Bruce, descanse em paz
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Há quase dez anos escrevi artigo neste matutino, Elian, ore por nós, 24/11/2000, em que dissertava sobre o assassinato da jovem Elian de 17 anos, num campus universitário, em dia de vestibular. Poderia ter sido apenas mais um homicídio que entraria para a estatística da violência urbana, porém, a jovem Elian estava prestando exame vestibular num domingo ensolarado. No dia imediato, conjuntamente com meus colegas, então estudantes de Direito, iríamos realizar um seminário sobre a violência urbana que, por motivos óbvios, foi cancelado. No último domingo, novamente assistimos outra tragédia envolvendo jovem, no caso, Bruce Cristian, de 14 anos. Também como a tragédia de Elian, a de Bruce quase entraria apenas para a assustadora estatística da criminalidade, mas aquele jovem que trafegava de volta para casa na garupa da moto do pai, após um dia de trabalho num dia de descanso encerrou a vida de forma inimaginável. A cena do desespero do pai deitado ao lado do corpo do jovem Bruce, exaustivamente exibida pela mídia, não mais sairá de nossas mentes. É difícil imaginar a dor daquele pai naquele momento de desespero e, talvez, o mais dramático para um pai, perder o filho, ainda mais quando este estava sob sua proteção e ele nada pôde fazer para evitar a tragédia.
A violência urbana a cada dia chega mais perto de qualquer um e os índices alarmantes de homicídios, levam-nos a pensar que vivemos no Brasil uma guerra não declarada. Lamentavelmente, a sociedade “acostumou-se” com a violência e daqui a alguns dias ninguém mais falará sobre esse triste e trágico episódio.
Num belo domingo, ceifou-se a vida da jovem vestibulanda Elian; noutro domingo, dez anos depois, também ensolarado, foi a vez do jovem Bruce partir, que numa demonstração extraordinária de bom filho, acompanhava seu pai num dia de trabalho, mas que era para ser de descanso. Descanse agora em paz, Bruce.
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Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.