Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

domingo, 30 de dezembro de 2012

A vez da paz perpétua - artigo - Diário do Nordeste


Mais um ano se encerra e a paz continua desprestigiada e parece ficar cada vez mais longe das prioridades da civilização. Os conflitos de toda ordem no homem, "guerras psicológicas" entre países, bem como o permanente conflito territorial milenar na Palestina produzem uma sensação de impotência diante do arsenal termonuclear existente e da capacidade e do desejo do homem de destruir seu semelhante. Exércitos inteiros se mobilizam diariamente nos continentes em exercícios militares alegando que são para proteger a soberania de seus países, porém, gastando bilhões de dólares que poderiam ser utilizados em prol da população carente. Acusações mútuas de invasões que nunca existiram e "criação" de inimigos perigosos - exemplo, o Osama Bin Laden - capazes de colocar em risco a segurança da civilização são alguns dos métodos de provocação utilizados entre as guerras para justificá-las. Existe, no máximo, cessar fogo, pois na história da civilização não há grandes períodos de paz.
Após as desastradas duas guerras mundiais, a civilização começou a perceber que por trás das guerras há sempre desejos obscuros de dominação e a história é escrita pelos vencedores que não têm compromisso algum com a verdade - nunca os perdedores são ouvidos. O terrorismo tem sido a justificativa para iniciar guerras que visam explorar petróleo e beneficiar os bancos e a indústria bélica. Há evidências de que alguns atentados terroristas são previamente planejados numa conspiração de "falsa bandeira" para incriminar inocentes, exemplo: o das torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001, nos EUA. A civilização é manipulada e quase nunca consegue ver a teleologia das guerras e dos grupos de pressão que operam nos bastidores... Somente o ódio e a loucura não justificariam as atrocidades cometidas durante as guerras, pois as populações ficam vulneráveis e desabastecidas e têm os seus bens expropriados e o direito à vida é suspenso. No limiar de uma nova Era nasce um tempo para se repensar a civilização e trazer de volta a pureza roussoniana da essência humana, pois, numa visão sociológica, o homem é produto do meio e se todos se auxiliassem na caminhada do progresso da espécie humana, não haveria mais justificativa para guerras e viveríamos numa kantiana paz perpétua...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 16 de dezembro de 2012

A cultura judaica - artigo - Diário do Nordeste



O povo judeu segue a Torá, ou Pentateuco, que são os ensinamentos religiosos contidos nos cinco primeiros livros da Bíblia hebraica - nela há duas visões contraditórias: a do determinismo divino e a do livre-arbítrio. A primeira Aliança judaica (brit, em hebraico) dá-se em Abraão (Gênesis 15,17) onde é prometida Canaã aos judeus sem que haja necessidade de cumprimento de mandamentos ou obrigações. Já no pacto mosaico, com Moisés, Deus impõe obrigações aos judeus para que as promessas divinas sejam consumadas e o descumprimento geraria castigos terríveis - outra Aliança foi feita com o rei David (pacto davídico) em que Deus teria lhe garantido a eternidade da sua dinastia em Jerusalém. A primeira destruição do templo judaico, em Jerusalém, deu-se no ano de 586 a.C., e a segunda foi provocada pelos romanos no ano 70 d.C. por causa do conflito com o povo filisteu e os judeus fugiram em Diásporas.
Os judeus foram escravos no Egito (Êxodo 20,2), mas Abraão já havia revelado essa predestinação de escravidão por 400 anos, mas que depois haveria a libertação (Gênesis 15,12-16). O início do antissemitismo na Bíblia se dá no Livro de Ester, quando no império Persa, Haman acusa os judeus perante o rei Akhashverosh de terem suas próprias leis e não respeitar o soberano e o rei é aconselhado a matar todos os judeus do império (Ester 3, 8-9). Há no judaísmo o modelo bíblico de pecado-punição para explicar as perseguições e o antissemitismo, inclusive, todas as segundas e quintas-feiras pela manhã, nas sinagogas, é rezada a Shabarit shel Hol, que diz: "Por causa de nossos pecados e devido às transgressões de nosso pais, Jerusalém e seu povo se tornaram uma vergonha entre todos os que nos cercam" - nos principais feriados judaicos é repetido nas sinagogas: "Por causa de nossos pecados, fomos exilados de nossa terra". O precursor do antissionismo religioso dentro do judaísmo foi o rabino húngaro Chaim Elasar Shapira (1872-1937), que recomendava que os judeus esperassem pacientemente a intervenção divina para retornarem à Terra Santa no período messiânico - os judeus ainda esperam o seu Messias. O Shabat é o dia do descanso semanal do povo judeu que simboliza o 7º dia da criação do mundo e o Yom Kippur (dia do perdão) é para os judeus o dia mais sagrado...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Controle da informação - artigo - Observatório da imprensa


Desde a impressora de Gutenberg, em 1450, a notícia vem sendo vergastada, pois já no ano de 1560, no Concílio de Trento, a Igreja Católica publicou o Índex dos Livros Proibidos tentando “controlar” o conhecimento e a informação. Livros eram apreendidos, queimados em praça pública e quem “lesse demais” ou possuísse obra proibida no Índex poderia parar na fogueira da Santa Inquisição. No ano de 1609, aparece a primeira Gazeta semanal, em Estrasburgo, na França – o primeiro jornal diário apareceria somente no ano 1660 –, mas foi preciso esperar até o ano de 1704 para a palavra “jornalismo” aparecer, também na França, no jornal de Trevoux, pois até então, os produtores das notícias eram conhecidos apenas como “homens de notícias” que coletavam informações nos mais variados locais.
A liberal Holanda, na Europa, se notabilizava por imprimir jornais, livros, panfletos sem que houvesse qualquer tipo de controle e/ou censura – inclusive, vários países produziam seus impressos em solo holandês para driblar o controle e a censura local, como foi o caso, em 1789, dos panfletos “subversivos” da França revolucionária.
Na Rússia, Catarina, a Grande, dizia que era bom que a população vivesse embriagada com vodca, pois assim seria mais fácil governar. Afinal, bêbado não se preocupa com notícias. Quanto mais distração e desinformação, melhor para os governantes, mas se houver controle da informação fica ainda melhor. Todos os regimes totalitários – comunismo, fascismo e nazismo – recorreram ao controle da informação por meio da censura – inclusive, tomaram de assalto os meios de comunicação por ocasião do golpe e/ou da revolução.
A desinformação também é uma forma velada de controle da informação. Exemplo: no regime do Vichy, na França, (1940-44) o regime nazifascista ensinava nas escolas história diferente da realidade dos fatos. Na China, o “livrinho vermelho” do regime governamental parecia ser o único a não ser alcançado pela censura.
O governo da Argentina vem perseguindo violentamente os meios de comunicação que não se alinham com a cartilha governamental, colocando em xeque a liberdade de expressão. Mas não é caso isolado, pois a Venezuela já fazia há tempos o mesmo controle da informação. No Brasil, o partido governante sempre se empolga quando surge algum novo modelo de controle da mídia, como parece ser o caso da Inglaterra, em que o recente relatório da comissão presidida pelo juiz Brian Leveson sugeriu que haja algum tipo de rédeas à mídia inglesa por conta dos sucessivos escândalos, mas sem prever qualquer possibilidade de censura prévia...


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Palestina na ONU - artigo - Observatório da imprensa



A mídia tem dificuldade de explicar para os leitores a realidade do conflito na Palestina, pois há muitas versões sem profundidade acerca de um mesmo fato. Os críticos de Yasser Arafat diziam que o processo de paz com Israel não evoluía na sua gestão à frente da Autoridade Palestina por causa da dificuldade de Arafat em falar a língua inglesa. Daí se vê como é complexa essa questão, que tem num mesmo território outras línguas, como o dificílimo hebraico e o árabe, bem como vários dialetos e patoás.
A decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) da quinta-feira (29/11), em reconhecer o Estado Palestino como observador, foi um grande passo para o cumprimento da Resolução nº 181, de 29 de novembro de 1947, em que ficou convencionado que haveria o Estado de Israel e outro Palestino – a Autoridade Palestina poderá agora recorrer ao Tribunal Penal Internacional para reclamar por violações cometidas por Israel. Na resolução nº 181, Israel deveria ter ocupado 51% da Palestina, mas já na guerra de tomada de posse, em 1948-49, que coincide com o fim do mandato britânico, ocupou 78% da Palestina expropriando as terras de 700 mil palestinos.
Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel lutou contra o Egito, a Síria e a Jordânia e ocupou ilegalmente a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, em Jerusalém Oriental, as Colinas do Golan, na Síria e o Monte Sinai, no Egito. O Conselho de Segurança da ONU, por unanimidade, determinou, na Resolução nº 242, de 22 de novembro de 1967, que Israel devolvesse as terras ocupadas que representam aproximadamente 20% – ou seja, Israel ocupa ilegalmente quase toda a Palestina.
O que não foi explorado pela mídia foram os reais motivos da Guerra dos Seis Dias, pois Israel tem problema gravíssimo de falta de água devido à seca severa e as fontes do Rio Jordão estão na Cisjordânia e concentram 30% da água da Palestina. Israel continua a construir ilegalmente em volta da Cisjordânia a “barreira de segurança” – os palestinos a chamam de “muro de anexação”.
Dos 14 milhões de judeus no mundo, apenas 5.640.000 residem em Israel e considerável parcela de judeus são contrários ao Estado de Israel, pois reconhecem as ilegalidades contra os palestinos e acusam os sionistas de terem aumentado o antissemitismo.
O reconhecimento do Estado Palestino levou Israel a promover retaliações contra os palestinos anunciando novos “assentamentos” e retendo 120 milhões de dólares devidos à Autoridade Palestina. A comunidade internacional e a ONU condenaram o comportamento de Israel, pois é um golpe fatal no processo de paz no Oriente Médio...


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

sábado, 1 de dezembro de 2012

A tradição inglesa - artigo - Diário do Nordeste



A tradição da "venda de esposa" nos mercados centrais da Inglaterra até o século XX foi tida como um atentado à moral e aos bons costumes, mas os motivos que, quase sempre, levavam os maridos a venderem suas esposas eram dois: porque "falavam demais" ou por traição - neste caso, os amantes geralmente arrematavam as esposas. Havia até um ritual bizarro para a consumação da venda em que incluía a esposa ter que chegar ao local público do leilão puxada pelo marido por uma corda amarrada no pescoço. A Igreja Católica era contra a "venda de esposa", pois dizia que quebrava o sacramento do casamento, mas a Lei das Causas Matrimoniais, de 1857, legalizou o divórcio na Inglaterra.
O que valia era a tradição, pois por ocasião da entrega da esposa ao comprador ambos tinham que fazer juramento como num casamento - inclusive, houve negócios de venda de esposas que foram desfeitos tempos depois, pois não se cumpriu todo o ritual: venda na praça do mercado público, não uso da corda no pescoço ou o comprador era casado. O valor pago pelas esposas nos leilões era irrisório, pois variava de uma caneca de cerveja a algumas libras, porém, as partes pareciam sair satisfeitas, mas houve casos de arrependimento. Em 1775, em Rotherham, o fazendeiro Jonathan Jowett chegou a debochar da venda de sua esposa que o teria traído, pois colocou um chifre de carneiro dourado na cabeça com o nome do amante dela, Willian Taylor, e a entregou no local marcado em meio a gritos dos espectadores. Outros maridos faziam propaganda das esposas para vendê-las, tipo: "vendo mulher limpa e organizada". Os jornais tratavam o assunto com preconceito chamando as mulheres de sirigaitas e vadias, mesmo quando não tinham culpa alguma. Os cornos tinham a "feira dos chifres", que se transformou num carnaval comemorado todo ano no dia de São Lucas. Havia até convocação dos cornos pela imprensa e os chifrudos se reuniam no "ponto dos cornos", perto de Deptford, e percorriam toda a cidade. O ritual de rough music, que era uma forma de debochar publicamente alguém quando desrespeitava alguma norma social, exemplo: traição, segundo casamento, corrupção etc. - análogo ao charivari francês e a scampanate italiano -, tornou-se uma bem-humorada brincadeira inglesa com banda de música e tudo mais...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dívidas públicas - artigo - Jornal OPOVO


Desconheço que haja debate na sociedade brasileira acerca das grandes obras e o endividamento público para viabilizá-las. Os Estados brasileiros estão endividados e reféns de bancos internacionais que cobram, sem piedade, juros altíssimos por dívidas contraídas sem qualquer transparência. Ouve-se muito de arrolamento ou amortização dos juros das dívidas, sugerindo que o valor principal é impagável na sua plenitude. A dívida externa brasileira já deveria ter sido auditada por flagrantes obscuridades, conforme determina a Constituição Federal de 1988, no seu artigo nº 26, das disposições transitórias, inclusive, prescrevendo que, em caso de irregularidade, haveria declaração de nulidade do empréstimo, mas é um tabu esse tema no meio político e a sociedade continua a ser sacrificada por conta de dívidas a que não deu causa e nem sabe ao certo como foi empregado o dinheiro emprestado.
Governantes impetuosos e narcisistas gostam de fazer grandes obras, algumas até necessárias, mas nunca falam que o seu governo aumentou a dívida pública e terá que cada vez mais sacrificar o contribuinte para captação de mais recursos para o pagamento dos juros das dívidas. As grandes obras nas cidades viraram sinônimo de grandes empréstimos obscuros e de propaganda do governante para mostrar nas campanhas eleitorais que faz obras e pensa na população — o ex-governador paulista Paulo Maluf, recentemente condenado pela Justiça a devolver dinheiro público, tinha até slogan: “rouba, mas faz”.
A Europa contemporânea serve de exemplo para os governantes brasileiros que insistem em contrair novas dívidas sem que haja previsão receituária, ou de lastro, para o pagamento dos juros aos impiedosos banqueiros internacionais — a “zona do euro” encontra-se numa profunda crise de insolvência e até os mais otimistas estão falando com pessimismo da situação e poderá haver o efeito dominó.

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O misterioso Murdoch - artigo - Observatório da imprensa




O bilionário Keith Rupert Murdoch tem descendência judaica e nasceu em Melbourne, na Austrália, em 11 de março de 1931. Possui cidadania americana, bem como há rumores de que também tenha a israelense. Herdou de seu pai, o empresário sir Keith Murdoch, a News Corporation que, após várias aquisições, tornou-se um dos maiores conglomerados de mídia do mundo e controla, entre outros, estúdios de cinema e de canais de TV por assinaturas – Sky e DirecTV –, a Fox News, vários tabloides e jornais, entre estes, o New York Post. Segundo a revista Forbes 400, Murdoch é a 13ª pessoa mais poderosa do mundo, mas a sua biografia disponível é pobre para o tamanho da sua importância na geopolítica, pois Murdoch é sempre mencionado na mídia como grande apoiador nas eleições americanas e em outras plagas nas quais tenha interesse.
Há evidências de que Murdoch foi por muito tempo “judeu em segredo”, assim como tantos outros judeus que, por motivos diversos, preferem não assumir publicamente a sua judeidade. Porém, Murdoch é a prova irrecusável de que há o desejo judaico de controlar a mídia mundial, conforme foi dito nos fraudados “Os Protocolos dos Sábios de Sião”, publicados em 26 de agosto de 1897 no jornal russo Znamia (Bandeira) pelo serviço secreto da Rússia. Esquecidos depois do pós-Segunda Guerra, por conta do suposto Holocausto, os tais Protocolos sempre foram motivos de debates calorosos.
O bilionário americano Henry Ford teve que comprar um jornal, o Dearbon Independent, para poder publicar críticas ao plano judeu de dominar o mundo, pois não conseguia na mídia americana, boa parte judaica, espaço para os seus artigos. Os jornais não judaicos que se atreviam a publicar artigos sobre os negócios e o lobby dos judeus nos EUA eram boicotados pelos bancos, empresas e indústrias judaicas e perdiam os anúncios. O intrigante, no entanto, é que tudo que há nos fraudados Protocolos vem ocorrendo, como que numa profecia...
É compreensível, portanto, pelo motivo acima, que os judeus queiram desvincular Murdoch da comunidade judaica para não cair a última máscara da obscuridade que há por trás da mídia mundial... Recentemente, a mídia anunciou que Murdoch estaria de olho em empresas de telecomunicações brasileiras, tais como a Rede TV e o SBT, do também judeu Silvio Santos, mas pela legislação pátria Murdoch teria que ter sócios brasileiros para a consumação dos negócios.
Rupert Murdoch é um sionista irrecuperável, inclusive, defende o Estado de Israel com o seu arsenal midiático até mais do que muitos judeus residentes na Terra Santa...

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista


terça-feira, 20 de novembro de 2012

A mídia é antissionista? - artigo - Observatório da imprensa


O conflito que ocorre entre o Estado de Israel e os palestinos da Faixa de Gaza ameaça a estabilidade do Oriente Médio e prenuncia um massacre genocida, mas a opinião pública já se apressou em depositar o seu apoio aos palestinos muçulmanos. As agências de notícias publicaram, nesta última segunda-feira (19/11), que o magnata australiano e judeu Rupert Murdoch causou polêmica ao publicar em seu Twitter críticas à cobertura da mídia em relação ao conflito na Palestina, dizendo: “Por que órgãos de imprensa de propriedade de judeus são tão consistentemente anti-Israel em todas as crises?” A resposta de Peter Beinart, do site “Daily Beast” a Murdoch veio de imediato, dizendo que “o comentário de Murdoch era ofensivo aos jornalistas por sugerir que eles adotariam o ponto de vista de seus patrões, e também aos proprietários de mídia judeus por subentender que eles deixariam o judaísmo guiar seu modo de fazer jornalismo”.
Desde a aprovação na Organização das Nações Unidas – ONU da Resolução nº 181, de 29 de novembro de 1947, pela qual foi criado um Estado de Israel e outro palestino, a mídia foi “dividida” em pró-sionista ou antissionista – porém nunca houve imparcialidade na cobertura desse conflito árabe-israelense, pois os veículos de comunicação que defendem o reconhecimento do Estado Palestino são em menor número.
A acusação de Murdoch merece uma reflexão, pois pode estar acontecendo um novo fenômeno jornalístico em que os jornalistas passaram a escrever a realidade da Palestina desatrelados do desejo dos seus patrões judeus, conforme insinuou Murdoch. Ora, Murdoch se esqueceu de dizer, em sua crítica à mídia, que Israel descumpre dezenas de resoluções da ONU e que não sai uma só linha na mídia sobre essa questão – especialmente a Resolução nº 242, de 22 de novembro de 1967, da Guerra dos Seis Dias, na qual, por unanimidade, o Conselho de Segurança da ONU, determinou que Israel devolvesse imediatamente os territórios ocupados ilegalmente – Faixa de Gaza e Cisjordânia, em Jerusalém Oriental, e as Colinas do Golan, na Síria.
A espantosa fala de David Ben Gurion, fundador do Estado de Israel e seu primeiro primeiro-ministro, na época, nunca saiu publicada na mídia: “Se eu fosse um líder árabe, nunca assinaria um acordo com Israel. É normal: nós tomamos o país deles. É verdade que era uma promessa de Deus, mas o que eles têm a ver com isso? Nosso Deus não é o deles. Houve o antissemitismo, Hitler, os nazistas, mas no que isso lhes diz respeito? Para eles, existe uma única coisa: nós viemos e roubamos o país deles. Por que eles aceitariam isso?”

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

A censura na ditadura - artigo - Observatório da imprensa


No golpe militar de 1964, no Brasil, a informação passou a ser motivo de preocupação dos militares. Naquele ano, foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI), depois os centros de informações do Exército (Ciex), o da Aeronáutica (Cisa) e o da Marinha (Cenimar) – dois meses antes do Ato Institucional nº 5, houve a invasão do jornal Tribuna da Imprensa pelos militares censores. Porém, é com o AI-5 que a censura tornou-se feroz e respaldada por norma da ditadura – o artigo 16, item III, do Ato Institucional nº 2, de 27 de outubro de 1965 e o Ato Complementar nº 1 determinavam a apreensão de livros, jornais ou qualquer publicação que divulgasse manifestação de pessoas ligadas à Frente Ampla.
Se, por um lado, a censura imposta aos meios de comunicação tornou-se nociva aos interesses da nação e da população, talvez cause estranheza ao leitor saber que a própria grande imprensa ajudou na derrubada do governo constitucional em abril de 1964, levando os militares ao poder por meio do golpe. Mas o casamento durou pouco tempo e logo a imprensa se divorciou dos militares, pois a mídia passou a denunciar a violência usada para a manutenção do regime ditatorial. Exemplo: em 5 de abril de 1968, o jornal Correio da Manhã denunciava: “Repórteres e fotógrafos foram agredidos em via pública enquanto trabalhavam... A Rádio Jornal do Brasil foi tirada do ar por relatar acontecimentos...”
Havia a censura normatizada e a autocensura exercida pelos veículos de comunicação, mas apenas os jornais diários Tribuna da Imprensa, O Estado de S. Paulo, o Jornal da Tarde e o Jornal do Brasil tiveram censura prévia – nos semanários e nas revistas, a censura pegou pesado. Os militares telefonavam ou mandavam bilhetes para as redações ditando o que não poderia ser publicado, mas depois foi a Polícia Federal que se encarregou de censurar os veículos de comunicação. Em 26 de janeiro de 1970, o Decreto-lei nº 1077 inseriu no artigo 153, parágrafo 8º, da Constituição de 1967, a censura prévia constitucional e ficaram proibidas publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes que pusessem em risco subversivamente a segurança nacional. Jornais e revistas tiveram edições inteiras apreendidas, proprietários de jornais e jornalistas foram presos. Eram os anos de chumbo no Brasil...
O jornal Movimento, fundado em 1975, foi censurado desde o primeiro número até a abolição da censura prévia no Brasil, em 1978. Dez anos depois, em 1988, proclamava-se a libertadora Constituição Federal que proibiria peremptoriamente qualquer tipo de censura no Brasil...

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

domingo, 18 de novembro de 2012

A conversão de Paulo - artigo - Diário do Nordeste


Paulo na sua juventude perseguiu violentamente o cristianismo e assolava a Igreja denegrindo a sua imagem. Paulo foi testemunha ocular da Ressurreição de Jesus Cristo, em Jerusalém, depois Paulo partiu para Damasco onde teve uma revelação de Jesus Cristo - os céticos dizem que o que Paulo teve foi uma alucinação - e converteu-se ao cristianismo por volta do ano 33 d.C.
Paulo é um dos principais personagens do Novo Testamento, pois após a sua repentina conversão saiu pregando o Evangelho por onde andou e esteve no leste da Palestina (Arábia) tentando converter os gentios (não judeus) ao cristianismo e voltou a Damasco e não mais parou de pregar o Evangelho e a fazer campanha em prol da salvação - esteve também na Síria e na Cilícia.
No decorrer de três longas e árduas viagens Paulo fundou igrejas nas principais cidades da Anatólia e em torno do mar Egeu e foi para essas igrejas que escreveu em grego a maioria de suas famosas Epístolas - o grego é a língua original de todos os livros do Novo Testamento - e a primeira Epístola de Paulo aos Coríntios desejava evangelizar os seus seguidores de Coríntio à distância.
O cristianismo tem uma dívida imensa com Paulo, pois sem ele poderia ser bastante diferente a história de Jesus Cristo - o título de Cristo foi reconhecido após a sua morte. Paulo foi preso em Jerusalém no ano de 57 d.C. e após cumprir a pena foi mandado para Roma para ser julgado por Nero. Não há provas, mas a tradição diz que Paulo teria sido decapitado no sul de Roma onde depois se edificou a elegante abadia de Tre Fontane (Três Fontes) - segundo a tradição a cabeça de Paulo teria caído no chão três vezes e que em cada ponto batido nasceu uma fonte, daí a origem do nome.
A história de Jesus Cristo tem suma importância para a civilização, pois é a doutrina que defende incondicionalmente o amor, o perdão e a vida, inclusive, o atual calendário, o gregoriano, inicia a contagem na suposta data de seu nascimento - nenhum homem conseguiu modificar tantas culturas e homens como foi o caso de Jesus Cristo.
Na sua 1ª Epistola aos Coríntios, Paulo escreveu emocionado uma das mais belas passagens bíblicas: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como um bronze sonante; e um címbalo retumbante".

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

terça-feira, 13 de novembro de 2012

De olho no New York Times - artigo - Observatório da imprensa


O editorial do New York Times de 18 de março de 1998 censurou o papa João Paulo II por ter defendido o silêncio do papa Pio XII durante o 3º Reich, no qual judeus e outros povos teriam sido perseguidos e mortos pelos nazistas, na Alemanha. Porém, em contradição, o mesmo New York Times enalteceu e se congratulou com o papa Pio XII em 25 de dezembro de 1941, dizendo ser ele “a única voz no silêncio e nas trevas que envolvem a Europa neste Natal” e corroborou o elogio ao papa Pio XII em editorial no ano imediato, em 25 de dezembro de 1942, dizendo: “O papa é o único governante que resta no continente europeu que ousa elevar a sua voz” – Pio XII salvou 860 mil judeus dando-lhes abrigo, comida e/ou fuga da Alemanha. O intrigante é que o já então maior jornal do planeta, o New York Times, que tinha acesso a todas as comunidades judaicas por ser da família judaica Ochs, não escreveu uma só palavra no seu editorial sobre supostos genocídios em campos de concentração na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)...
Um artigo assinado pelo intelectual judeu Arthur Koestler, publicado no New York Times em 9 de janeiro de 1944, em que relata as suas conferências com soldados aliados, surpreendeu a opinião pública ao revelar que nunca tinha ouvido falar dos campos de concentração de Lidice, Treblinka e Belzen e nem citou Auschwitz, sugerindo que não tinham tanta importância assim ou “ganharam” após o final da guerra, quando começaram a ser “noticiadas” exaustivamente pelos vencedores as supostas atrocidades...
No ano passado, outro caso rumoroso envolveu o New York Times quando o então diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), o judeu Dominique Strauss-Kahn, foi preso e acusado de ter supostamente tentado estuprar uma humilde camareira, de origem africana, de nome, Nafissatou Diallo, no luxuoso Hotel Sofitel, em Nova York. Curiosamente, o New York Times e outros veículos de comunicação saíram em defesa de Strauss-Kahn e não foi difícil transformar a humilde camareira em “mentirosa” e “prostituta”. Inclusive, o NYT citou que uma “fonte” da polícia tinha informações comprometedoras contra a camareira – Strauss-Kahn depois acabou sendo processado na França por envolvimento com prostitutas e divorciou-se da sua esposa, o que desconstruiu a hipótese fantasiosa de “bom moço” criada pelo NYT e demais da mídia nova-iorquina.
Se em fatos relevantes há modificações, manipulações, ou mesmo “criações” de dados inverídicos no NYT, o que pensar de fatos menos relevantes? Afinal, como diz o brocardo jurídico: “quem pode o mais, pode o menos”...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Os velhos jornais ingleses - artigo - Observatório da imprensa


A considerar pelas notícias atuais comparadas com as antigas, vê-se que grande parte da imprensa inglesa continua explorando o ponto fraco da sociedade: a intimidade alheia. Sucesso de tiragem no século 18 e 19, os tabloides e os jornais britânicos parecem continuar a surfar na crise econômica europeia, pois os sucessivos escândalos e a bisbilhotice têm sido o prato principal desse tipo de mídia e garantem ótimas “manchetes” e vendas.
No ano passado, o escândalo britânico envolvendo o magnata australiano da mídia, o judeu Rupert Murdoch, que levou ao fechamento do seu jornal News of the World, fundado em 1843 e tido como o de maior tiragem aos domingos no Reino Unido, mostrou a face obscura continuada da imprensa britânica, que insistia em utilizar de escutas telefônicas clandestinas para bisbilhotar a vida privada de personalidades e autoridades.
Em 1912, os arapongas inventaram o “dictógrafo” que é um microfone oculto usado, então, nas investigações secretas policiais e políticas, mas o curioso é que o “dictógrafo” era também usado judicialmente para coletar provas em caso de separações conjugais. No entanto, o “dictógrafo” passou a ser usado pelos tabloides sensacionalistas para produzir “confissões” em conversas informais, ou para fazer o que se nomeou de “jornalismo investigativo” – hoje usam conjuntamente microcâmeras – realizando flagrantes de ilícitos de toda ordem, ou colocando autoridades em “saias justas”.
A Inglaterra é um país de contradições, pois mesmo durante o puritanismo da Era Vitoriana, as casas de banhos públicos e os bordéis funcionavam abertamente e com clientela do mais variado tipo. Até o século 20, houve na Inglaterra a “venda de esposas”, que era realizada em praças públicas nos mercados e tinha um ritual próprio, mas a imprensa divulgava em forma de deboche os casos que chegavam às redações, como que fazendo uma recriminação pública de um evento que ia contra os costumes da família e da Igreja. Exemplo: o jornal Chelmsford Chronicle, em 18 de julho de 1777, publicou um caso de “venda de esposa” com ironia:
“Segunda-feira passada, Jonathan Heard, jardineiro em Witham, vendeu a mulher e o filho, uma ave e onze porcos, por seis guinéus, para um assentador de tijolos da mesma localidade. Hoje ele os pediu de volta e os recebeu de braços abertos no meio de uma enorme multidão. Os mais bem informados acham que o assentador de tijolos fez um péssimo negócio.”
O tempo passou, mas o prazer que os jornais e tabloides britânicos parecem sentir em bisbilhotar a intimidade alheia continua, lamentavelmente, o mesmo...


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

domingo, 4 de novembro de 2012

A cultura medieval - artigo - Diário do Nordeste


A prostituição sempre foi um negócio e era tolerada, especialmente na Idade Média. Inclusive, mulheres casadas tornavam-se "meretrizes secretas", com a anuência do marido, para aumentar a renda do lar. No século XIII a meretriz foi reputada impura, excluída e perseguida socialmente, como os leprosos e os judeus. Santa Pelágia, santa Maria Egipcíaca, santa Afra, etc. eram prostitutas e tiveram suas almas salvas, segundo a Igreja, por meio do arrependimento, assim como Maria Madalena. As casas de banhos públicos e os bordéis, eram regulamentados pela Igreja, pois a clientela atingia a elite e não adiantava proibir. Havia "norma moral" nos bordéis e as mulheres não podiam fazer sexo oral e nem tampouco o anal, pois era considerado uma desonra - daí a origem do tabu ainda hoje nas mulheres que, sem maldade, mas com algum exagero, negam que gostem de fazer sexo anal. As mulheres honestas usavam véu e tinham o direito de retirar dos rostos das meretrizes esse acessório e colocavam-nas uma agulheta de cor viva no ombro, em sinal de infâmia.
Na França, belas jovens eram vistas durante o dia exibindo livremente seus seios nas ruas em busca de novos clientes, como numa propaganda "corpo a corpo"; e em Amsterdã, na Holanda, já era famosa a Street Red Light (Rua da luz Vermelha), pois recebia turistas sexuais de toda a Europa. Com o aparecimento das doenças sexualmente transmissíveis (DST) e da Peste Negra que ninguém sabia a exata causa, os bordéis perderam clientela. O papa Inocêncio III, dizia que uma das maiores obras de caridade seria converter as meretrizes em mulheres honestas e que o casamento com elas seria uma obra masculina de piedade cristã. No Renascimento, pinturas prestigiavam as virgens, como a de santa Úrsula e as 11 mil virgens (quase metade das pinturas renascentistas é da Virgem Maria) para afastar as moças das tentações e assim esperassem virgem o casamento, mas a prostituição é algo inserido na cultura que há em tempos de guerra ou de paz. Até o século XX, na Inglaterra, houve a "venda de esposa" realizada na praça dos mercados e tinha todo um ritual, pois a mulher tinha que chegar ao local sendo puxada por uma corda no pescoço pelo marido - o motivo alegado pelos maridos quase sempre era traição ou que a mulher "falava demais"..


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Darwinismo social - artigo - jornal OPOVO

   

A pesquisa sobre violência urbana da Universidade de São Paulo (USP) revelada pelo O POVO neste ano mostrando que 57,5% dos fortalezenses são favoráveis à pena de morte elegendo assim a terra de José de Alencar como o maior índice desse desejo no País, pegou de surpresa a opinião pública. As alegações para esse assustador número de partidários da pena capital foram diversas, especialmente a sensação de insegurança e a falência do sistema de segurança e da Justiça criminal. Não há evidências de que a pena de morte tenha reduzido a criminalidade nos países em que foi implantada, pelo contrário, inclusive, os EUA são o único país, que se diz democrático, que ainda recorre à pena capital, mas há contradições, pois, curiosamente, somente pretos, pobres e prostitutas acabam sendo alcançados pelas injeções letais ou sentam nas cadeiras elétricas.
Não foi por falta de aviso que a violência urbana chegou ao descontrole das autoridades públicas, pois a escalada era visível e previsível. Há outros três fatores fenomenológicos relativamente recentes que auxiliaram na explosão da violência urbana e, talvez, no despertar desse repentino desejo assustador de legitimar a pena de morte: a exploração ilegal da violência nos programas policiais televisivos; a explosão do consumo de drogas, especialmente o crack, e o caos urbano que tem potencializado o estresse e o medo na população.
O darwinismo social deseja controlar a espécie humana (numa referência à seleção natural de Darwin de controle da espécie), pois o que se vê claramente é uma sociedade cada vez mais individualista e egoísta e que nada faz para melhorar a convivência social. Recorrer à pena de morte é declarar a falência do Estado e da sociedade, pois, queiram ou não, todas essas pessoas envolvidas na violência urbana são psicologicamente vítimas da própria sociedade hedonista e materialista em que vivemos.

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Viva a liberdade no Brasil - artigo - Observatório da imprensa


A Constituição Federal brasileira de 1988 consagrou, em cláusula pétrea, no seu artigo 5º – Dos Direitos e Garantias Fundamentais –, a liberdade de expressão como um dos direitos fundamentais do cidadão, vedando apenas o anonimato. A Carta Política não se contentou em estabelecer e garantir a livre manifestação do pensamento para o cidadão, pois no artigo 220º – Da comunicação social – corrobora a liberdade de expressão ampliando-a para as pessoas jurídicas – empresas de comunicação –, concessionárias públicas ou não de rádios e/ou televisões, inclusive veda expressamente a censura de qualquer natureza no seu parágrafo II.
Frise-se, há no ordenamento jurídico brasileiro “remédios” idôneos para se buscarem eventuais reparações por qualquer tipo de danos que possa vir a causar essa ou aquela notícia publicada. Portanto, não há como se falar em censura prévia judicial. Qualquer lei infraconstitucional que versar sobre limitações da livre manifestação do pensamento será considerada inconstitucional, pois nem em sede de Emenda Constitucional seria possível modificar essa garantia e direito constante na Constituição Federal, já que se trata de cláusula pétrea, ou seja, inamovível. Somente uma nova Constituição originária poderia reescrever a censura no ordenamento jurídico brasileiro. Quando um magistrado concede liminar ou tutela antecipada impedindo a veiculação de alguma notícia na mídia, por qualquer que seja o pretexto, ultrapassa o seu nobilíssimo mister, que é justamente garantir as liberdades individuais e coletivas na sociedade em observância inarredável da Constituição Federal, a qual jurou respeitar e defender.
Como se vê, a liberdade de expressão é ampla, geral e irrestrita no Brasil, mesmo vez por outra havendo ataques indevidos à sua alma. A origem da liberdade de expressão como vontade popular reconhecida surgiu em 1789, na Revolução Francesa, cujo slogan era Liberdade, Igualdade ou Morte, que depois da sedição foi modificada para Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Após a sublevação francesa, as constituições ditas democráticas esculpiram em seu corpo a liberdade de expressão como direito fundamental, deixando assim, no passado, a indesejada censura.
É verdade que alguns governos que se queixam de serem democráticos sofrem com a liberdade de expressão plena, mas essa é a única garantia que a população tem para o controle social da coisa pública, a manutenção da paz e contra a manipulação dos governos e da própria mídia, que é a maior interessada e uma das destinatárias constitucionais da liberdade de expressão.

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A malfadada censura - artigo - Observatório da imprensa


A quem serve a censura? Essa é a pergunta crucial para a compreensão dessa anomalia sociopolítica na civilização. O teórico inglês Thomas Hobbes (1588-1679) dizia que toda ação política visava a beneficiar um grupo. A censura é uma ação política autônoma para beneficiar um grupo religioso, político e/ou étnico. O Índex dos Livros Proibidos da Igreja Católica, proclamado no Concílio de Trento, no século 16, foi regularmente atualizado até 1948, mas foi abolido em 1966.
Na segunda metade do século 18, na França, a produção de livros ainda era controlada pela censura eclesiástica e secular. Os materiais subversivos utilizados na Revolução Francesa eram impressos na Suíça e na Holanda, porém retornavam à França de forma clandestina. Em 1935, na Alemanha, foi criado um Índex dos Livros Proibidos análogo ao da Igreja Católica, em que restaram proibidos os livros marxistas, livros judeus, livros “não alemães”, livros ocultistas, livros psicanalíticos – Sigmund Freud teve seus livros queimados em praça pública pelos nazistas. A internet é alvo da censura e na China o projeto do “Escudo Dourado”, de 2003, também conhecido como “A Grande Firewall da China”, censura diversos sites e conteúdos da web. Todos os governos ditatoriais recorreram à censura para se manterem no poder – em Cuba, há críticos presos.
Ao contrário do que se imagina, a Europa não é o paraíso perdido da liberdade de expressão, pois em alguns países é legalmente proibido questionar o suposto Holocausto, exemplo: Alemanha. Áustria, Bélgica, Eslováquia, França, Hungria, Liechtenstein, Lituânia, Países Baixos, Polônia, República Checa, Romênia e Suíça – em Israel é também proibido. Porém, em 2007, a Espanha e a Itália declararam inconstitucional a lei de proibição da negação do suposto Holocausto e outros países europeus tendem a seguir agora o mesmo caminho...
Há censura sem justa causa e sem lei expressa proibindo. Exemplo: quase ninguém fala ou escreve na mídia no Brasil sobre a questão judaica, como se houvesse uma proibição invisível. A Constituição Federal brasileira garante a liberdade de expressão na sua plenitude, mas veda o anonimato. No entanto, tramita silenciosamente no Congresso Nacional o projeto de lei nº 987/2007 que quer penalizar quem questionar o suposto Holocausto – se aprovado, será o retorno da censura legalizada. Além de flagrantemente inconstitucional, o PL nº 987/2007 visa unicamente a beneficiar a comunidade judaica na manutenção do controvertido número de seis milhões de judeus mortos no suposto Holocausto, mas em prejuízo mortal à liberdade de expressão.

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

sábado, 20 de outubro de 2012

A fraude na História - artigo - Diário do Nordeste

A Enciclopédia Soviética é sempre citada como tendo sido "modificada" constantemente em seus verbetes a cada mudança de governante sendo, inclusive, motivo de zombaria entre os intelectuais russos. O governo inglês empregou arqueólogos disfarçados para atuarem como espiões no Oriente Médio na época do mandato britânico e os EUA colocaram antropólogos espionando na América Central, ambos, sem qualquer preocupação com a ciência e a ética. O rumoroso "Diário de Hitler" foi desmascarado em 1983 revelando que era uma fraude, inclusive o "Diário de Hitler" foi usado para legitimar várias situações e mostrar outro Hitler - informações são produzidas e "plantadas" para legitimar versões, principalmente nos pós-guerras, pois a história é escrita pelos vencedores.
A acusação de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, o que levou os EUA e a Inglaterra a coordenarem os ataques, era falsa, pois a notícia foi "plantada" e numa transmissão feita pela BBC de Londres, em 29 de maio de 2003, o jornalista Andrew Gilligan denunciou que o tal relatório do serviço de inteligência que afirmava a existência do iminente perigo iraquiano era falso. Soube-se, depois, que a fonte da notícia era o Dr. David Kelly, um inspetor de armamento sem vínculo com o sistema de informação reservado governamental que, após a bombástica revelação, "apareceu suicidado" em circunstâncias ainda obscuras, sugerindo que tudo era uma farsa. A Nasa diz ter perdido a filmagem de Neil Armstrong pisando na Lua, em 20 de julho de 1969, mas é pouco provável que numa organização como a Nasa isto tenha acontecido - por que o homem não mais voltou a pisar na Lua? Daí reforçar as especulações de que tudo não passou de uma fraude gravada em Hollywood na época da corrida espacial em que os EUA disputavam com a Rússia o poder da tecnologia aeroespacial. Algumas pesquisas e artigos científicos foram fraudados para comprovar resultados inexistentes em remédios a pedido da indústria farmacêutica, livros foram modificados, ora nas traduções, ora acrescentado ou suprimindo capítulos inteiros após a morte do autor e na Primeira e Segunda Guerra Mundial usaram fraudulentamente "fotomontagem" e estatísticas, sem qualquer base cientifica, para criar massacres para superfaturar o número de mortos...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Breve história do jornal - artigo - Observatório da imprensa


Um fato curioso passa despercebido: os jornais impressos surgem e desaparecem em momentos de mudanças socioeconômicas. No segundo semestre de 1789, durante a Revolução Francesa, nada menos do que 250 jornais impressos surgiram da noite para o dia e os tidos como conservadores entraram em declínio. Na então União Soviética, o Pravda (verdade, em russo) era o jornal oficial do regime bolchevique durante os governos de Lênin e Stalin, mas foram as impressoras clandestinas que rodavam os panfletos que conseguiram furar o cerco e denunciar para o mundo as atrocidades cometidas pelos comunistas – 20 milhões de assassinatos – e puseram fim ao Pravda.
O jornal impresso parece ser um negócio pouco ou nada rentável e serviria mais como poder político e de barganha – Napoleão Bonaparte dizia que quatro jornais são mais perigosos do que 100 mil baionetas – e os donos de jornais quase sempre têm outros negócios empresariais: rádios, televisão, editoras etc. Outro fato que merece destaque é que as tipografias, onde eram rodados os panfletos, eram de judeus, inclusive, no Império Otomano. Por duzentos anos, foram os judeus que dominaram as impressões: em 1504, fundaram tipografia em Istambul; 1510, em Salônica; em 1554, em Esmirna (ou Izmir). Foi preciso esperar até 1728 para aparecer a primeira tipografia não judaica no Império Otomano – as tipografias faturavam mais com a impressão de livros do que com a panfletaria e os tabloides.
A primeira agência de notícias surgiu em 1832, fundada pelo judeu Bernhard Wolf, em que utilizava a tecnologia de Samuel Morse para transmitir as notícias por telegrama – no início especulava na Bolsa de Valores e anunciava os horários dos trens. O primeiro furo político foi dado pelo Times no mesmo dia, em 10 de janeiro de 1859, que tratava do desencadeamento da guerra franco-austríaca e a independência da Itália – a rapidez era a novidade para os jornais impressos. Em 1865, o judeu Julius Reuter fundou a Agência Reuters e passou a distribuir as informações para diversos jornais, o que ajudava na contenção dos custos, pois os jornais não precisavam mais enviar correspondentes aos locais da notícia.
O judeu Adolph Simon Ochs comprou em 1896 o The New York Times – que na época tinha tiragem de apenas nove mil exemplares/dia e estava à beira da falência – por modestos US$ 250 dólares. Porém, em 1925 a tiragem do NYT chegaria a 780 mil exemplares/dia, mas por diversas vezes o NYT passou por crises.
Quase todos os jornais impressos passaram por auges e crises e, não raramente, tiveram que se reinventar para continuar existindo...

