O jogo de
futebol entre o time do Ceará e o do Sport de Recife, na decisão da Copa do
Nordeste, no último dia 9 de abril, que terminou empatado em 1x1, no qual o
Ceará teve que se contentar apenas com o vice-campeonato, teve um público
recorde: 61 mil espectadores, segundo os organizadores do evento. No dia
imediato a partida, a operadora da Arena Castelão divulgou que 130 cadeiras
foram quebradas e outros atos de vandalismo que causaram avarias foram
registrados.
A rixa das
torcidas adversárias antes, durante e após os jogos mostra que o futebol tem
sido utilizado para se extravasar as pulsões de agressão e de dominação de
alguns torcedores, pois até na linguagem futebolística veem-se essas pulsões.
Os times possuem “capitão”, “artilheiro”; jogadas são “armadas”; há também a
“morte súbita”, o “mata-mata”, o “mando de campo”, as “barreiras”, o “domínio”
da bola, o “tiro de meta”, a “defesa e o ataque”; as “estratégias e táticas”; a
“bomba” para designar um chute forte e os “gritos de guerra” das torcidas e dos
jogadores.
Sigmund Freud (1856-1939) denominou de “narcisismo
das pequenas diferenças” todo conflito entre grupos, como nas torcidas de
futebol, pois no frigir dos ovos um quer ser melhor, mais forte e mais belo do
que o outro. Não pense o leitor que esses torcedores violentos não sentem
prazer quando estão brigando pelos seus times, depredando os estádios ou o que
encontram pela frente, pois ninguém faz nada sem sentir prazer, salvo sob
coação.
A Copa do
Mundo se aproxima, mas os torcedores cearenses estão longe do “Padrão Fifa” que
não admite violência e/ou vandalismo antes, durante e depois dos jogos. Mas se
nos jogos locais as torcidas já estão se digladiando sem limites, imagine
durante a Copa, quando os holofotes da mídia estarão transmitindo para o resto
do planeta as partidas. O que os “torcedores narcisistas cearenses” não serão
capazes de fazer para extravasar as suas pulsões de agressividade e de
dominação?
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista