Meu novo livro: Novas abordagens

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sexta-feira, 30 de maio de 2014

A lei penal na Bíblia - artigo - OPOVO

                                     

   Há na Bíblia sagrada 12 tipos de crimes que implicam na condenação de pena de morte: 1º, homicídio (Ex 21,12; Lv 24,17; Nm 35,16-21); 2º, rapto de alguém para venda como escravo (Ex 21,16;Dt 24,7); 3º idolatria (Ex 22, 19; Lv 20,1-5; Dt 13,2-19; 17,2-7); 4º blasfêmia (Lv 24,15-16); 5º descumprimento do descanso do sábado (Ex 32,14-15; Nm 15,32-16); 6º feitiçaria (Ex 22,17; Lv 20,27); 7º ofensas graves contra a família (Ex 21,15,17; Lv 20,8; Dt 21,18-21); 8º prostituição da filha de um sacerdote (Lv 21,9);9º adultério (Lv 20,10;Dt 22,22); 10º incesto (Lv 20,11-12,14,17); 11º atos homossexuais masculinos (Lv 20,13) e 12º bestialidade (Lv 20,15-16). Idolatria e blasfêmia eram consideradas as duas mais graves transgressões e os condenados deveriam ser apedrejados em praça pública — a pena de morte encontra-se na cultura judaica e é prescrita no Antigo Testamento ou Torá.
   O adultério era temido, pois, além da exposição pública do caso, toda a família do adúltero acabava sendo atingida. Porém, naquela época já existia o “jeitinho brasileiro”, pois a Torá que é o livro sagrado dos judeus proíbe o adultério que é punível com apedrejamento (Vayikra, 20,10), diz que o Rei David cometeu adultério com Bat Sheva esposa de Uriah, mas que não foi punido porque assim quis o Criador; e em, O Livro do Esplendor, o Criador complementa absolvendo David do crime consumado: “O que quer que David tenha feito, foi feito com minha permissão. Porque nenhum homem vai à guerra sem antes dar a sua esposa um ‘guet’ [carta de divórcio]” (Zohar, 133).
   99% dos assassinatos em nome de Deus estão no Antigo Testamento que registra o surpreendente número de 2.270.365 mortos — somente em Gerara, na Palestina, um milhão de palestinos foram assassinados em nome de Deus naquela época. Em compensação, no Novo Testamento há apenas três assassinatos em nome de Deus: o do rei Herodes, de Ananias e da sua esposa, Safira.
   A grande diferença do Antigo para o Novo Testamento foi o ensinamento de Jesus Cristo dizendo que Deus é amor e rompendo com a carnificina legal na cultura em nome de Deus, pois as leis penais eram, na verdade, leis de vingança e Deus era equivocadamente tido como cruel e vingativo. 
   Nos países de cultura muçulmana, a pena de morte ainda hoje é recorrente, pois o livro sagrado dos muçulmanos, o Alcorão, recepcionou o Antigo Testamento, mas cada vez mais os movimentos pela dignidade humana lutam para que se acabem de uma vez por todas com as penas capitais no mundo...



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista