Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Má notícia dá depressão - Observatório da imprensa


Má notícia dá depressão
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Por Luís Olímpio Ferraz Melo em 27/10/2009
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Num dos cantões da Suíça, no início do século 20, após acordo com a mídia para não mais divulgar os alarmantes casos de suicídio – pois notou-se que a cada divulgação os casos aumentavam consideravelmente –, houve redução de 90% nos índices desse hediondo crime contra a vida e uma pergunta ficou no ar: quem da mídia estaria disposto a se responsabilizar pelos suicídios cometidos antes do acordo? Até hoje não houve resposta.
Há provas materiais e empíricas de que o que se ler, ouvir e assistir pode influenciar no estado emocional e mental do sujeito e de toda a sociedade. O livro Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, o gigante do Romantismo, foi na época proibido em diversos países devido ao assustador número de suicídios que vinha causando entre os seus inúmeros leitores. Talvez Goethe nem imaginasse que a sua obra causaria tanto desequilíbrio. A música Domingo solitário foi vetada em parte da Europa por indiretamente levar os ouvintes a estados melancólicos e depressivos e não raramente ao suicídio. As letras das músicas compostas pelo vocalista e genial Renato Russo são inigualáveis e admiráveis, mas ele cantarolava somente em estado de melancolia e depressão e, sem saber, seus intermináveis admiradores acabavam e acabam "absorvendo" o sofrimento dele e ficavam e ficam melancólicos e depressivos com a tragédia alheia.
Na psicanálise, o nome deste fenômeno é contratransferência, ou seja, quando o sujeito vivencia o sofrimento do outro; no caso em tela, a depressão e a melancolia. A imprensa vem se notabilizando na superexposição de fatos pejorativos e deprimentes, tais como a glorificação da violência urbana e o sensacionalismo dos telejornais. A fissura pelo "furo" e o faturamento desobedece à regra do bom-senso e da higidez mental. O ouvir, ler e ver devem ser qualificados, pois quem não observar essa regra de ouro é forte candidato a ter transtornos emocionais. Alguns programas televisivos e antiéticos poderiam ser comparados à tortura mental e ao terrorismo, pois além das malfadadas imagens, seus apresentadores gritam sem necessidade, numa auto-denúncia de desequilíbrio.
A imprensa, sem saber, contribui para produzir uma sociedade ansiosa, melancólica e depressiva, pois os fatos são superdimensionados e as exibições repetitivas nos noticiosos são por demais maléficas para a mente humana. Não é por acaso que os ansiolíticos e antidepressivos lideram o ranking das vendas da bilionária, obscura e cruel indústria farmacêutica. Frisem-se, estes remédios não curam, apenas "controlam" os efeitos; mas isto, que é grave, não é pauta de notícia na mídia.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

População míope - Artigo - Observatório da imprensa


MÍDIA & DEMOCRACIA
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População míope
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Por Luís Olímpio Ferraz Melo em 20/10/2009
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Neste momento, na América do Sul, orquestram os híbridos governantes uma uniformização da imprensa ao modelo deles, ou seja, castrada e manipulada, que tenha olhos somente para as coisas positivas de seus governos – se é que existem. Deveria ser a pauta principal do jornalismo sul-americano essa investida contra a liberdade de imprensa e de expressão, pois a imprensa, mesmo capenga e cheia de mazelas, ainda consegue mostrar os desatinos dos governantes. O totalitarismo surge da desarticulação da sociedade civil e na total descrença nas autoridades. Daí, "surge" um salvador que, coincidentemente, é sempre totalitário e prega igualdade e democracia, mas ao modo dele.
Imagine a alienação da minoria da população consciente que teve a felicidade de ter acesso à educação se não fossem as divulgações dos sucessivos escândalos do Senado federal na Era Sarney? A corrupção nos três poderes da República é algo inenarrável e, pior, a população perdeu a capacidade de se indignar e até acha "normal". O crime organizado aproxima-se de engolir o tal Estado democrático de Direito que ninguém sabe ao certo o que quer dizer isto, e há hoje no país um poder paralelo que o próprio Estado não tem força nem tampouco vontade política para enfrentar. Membros de Tribunais Superiores de Justiça já foram pilhados pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal com ligações criminosas e desonrosas para com a nobilíssima classe dos magistrados, mas ficou por isto mesmo e ninguém enxerga que o problema somente se agrava se não forem tomadas atitudes rigorosas.
A população carente e sem instrução fica à míngua de ilusões e sem conseguir enxergar que estão todos sendo manipulados e que o que os governantes menos querem é resolver os problemas, pois o objetivo principal é a eternização no poder a qualquer preço. Estamos à beira da convulsão social, pois a violência urbana desafia o Estado e não há qualquer esperança de reversão. Crianças, adolescentes e jovens que nascem e crescem sem dignidade se vêem desesperados e, sem qualquer perspectiva de melhora de vida, estão ingressando sem retorno no submundo do crime e das drogas.
A imprensa somente divulga o que lhe interessa e é sempre prudente desconfiar de tudo que se lê, pois, sem disfarce, há, aqui e acolá ideologias brotando em plantações midiáticas.
A solução para as questões cruciais da sociedade passa pela "correção" médico-cirúrgica da miopia da população.
Não há elementos válidos para negar que o Partido dos Trabalhadores traiu a pátria e que seus membros e ex-esquerdistas furtaram a esperança do povo. Traição dói, mas como ensina...

domingo, 18 de outubro de 2009

Antidarwinismo: o Morro dos Macacos


Fonte: Correio Popular.

Anatomia do amor - Artigo - Diário do Nordeste


Debates e idéias

Anatomia do amor

*LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
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Ninguém sabe a "fórmula" para os relacionamentos prosperarem, mas já se sabe o que os inviabilizam: mentira e traição. Exigem honestidade e lealdade do outro, mas muitos não estão dispostos a darem a contrapartida, o que acaba sendo contradição. Sujeitos com décadas de casados afirmam conhecer seus cônjuges apenas 10%, mas isto é uma visão por demais otimista, pois relacionamento é uma construção diária e não há relacionamentos e pessoas prontas. Queixam-se dizendo que relacionamento é sinônimo de problema, mas não conseguem viver fora dos mesmos e sofrem com isto. Poder-se-ia estabelecer a regra de ouro nos relacionamentos: não exija do outro o que não puder oferecer. O amor, como nos livros do Romantismo, não existe, pois relacionamento é admiração, lealdade, cumplicidade, companheirismo e respeito mútuo. Confiança é à base dos relacionamentos e se não houver, dificilmente haverá qualidade ou continuidade no relacionamento. O sofrimento causado no término dos relacionamentos dá-se mais pelo anacrônico e ilusório juramento: juntos até que a morte os separe; mas na contemporaneidade a morte não tem sido empecilho para as separações. Relacionamentos baseados apenas no sexo, estão fadados à derrocada, pois além de passageiros e superficiais, deixarão sequelas. Crimes passionais acontecem por causa da cultura machista, mas em algumas outras é permitido e até exortado a infidelidade e a poligamia e é contradição esse "moralismo" tupiniquim, pois os adúlteros querem ter o direito de apedrejar as adulteras. O fantasma da traição ronda sem tréguas os relacionamentos, mas muitas vezes não passa de memórias de sofrimentos vistos em algum momento da vida e que provavelmente nunca vá se materializar. As pessoas estão com medo uma das outras por conta do "risco" de traição, mas há grande exagero nas historietas que circulam nos meios sociais.
*Psicanalista

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O obscuro Berlusconi - Observatório da imprensa


POLÍTICA & CORRUPÇÃO
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O obscuro Berlusconi
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Por Luís Olímpio Ferraz Melo em 12/10/2009
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O premier Silvio Berlusconi teve a sua imunidade revogada pela Justiça italiana. Berlusconi chegou ao poder em 2001, trazendo consigo muita polêmica e denúncias em relação à sua vida pregressa, inclusive de ter tido ligações com a máfia. Berlusconi somente consegue se manter no cargo de premier devido à sua forte atuação nos meios de comunicação, pois o seu império na mídia eclodiu em 1980, quando ele e seu grupo financeiro, a Fininvest, inauguraram o Canal 5, que tem abrangência em quase toda a Itália. Mas não ficou somente nisto e, entre 1983 e 1984, Berlusconi adquiriu outros canais e, mesmo com denúncias de monopólio na mídia, tudo foi corroborado por lei promulgada em 1990 – seu grupo é hoje o maior da mídia privado na Itália.
Berlusconi é um sujeito controverso e polêmico e parece andar – ou andava – acima do bem e do mal, pois mesmo após ser pilhado em orgias com meretrizes e a sua ainda não explicada separação conjugal – na qual o pivô teria sido uma adolescente filha de um amigo seu –muy amigo, esse, – ele age como se nada tivesse acontecido e que todos concordassem com o comportamento dele envergonhando seus dignos compatriotas.
Há algo de podre no governo da Itália. Num admirável artigo, "O Brasil e os métodos da Máfia", de 20 de julho de 2009, o ex-juiz de Direito Walter F. Maierovitch deu a senha de que Berlusconi pode ter virado a mira de um escândalo bem maior do que se imagina. Coincidentemente, após isto, a Justiça italiana iniciou e mobilizou em tempo recorde processo para revogar a imunidade de Berlusconi e provavelmente ele irá voltar ao banco dos réus. Maierovitch cita no seu artigo que o nome de Berlusconi voltou a ser citado, pois seu nome figuraria numa carta da máfia que o acusava de traição e ameaçava seqüestrar e executar o seu filho. O processo a que refere o artigo em tela diz respeito à máfia italiana e também indiretamente a morte dos honrados juízes anti-máfia Giovanni Falcone e Paolo Borselino, executados ambos em 1992 pela máfia. Borselino, antes de morrer, escrevia em uma agenda vermelha as ligações da máfia com a política e os políticos italianos e por ocasião da sua morte, numa emboscada explosiva, somente a tal agenda foi subtraída dos seus pertences.
Muitos políticos na Itália estão sendo processados por terem ligações com a máfia e não é por acaso que a Justiça se mobilizou para revogar a imunidade de Berlusconi. Na última sexta-feira [9/10], numa entrevista coletiva, Berlusconi foi "traído" pelo inconsciente e disse que deu propina a juízes. Depois tentou consertar e disse que pagou foi a advogados.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Igreja, a imprensa e a contradição - Observatório da imprensa


MÍDIA & RELIGIÃO
A Igreja, a imprensa e a contradição
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Por Luís Olímpio Ferraz Melo em 6/10/2009
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Tradicionalmente, a Igreja Católica é contrária à liberdade de pensamento e de expressão – basta ver as retaliações históricas cometidas para impedir o deslindar do pensamento humano. Desde os "Índices dos livros proibidos" até as condenações na "santa inquisição" para os que liam demais, a Igreja Católica provou que temia a comunicação em massa. Porém, o santo papa Pio 10 disse certa feita: "Coloquem em minhas mãos a imprensa, e eu converterei o mundo", mas como Pio 10 faleceu em 1914, antes da eclosão da primeira guerra mundial, quando os meios de comunicação ainda estavam em fase de transição para a inevitável globalização, talvez o clérigo estivesse prevendo o poder que a imprensa exerceria junto à opinião pública no século 20 e seguintes.
O que era motivo de medo no passado para a Igreja Católica, ou seja, o esclarecimento em massa da civilização e a pluralidade de opiniões acabaram sendo hoje a maior aliada das religiões – não somente da Católica –, pois quase toda igreja está vinculada a grupos de comunicação de massa – televisões, rádios e jornais –, o que acaba por fazer desvio de finalidade, pois em sendo à transmissão de televisão e rádio concessões pública que deveriam atender ao interesse público não poderiam ser vinculadas a qualquer religião. A Constituição Federal disciplina as concessões de televisões e rádios que devem ser usadas para a educação, o bem-estar da família e da sociedade e o Brasil sendo país laico não pode se curvar aos grupos de pressão religiosos para conceder esse instrumento valioso para outra finalidade que não sejam as estabelecidas na constituição.
É assustador a grade das televisões com programas religiosos querendo catequizar a humanidade com homilias e adorações a santos e a deuses carentes; ainda há charlatões teatralizando milagre de curas impossíveis que acabam machucando e desrespeitando o sentimento das pessoas ingênuas que caem nessas armadilhas televisivas e perdem suas minguadas economias nas mãos desses clérigos desumanos e antiéticos. A imprensa e seu status de quarto poder têm o papel inegociável de mostrar os dois lados – sem acreditar em nenhum – desse jogo obscuro e alienador que é a propagação da religiosidade na mídia.
Não podemos esquecer o que disse Napoleão Bonaparte: "É mais perigoso quatro jornais do que cem mil baionetas." E em todas as reformas, movimentos e revoluções, até hoje a imprensa teve papel decisivo para elucidar e colocar para os seus consumidores os fatos para que estes pudessem decidir e formar suas opiniões, portanto, abram os olhos para o perigo da conversão onerosa em massa.

domingo, 4 de outubro de 2009

Vida de escritor - Artigo - Diário do Nordeste


Debates e idéias

Vida de escritor

Pensam que é fácil a vida de escritor, mas é equivoco, pois não é confortável escrever coisas que despertam sentimentos, daí haver até acervo literário inédito nas escrivaninhas caseiras apelando por coragem dos autores para publicação. Guimarães Rosa era médico antes de se revelar brilhante escritor e quando seus pacientes diziam que dinheiro não tinham, ele os pedia que lhe contasse um conto ou recitasse um poema, como pagamento. Todo escritor e poeta vive na "vitrine" da vida ouvindo elogios e criticas, alguns curiosos e até engraçados, mas assim como quem canta seus males espanta; quem escreve não se aborrece ou se entristece com os que não o reconhece. O mago Paulo Coelho é o mais criticado e invejado; também pudera, é um dos que mais livro vende e quem não o alcançar, escrevendo ou lendo, vive a reclamar. O genial Pablo Neruda admoestou o carteiro bairrista por ter plagiado um de seus poemas para conquistar uma bela donzela, mas o feliz estafeta copiador teria lhe dito que a poesia não é de quem a faz, mas sim, de quem dela precisar. Os cordéis eram gratuitos, mas depois virou fonte de renda segura para os autores, porém, a autoria era o que menos importava, pois a importância dada às boas tiradas, preço algum pagava. Patativa do Assaré, homem da caatinga, analfabeto, manifestação popular em pessoa, produziu poemas brilhantes e projetou-se internacionalmente sem qualquer esforço. Seus poemas pareciam jorrar de manancial sagrado, algo que foge a nossa singela compreensão da vida e do universo. Patativa devia ser egresso do parnaso ateniense, de onde se revelaram os maiores poetas; honras a esse desbravador literário e sem estudo, mas que ainda hoje é estudado por grandes letrados. Ninguém jamais saberá ao certo o que há na alma do escritor e do poeta, pois estes escrevem o que sentem e acreditam, sem se importar com o que os outros possam pensar.
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LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO - Psicanalista