Meu novo livro: Novas abordagens

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quarta-feira, 31 de julho de 2013

É a sociedade que alimenta a violência de que tanto reclama - artigo - Diário do Poder (diariodopoder.com.br)

   Os violentos atos de vandalismo nos protestos pelo Brasil afora mostram o desejo de alguns de extravasar suas pulsões reprimidas de agressão, mas alguns estão ali manipulados por “grupos de pressão” ainda não identificados que têm teleologia desconhecida. A violência dá prazer em quem a pratica, pois ninguém faz nada sem sentir prazer, salvo sob coação. A “glorificação” das lutas do UFC/MMA na televisão é a prova cabal de que alguns dos nossos telespectadores são masoquistas, pois assistir à pancadaria e ao sangue derramando pode estar dando prazer neles. Curiosamente as salas dos cinemas lotam quando os filmes são de ação — eufemismo para violência descomedida —, revelando cinéfilos ávidos por violência, mas que reclamam sem parar da violência no cotidiano das cidades.
   A descoberta das pulsões por Sigmund Freud (1856-1939) — traduzida erroneamente do alemão “Trieb” para “instinto” pela escola inglesa e somente depois descoberto o erro —, ajuda a entender várias situações de violência do cotidiano individual e coletivo, exemplo: a violência no futebol. Há uma explicação psicanalítica para a batalha no futebol antes, durante e depois das partidas, pois na linguagem bélica utilizada nesse esporte vê-se a pulsão de agressão e a de dominação, pois há nos times o “capitão”, o “artilheiro”, jogadas são “armadas”, há também a “morte súbita”, o “mata-mata”, o “mando de campo”, as “barreiras”, o “domínio” da bola, o “tiro de meta”, a “defesa e o ataque”, as “estratégias e táticas”, a “bomba” para designar um chute forte e os “gritos de guerra” das torcidas e dos jogadores.
   Sem saber, talvez, a sociedade alimenta a violência de que tanto reclama e chora sem parar quando atinge algum de seus entes queridos. A violência cotidiana é uma questão cultural, mas não há evidências de que haja o desejo coletivo de exterminá-la por completo...


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

sábado, 20 de julho de 2013

A culpa é da religião? - artigo - Jornal OPOVO


   A religião tem sido apontada como responsável pelo aparecimento do “sentimento de culpa” no sujeito, mas essa questão parece ser anterior aos rituais religiosos. A maioria das pessoas está “presa” ao passado, remoendo situações que não poderão mais ser modificadas e se sentindo “culpadas” por algum ato que em certo momento julgou ser “errado” ou “imoral”.
   A culpa, na maioria das vezes, não tem uma lógica, pois há queixas de sentimento de culpa que nada têm a ver com o sujeito. O historiador grego Heródoto (485-420 a.C) relata um ritual antiquíssimo de autoflagelo conhecido como “A festa de Ísis em Busíris”, em que grande número de pessoas se açoitava a si mesmo, como existe ainda hoje em alguns países esse ritual da lapidação ou do autoflagelo que, supostamente, libertaria as pessoas da culpa e do pecado.
   No ano de 590 d.C., o papa Gregório, o Grande, transformou oito tentações nos famosos sete pecados capitais, mas na verdade não são pecados, mas, sim, vícios e representados na figura alegórica do diabo, exemplo: avareza (Mammon); ira (Satã); inveja (Leviatã); gula (Belzebu); luxúria (Asmodeu); orgulho (Lúcifer); preguiça (Belfegor), pois a intenção da Igreja era tornar excessos em pecados, mas acabou enchendo a mente humana de sentimento de culpa.
   O psiquiatra suíço Eugen Bleur (1857-1939) forjou o termo esquizofrenia e nas suas pesquisas afirmou que o sentimento de culpa era anterior ao berço, sugerindo que a religião poderia somente aumentá-lo, já que não era a causa.
   Michel Foucault (1926-1984), no seu livro História da loucura, cita um caso clássico de um melancólico atormentado pelo sentimento de culpa e a encenação bíblica é recorrida para salvá-lo do seu sofrimento: “(...) Lusitanus narra assim a cura de um melancólico que acreditava danado, desde sua vida terrestre, por causa da enormidade dos pecados que tinha cometido. Na impossibilidade de convencê-lo através de argumentos razoáveis, segundo os quais ele poderia salvar-se, aceita seu delírio, e faz com que apareça um anjo vestido de branco, espada na mão, que, após severa exortação, anuncia-lhe que seus pecados foram redimidos”.
   A questão da culpa foi inserida na cultura por motivos desconhecidos, mas é apenas uma questão cultural, pois, em alguns casos, o que pode ser considerado repreensivo e imoral numa, noutra pode não ser. Não encontrei, até o presente momento, qualquer utilidade para o sentimento de culpa, pois a sua existência é desnecessária, evitável e curável...

 

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista e autor do livro Psicanálise para todos.