Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

domingo, 26 de junho de 2011

Análise de um livro - artigo - Diário do Nordeste


De todos os livros lidos, alguns me chamaram mais a atenção e hoje quero falar sobre um destes. O escritor escreve com independência e enfrenta temas delicados com coragem e sem rodeios, além de ter boa erudição, enfim, merece ser lido. Falo do intelectual francês Jacques Attali que é fundador do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (Berd); e ex-conselheiro do presidente Francês François Mitterrand. Attali é judeu de origem algeriana e um dos mais brilhantes escritores da contemporaneidade e no seu livro, publicado no Brasil pela editora Saraiva, "Os judeus, o dinheiro e o mundo", com prefácio do rabino Henry I. Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, conseguiu, sem demérito para com os demais, escrever a saga dos judeus no mundo e a sua ligação com o dinheiro como nenhum outro escritor. Attali mostra a origem da riqueza dos judeus, os livros que possuem, a formação societária dos bancos e das bolsas de valores, os financiamentos de guerras, a importância do petróleo na geopolítica, os motivos das várias expulsões dos judeus, a razão do injusto ódio aos judeus, a participação dos judeus na mídia, nas revoluções, na maçonaria, a criação do socialismo judaico, a questão da Palestina, a origem do sionismo, etc. Attali deu, com equilíbrio, uma contribuição extraordinária para a civilização, pois outros livros sobre os judeus e o judaísmo, escritos antes do terrível holocausto, vinham com vestígios de preconceito e/ou eram destemperados. O livro de Attali traz o fio condutor para se entender como os judeus comandam as finanças do mundo e a sua influência nos governos que tanto precisam dos seus serviços de usurários para se desenvolverem e se defenderem militarmente. Attali traz à tona o importante debate da questão judaica e os empréstimos com juros realizados pelos judeus por toda a história da civilização, e faz alerta ao perigo de se continuar com o endividamento dos países por conta da usura. Ao término da leitura, veio-me à mente a passagem bíblica dita por Jesus Cristo: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"...



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

sábado, 18 de junho de 2011

Complicado é o outro - artigo - Diário do Nordeste


A complexidade de qualquer relação produz comportamentos que nem sempre são notados pelos envolvidos; e há tendência natural de se colocar a culpa - ou a responsabilidade - por qualquer deslize, no outro. Porém, tem-se observado, em certos casos, maturidade de alguns que reconhecem suas questões psicológicas em aberto e chegam a dizer: "não tem quem me suporte", ou, "nem eu me aguento". Dentro de qualquer relacionamento podem surgir, involuntariamente, sentimentos inconscientes reprimidos e que devem ser trabalhados, como a inveja, por exemplo. Vê-se também com frequência o desejo de vingança velada: "se ele - ou ela - pode, eu também posso", como se o relacionamento fosse uma competição em que uma das partes tivesse que sair necessariamente vencedora. No período anterior ao ciclo menstrual, acontecem modificações naturais consideráveis na mulher, ficando ela passível de irritações e oscilações no humor, entre outros sintomas. A questão financeira desfavorável é crucial no desequilíbrio do homem, podendo, muitas vezes, levá-lo à impotência sexual momentânea. Portanto, essas complicações são compreensíveis e aceitáveis, tanto num, como no outro. No entanto, não há mais tolerância nos relacionamentos, pois a cultura do individualismo na sociedade contemporânea não permite que uma das partes ceda quando há divergências em prol da relação. O mal-estar na modernidade se dá na questão dos relacionamentos afetivos, pois basta observar a quantidade de separações e divórcios por motivos relativamente simples que, em outrora, seriam facilmente contornados. Vivemos numa época de competição - no sentido mais amplo da palavra -, em que o sujeito tem que ser o melhor em tudo, mas isto provoca sofrimento e fragiliza os relacionamentos dando margem para questionamentos que nem sempre levam o casal à satisfação. As pessoas são atraídas para os relacionamentos por fenômeno anterior ao nascimento, ou seja, nenhuma relação é por acaso... - e muitos enxergam e se projetam no outro o seu reflexo. A regra de que os opostos se atraem não é absoluta quando o tema é: complicado é o outro.


