conservadoras apontam para o estarrecedor número de 46 milhões de abortos realizados por ano no planeta e, não raramente, a mulher paga com a própria vida o ato do aborto, pois, desesperadas, assumem o risco de interromper a gestação acreditando que será um mal menor.
   A cultural do local influencia diretamente as leis e a decisão da mulher sobre o aborto, pois, nos países que não prestigiam culturalmente o pleno direito à vida, a questão do aborto ficará sempre refém da consciência da mulher. Lei criminal alguma impedirá de fazê-la o aborto na clandestinidade.


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

sábado, 7 de abril de 2012

Síndrome leopoldiana - artigo - Diário do Nordeste

O desejo de dominar os demais no sujeito produz comportamento atípico que é capaz de surpreender até os mais experientes. O genocídio ocorrido no território do rio Congo, na África, no final do século XIX, em que 10 milhões de africanos foram barbaramente assassinados e que foi patrocinado pelo rei da Bélgica, Leopoldo II, fornece elementos importantes para estudarmos o comportamento e a perversidade humana em sua plenitude. O jovem rei Leopoldo II sonhava encontrar terras devolutas para ampliar o seu reinado e descobriu as riquezas do Congo, até então inexplorado. Para dominar as tribos negras africanas naquela plaga, fundou um movimento para "libertação dos escravos" e proclamou-se humanista e filantropo, mas enganou a muitos da comunidade internacional que lhe depositaram apoio, pois o seu real objetivo era explorar os congoleses e retirar-lhes todas as suas riquezas minerais e, especialmente, o látex e o marfim. Em Serra Leoa, também na África, no século XXI, os diamantes vêm provocando discórdias e guerras entre as tribos locais e mais uma vez os africanos são explorados e mutilados pelos comerciantes dessa pedra preciosa. Os diamantes de sangue, como ficaram conhecidos, são negociados com os africanos a preço vil e/ou trocados por armamento de guerra obsoleto, proporcionando assim a formação de guerrilhas tribais e impedindo qualquer esperança de paz. A crueldade no sujeito e na civilização sempre existiu, mas houve um aumento considerável nos casos de genocídio após a Peste Negra, na Idade Média, na Europa, em que quase metade da população pereceu, supostamente por envenenamento da água - depois veio a Inquisição até os dias de hoje. Extermínios em massa tornaram-se a solução para os "conquistadores" do planeta, daí os regimes totalitários não prestigiarem o direito à vida e à dignidade humana, inclusive recorrendo à pena de morte como ferramenta para se manter a ordem - estatísticas apontam que 100 milhões de pessoas no mundo foram assassinados durante regimes comunistas no século XX. A síndrome leopoldiana age inconscientemente no governante levando-o a sentir prazer em ser temido e insaciável, mas como um esquizofrênico, não se preocupa com o sofrimento e o bem-estar dos demais, pois para o leopoldino somente o seu gozo interessa.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista