Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

terça-feira, 27 de julho de 2010

Bruce, descanse em paz - Artigo inédito

Bruce, descanse em paz

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Há quase dez anos escrevi artigo neste matutino, Elian, ore por nós, 24/11/2000, em que dissertava sobre o assassinato da jovem Elian de 17 anos, num campus universitário, em dia de vestibular. Poderia ter sido apenas mais um homicídio que entraria para a estatística da violência urbana, porém, a jovem Elian estava prestando exame vestibular num domingo ensolarado. No dia imediato, conjuntamente com meus colegas, então estudantes de Direito, iríamos realizar um seminário sobre a violência urbana que, por motivos óbvios, foi cancelado. No último domingo, novamente assistimos outra tragédia envolvendo jovem, no caso, Bruce Cristian, de 14 anos. Também como a tragédia de Elian, a de Bruce quase entraria apenas para a assustadora estatística da criminalidade, mas aquele jovem que trafegava de volta para casa na garupa da moto do pai, após um dia de trabalho num dia de descanso encerrou a vida de forma inimaginável. A cena do desespero do pai deitado ao lado do corpo do jovem Bruce, exaustivamente exibida pela mídia, não mais sairá de nossas mentes. É difícil imaginar a dor daquele pai naquele momento de desespero e, talvez, o mais dramático para um pai, perder o filho, ainda mais quando este estava sob sua proteção e ele nada pôde fazer para evitar a tragédia.

A violência urbana a cada dia chega mais perto de qualquer um e os índices alarmantes de homicídios, levam-nos a pensar que vivemos no Brasil uma guerra não declarada. Lamentavelmente, a sociedade “acostumou-se” com a violência e daqui a alguns dias ninguém mais falará sobre esse triste e trágico episódio.

Num belo domingo, ceifou-se a vida da jovem vestibulanda Elian; noutro domingo, dez anos depois, também ensolarado, foi a vez do jovem Bruce partir, que numa demonstração extraordinária de bom filho, acompanhava seu pai num dia de trabalho, mas que era para ser de descanso. Descanse agora em paz, Bruce.

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Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.

domingo, 25 de julho de 2010

Desejo de controlar - Artigo - Diário do Nordeste

DEBATES E IDEIAS

Desejo de controlar



O alemão Karl Marx desconfiava que o anarquista Bakunin fosse um agente do serviço secreto russo, mas por outro lado, Bakunin acusava Marx de desejar, com sua doutrina obscura e totalitária, inclusive se relacionando com o secreto e antigo templo maçônico de Unique, controlar o proletariado. Assim como os comunistas elegeram os Estados Unidos como país imperialista e ditatorial, com alguma razão, os EUA, por sua vez, elegeram os comunistas como inimigos declarados da humanidade, pois denunciavam, não sem razão, que o comunismo desejava transformar o mundo numa prisão a céu aberto. Hegel desejava uniformizar o pensamento humano e assim fundar nova Igreja onde o deus seria o Estado totalitário; e foi com essas matrizes teóricas que Marx construiu as estruturas para o comunismo. No entanto, esqueceu Marx de combinar com a civilização se queria participar do seu totalitarismo, pois todos teriam que renunciar a liberdade de pensamento. Marx sabia que o seu movimento somente daria certo com a participação dos proletários na linha de frente e ele e a sua turma no comando, afinal, não há revolução sem líderes. Hitler pregava a prosperidade econômica na Alemanha e desejava dominar o mundo criando uma nova raça humana, a ariana, e conseguiu persuadir os seus patrícios, mas poucos sabem que a doutrina sanguinária hitleriana foi "elaborada" numa sociedade secreta, a Vril. Entra e sai governante nos países e vez por outra aparecem novos modelos de governos, mas há em todos o desejo de controle da população e a fissura pelo poder. É difícil acreditar que na Grécia antiga houve democracia, pois historicamente, naquela longínqua época, a quase totalidade de seu povo era composta de escravos analfabetos, daí não ser sábio imaginar que houvesse democracia em seara iletrada, pois somente pelo conhecimento é que um dia a humanidade se libertará e ficará a salvo de seus governantes. Os políticos não têm limites, pois gastam milhões de dólares para se elegerem alegando que é para ajudar o povo, mas isto é enganação, pois no fundo o desejo é de gozar sem limites no poder.

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
Psicanalista

sábado, 17 de julho de 2010

Análise imparcial - Artigo - Diário do Nordeste

Debates e ideias

Análise imparcial


Se você defender o Estado de Israel será rotulado de sionista, mas se for contrário, por qualquer que seja o motivo, será de antissionista, ou seja, numa ou noutra posição pode haver vestígios de preconceito. Com a fundação do Estado de Israel em 1948, os conflitos deixaram de ser esporádicos e se transformaram em uma tensão militar e termonuclear permanente com os países limítrofes onde atuam a Organização para Libertação da Palestina - OLP - e os seus dissidentes milicianos. Outros países extremistas islâmicos também desejam varrer Israel do mapa, pois não reconhecem o Estado de Israel e reivindicam como suas aquelas terras que são de todos. As atrocidades e o genocídio de Hitler nos seus campos de extermínio e de concentração na Alemanha com a sua malfadada doutrina nazista e antissemita, e o êxodo dos judeus que conseguiram fugir dos "gulag" e do regime comunista do também antissemita Stalin, na União Soviética, deram combustível para a doutrina do sionismo que, em apertada síntese, diz que os judeus somente estariam seguros se tivessem o Estado de Israel reconhecido, conforme veem na Bíblia. A Carta do Hamas e a da OLP acusam sem provas os judeus de estarem infiltrados em quase todas as organizações e de agirem por trás de eventos obscuros, daí as divergências sem sentido dos líderes religiosos entre uma e outra religião. Israel - em hebraico quer dizer: aquele que luta com Deus - é hoje potência militar, tecnológica e termonuclear e com o apoio dos EUA resistirá até as últimas consequências a qualquer tentativa de violação de seu Estado. Historicamente, o povo judeu é nômade e dos 14 milhões de judeus no mundo apenas 5.640.000 vivem em Israel, ou seja, os outros 60% estariam hoje em risco fora de Israel? Os judeus e o judaísmo devem ser respeitados por todos e deve-se repudiar pacificamente qualquer tipo de preconceito contra eles. No entanto, deve-se ter humildade para reconhecer que foi precipitada e sem debates, a instalação do Estado de Israel. A paz mundial implora por coragem para opiniões que desestimulem a guerra em prol da paz perpetua.

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
Psicanalista

sábado, 10 de julho de 2010

Da Comuna ao Kibutz - Artigo - Diário do Nordeste

Da Comuna ao kibutz



Em 18 de março de 1871, os franceses proclamaram a Comuna em desfavor do Estado e criaram uma nova forma de organização social em que os próprios partícipes se administravam de forma igualitária. A experiência com as comunas foi relativamente curta, pois os contra revolucionários reprimiram com banho de sangue essas searas. Os kibutzim em Israel apresentam-se de forma democrática onde todos trabalham e se revezam nas atividades cotidianas em plena igualdade. Muitos dos kibutzim resistem ao capitalismo, mas a pressão é muito grande e sempre há baixas de seus integrantes. Rousseau dizia, sem ser contestado, que a democracia somente seria possível em pequenos grupos; e a ideia de Estado privilegia apenas a elite dominante em desfavor dos que não tiveram acesso à educação e à oportunidade de trabalho. A experiência das comunas e dos kibutzim foram exitosas, mas outra e auspiciosa forma de vida comunitária encontra-se em pleno desenvolvimento no Ceará. Falo do assentamento em Jaguaretama, terra natal do médico dos pobres Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, onde não por acaso várias famílias convivem em harmonia e com o ideal da solidariedade e da caridade. A grande virtude desse assentamento é que se organiza naturalmente e sem conflitos de qualquer ordem. É ilusão acreditar que um dia haverá paz perpétua sem que haja igualdade de oportunidades para todos. Insistir em Estados é repetir erros já conhecidos, pois o desejo dos governantes é de "controlar" o povo e de gozar sem limites no poder. Em 25 de março de 1884, o Ceará libertou pioneiramente os escravos no Brasil; e o protótipo dos assentamentos de Jaguaretama pode ser exemplo para a redenção pacifica e definitiva da civilização. O sacrossanto direito à vida, à liberdade de expressão e à dignidade humana são inegociáveis na nova Era que já chegou... Ideias obscuras e que visem favorecimento individual, grupos de pressão e/ou de sociedades secretas devem ser rejeitadas no nascedouro, pois somente é manipulado quem se permite, ou desconhece a força do magnetismo do discurso demagogo, eloquente e sofismático.


LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
Psicanalista

sábado, 3 de julho de 2010

Conhecimento x crença - artigo - jornal OPOVO

Conhecimento x crença


Quem escreveu os livros da Bíblia sabia que se lidos repetidas vezes, tornar-se-iam “verdadeiros” muitos dos fatos ali narrados, pois há hibridismo cultural nos textos. A Bíblia é uma coleção de livros híbridos e poliglotas, pois há nela lendas, leis, poesia, profecias, filosofia e história relatada e absorvida de várias culturas. O hibridismo é também notado na questão das crenças e do manancial de informações que forneceu aos demais textos, após o Antigo Testamento. Assim como o Cristianismo, o Islamismo, que tem como livro sagrado o Alcorão, absorveu e recepcionou boa parte do Antigo e do Novo Testamento, ou seja, as três principais religiões do mundo – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo – reconhecem a Bíblia como texto sagrado. Seria uma atitude obscurantista negar a importância da Bíblia para a civilização, mas a contradição maior, entre outras, é que, em sendo o livro mais vendido do planeta, é, por conseguinte, o menos lido, pois historicamente os livros foram mais ouvidos do que lidos e as tradições religiosas por muito tempo foram apenas orais.
A glorificação do sentimento de culpa começou a surgir no ano de 375 d. C, quando um monge prescreveu uma lista em que relacionava e considerava as oito tentações que deveriam ser evitadas pelo homem, sob a crença de uma pena de punição divina. O papa Gregório, o Grande, em 590 d. C transformou essa lista com as oito tentações nos Sete Pecados Capitais, os quais teriam como punição o fogo eterno do inferno. Os Sete Pecados Capitais gregorianos da Igreja Católica são na realidade vícios, representados na figura alegórica do diabo, exemplo: avareza (Mammon); ira (Satã); inveja (Leviatã); gula (Belzebu); luxúria (Asmodeu); orgulho (Lúcifer); preguiça (Belfegor), pois a intenção da Igreja era de moldar a humanidade de tal forma que esses excessos se tornassem pecados para quem os cometesse, mas o resultado saiu pela culatra, pois acabou enchendo a mente humana de sentimento de culpa, aliás, os pacientes portadores de transtornos mentais queixam-se sempre de forte sentimento de culpa. A crença numa punição divina imaginária é compatível à tortura mental, pois o sujeito fica “preso” ao passado e não consegue avançar.
Philippe Pinel identificou nos seus estudos, sem que haja contestação, a religião e os livros pios como prejudiciais à saúde mental, daí ter proibido nos hospitais franceses de Bicêtre e de Salpêtrère qualquer tipo de culto a crenças religiosas. É tentador imaginar que há mensagem velada nessa passagem Bíblica: Conhecereis a verdade – conhecimento – e a verdade vos libertará – das crenças.

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.