 

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

sábado, 11 de junho de 2011

Paz na Palestina - artigo - Diário do Nordeste

Surgem propostas para a criação do Estado Palestino nos moldes do de Israel e com as fronteiras anteriores às da "Guerra dos Seis Dias" de 1967, entre Egito e Israel. O real motivo de Israel nesta guerra era buscar recursos hídricos - água - de que tanto precisam os israelenses, pois seu solo é castigado pela seca e a agricultura é cultivada por gotejamento e, para isso, a água usada é desalinizada do mar da Galiléia. A doutrina do sionismo, fundada por Teodoro Herzl (1860-1904), que esteve apenas uma vez na Palestina, diz, em apertada síntese, que somente num Estado Judaico os judeus estariam seguros, mas essa tese não é unanimidade na comunidade judaica, uma vez que dos estimados 14 milhões de judeus existentes no mundo, apenas 5.640.000 residem em Israel. A fundação do Estado de Israel em 1948, com o apoio da Organização das Nações Unidas - ONU -, criou um conflito permanente no Oriente Médio entre os judeus e os palestinos que poderá prejudicar de forma reflexiva toda a civilização. David Ben Gurion, fundador do Estado de Israel e seu primeiro primeiro-ministro, sabia que não era legítimo expropriar a terra dos palestinos, tanto o é, que deu na época uma declaração espantosa acerca desse tema: "Se eu fosse um líder árabe, nunca assinaria um acordo com Israel. É normal: nós tomamos o país deles. É verdade que era uma promessa de Deus, mas o que eles têm a ver com isso? Nosso Deus não é o deles. Houve o antissemitismo, Hitler, os nazistas, mas no que isso lhes diz respeito? Para eles, existe uma única coisa: nós viemos e roubamos o país deles. Por que eles aceitariam isso?" (citado em Roudinesco, 2010). Sempre que se fala no conflito na Palestina lembra-se da solução encontrada pela União Soviética que se dissolveu sem maiores traumas transformando-se na Rússia. Somos todos irmãos e precisamos da paz e a questão judaica com os Palestinos precisa de uma solução pacífica; e seguindo as palavras do eminente rabino John Rayner de Londres citando a fonte clássica do Avont de rabbi Natan, disse: - "Quem é o maior herói? O que transforma um inimigo em um amigo".



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

domingo, 5 de junho de 2011

A tradução na religião - artigo - OPOVO

   O leitor já sabe que somente no século XVI apareceram os primeiros dicionários bilíngues – 1580, francês-inglês; 1591, espanhol-inglês; 1596, francês-alemão, 1598, italiano-inglês, etc. –, daí não se saber ao certo como foram traduzidos os textos bíblicos antes deste período para o inglês, por exemplo. Os famosos 72 eruditos se reuniram em Alexandria, no Egito, para traduzir o Antigo Testamento para o grego, dando origem à versão da bíblia conhecida como Septuaginta. Na Europa moderna, até 1699, a Bíblia já havia sido traduzida para 51 línguas e os erros de tradução e adaptação ficaram mais visíveis com o auxílio dos dicionários bilíngues. A maioria dos livros traduzidos em toda a história é de cunho religioso, assim, dos 450 textos traduzidos pelos jesuítas até 1.700 para o chinês, 330 eram religiosos.
   Traduções mudaram boa parte da história da Bíblia, exemplo: Iñigo era um nobre basco e foi ferido com uma bala de canhão, em 1521, na Batalha de Pamplona. Iñigo coordenava a festa de San Fermin que se dá no mês de julho; e gostava mais de corrida de cavalos do que das missas na Igreja Católica. O fato é que Iñigo durante sua convalescência leu dois textos devocionais: a Legenda áurea, de Jacob Voragine, e A vida de Cristo, de Ludolfo da Saxônia. Na montagem da história e nas traduções sobre o soldado Iñigo, benevolentemente ele foi transformado em Santo Inácio de Loyola. Se não fosse essa “mãozinha” dada na interpretação e na tradução de Iñigo, é difícil acreditar que ele seria hoje Santo Inácio de Loyola.
   Os jesuítas, quando foram à China converter os chineses ao Cristianismo, tiveram muita dificuldade na tradução para o mandarim e algumas palavras foram adaptadas à cultura chinesa para que houvesse a compreensão – no Japão, por exemplo, a palavra Deus ficou como intraduzível, pois não havia similar na escrita nipônica.
   As adaptações nas traduções não se restringiram somente as da Bíblia, pois os clássicos também foram alcançados, exemplo: Arte della guerra, de Maquiavel, transferiram na tradução o diálogo que se deu na Itália para a Espanha e converteram os personagens italianos em espanhóis. Galileu também penou com as traduções de seus livros, pois queria universalizá-los traduzindo para diversas línguas, inclusive resistiu, mas autorizou a tradução da obra para o latim sob sua supervisão para evitar “interpretações” diversas. A Bíblia é o livro mais vendido do planeta, mas tem mais ouvintes do que leitores em suas diversas traduções e interpretações.

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.