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ensino à distância - artigo - Observatório da imprensa


A televisão vem recebendo merecidas críticas por conta do excesso de tempo e da glorificação que tem destinado à violência em noticiários, programas policiais, filmes e lutas tipo artes marciais mistas (MMA, sigla em inglês), bem como por não destinar mais espaço em sua grade diária para programas culturais e educacionais em prol da paz na sociedade e do bem-estar da família. Porém, um fenômeno televisivo passa quase despercebido: o ensino à distância.
A questão da mobilidade urbana, a falta de tempo para o estudo em sala de aula e a concentração de escolas e universidades nos grandes centros podem justificar a expansão do uso da televisão e da internet para o ensino à distância. A televisão é uma ótima ferramenta para a promoção da educação e os governos deveriam exigir cada vez mais cultura nas grades televisivas, pois as “universidades abertas” vêm crescendo vertiginosamente e superando em número o de alunos das aulas presenciais. As “abertas”, inclusive, alcançam localidades onde os meios de comunicações – estradas, ônibus, veículos, aviões etc. – não são disponíveis com facilidade. No ano 2000, nos EUA, contavam-se 14 milhões de estudantes na “universidade aberta” contra 2 milhões na Inglaterra, mas, curiosamente, no maior país demográfico, a China, o sistema de universidade pela TV contabilizava apenas 580 mil estudantes matriculados, sugerindo que a “triagem” no conteúdo das vídeoaulas do ensino à distância realizada pelo governo chinês limita o interesse de novos alunos.
A internet, que nasceu de um temor americano de que a Rússia derrubasse a rede de comunicações num eventual ataque nuclear, tem auxiliado o ensino à distância e a pesquisa acadêmica, sem falar na facilidade que o e-mail proporciona na troca de informações em velocidade admirável – a enciclopédia eletrônica Wikipédia, bem como o buscador Google, têm auxiliado nas pesquisas acadêmicas. Famosas e respeitadas universidades vêm disponibilizando conteúdos gratuitos na rede mundial de computadores por meio de vídeoaulas, exemplo: Harvard, Columbia e Michigan.
A democratização e a globalização do conhecimento passam inevitavelmente pela televisão e a internet, pois o ensino à distância precisa dessas ferramentas para alcançar seus objetivos nos cursos técnicos, nas graduações e no programa de pós-graduação. O Telecurso 1º e 2º grau, da Fundação Roberto Marinho, bem como a ótima programação da TV Escola, do Ministério da Educação, têm colocado o Brasil como referência na questão do ensino à distância, pois é uma tendência mundial nos países que prestigiam a educação e a profissionalização dos seus cidadãos.

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

domingo, 7 de outubro de 2012

Síndrome do pânico - artigo - Diário do Nordeste


Não há uma explicação definitiva para a pandemia de síndrome do pânico de que tantos reclamam, mas já existem elementos importantes para um estudo. Freud utilizou o termo "medo" em vários de seus escritos em oposição à "angústia" para diferenciar que no medo há um perigo real, enquanto na angústia, não há um objeto determinado - ou seja, fica-se angustiado sem saber a razão. Freud fez relações semânticas em vários textos entre os termos: Angst (angústia), Furcht (temor ou medo) e Schreck (pavor) para mostrar as diferenças desses sentimentos tão comuns no sujeito. Para Freud, a angústia seria um estado caracterizado pela expectativa para um perigo que pode ser até desconhecido, porém, no caso do medo, sempre há algo especifico que o provoca, exemplo: medo de dirigir, de elevador, de escuro, de morrer, de doenças, de alguém, etc.
A angústia, segundo Freud, transforma-se em medo quando estabelece algum objeto a se temer, inclusive, ele utilizou um novo termo a partir de 1916, "Realangst", que se traduz por: angústia perante um perigo real. É impossível imaginar alguém sem qualquer tipo de medo, pois o medo protege a vida do sujeito colocando-lhe limites, mas não se pode glorificá-lo dando-lhe importância maior do que a devida. Há homens que não penetram uma mulher por medo, pois são acometidos da síndrome da "vagina dentada" e acham que a vagina poderá mastigar o seu pênis. A mulher sente medo e fica angustiada, aqui contrario o mestre Freud, com a possibilidade de terminar a vida sozinha por conta da cultura matrimonial planetária - ou seja, o medo e a angústia andam de mãos dadas nesse caso. Não se pode descartar a hipótese de que a explosão do uso e abuso de remédios alotrópicos para diversas finalidades podem estar causando efeitos colaterais levando o sujeito a "estado químico" de pânico e de angústia que poderiam ser evitados - há provas robustas de que vários remédios podem induzir o sujeito até ao suicídio, imagine ao pânico e à angústia... A exploração da violência na mídia diuturnamente, especialmente nos programas policiais televisivos, está contribuindo para "plantar" e espalhar pânico na sociedade. Faz-se necessário uma urgente mudança de vida e de atitude mental para não ser alcançado pela real pandemia de síndrome do pânico...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista





terça-feira, 2 de outubro de 2012

Reflexão sobre a censura - artigo - Observatório da imprensa



Volta e meia, a ameaça à liberdade de expressão e de imprensa reaparece trazendo sempre elementos para novos estudos. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na semana passada deu ultimato até o dia 7 de dezembro próximo ao Grupo Clarín para que venda parte de seus negócios televisivos, pois, segundo a presidente, a lei argentina antimonopólio, de 2009, não permite a quantidade de canais utilizados pelo Clarín – Kirchner já havia colocado sob o controle do seu governo a compra do papel utilizado nos jornais. A ameaça velada levou a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) a divulgar nota condenando o ultimato ao Grupo Clarín e criticando Kirchner por não aceitar críticas.
A América do Sul tem sido palco de vários atentados à liberdade de expressão e de imprensa, como numa ação orquestrada iniciada pela Venezuela de Hugo Chávez, tornando assim a mídia refém de governos...
A censura é algo nocivo à civilização e a liberdade de expressão é um direito inegociável, pois foi conquistado com duras lutas. Engana-se quem pensar que a censura não é uma ameaça real, inclusive faz-se necessária a vigilância permanente contra ela. Na antiga Roma, no ano 443 a.C., os magistrados tinham o dever de censurar os romanos e de estabelecer a relação nas centúrias e tribos. A censura existiu informalmente, mas em 1560, no Concilio de Trento, a Igreja Católica tornou-a oficial, inclusive estabeleceu o Índex dos Livros Proibidos – havia também outro das pinturas proibidas. No século 18, em Portugal, havia a “Mesa censória”, criada pelo marquês de Pombal para censurar os livros e demais publicações – inclusive, tinha o poder de punição.
Há várias formas de censuras disfarçadas. Exemplo: cobranças de selos nas publicações etc. Nos mapas da Rússia, até Boris Ieltsin, em 1992, não constavam as localidades onde estavam os centros de pesquisas nucleares – Sarov, Seversk e Dubna. Mapas das ruas e a lista telefônica também eram restritos no período stalinista, pois havia o medo de reuniões e conspirações contra o regime comunista. Nos EUA, a lei da Liberdade de Informação, de 1966, abre a exceção para o acesso aos mapas secretos dos poços de petróleo.
A censura não dá trégua e o Brasil não é exceção de risco à liberdade de expressão. Os livros infantis do genial Monteiro Lobato estão sendo alvos de questionamento jurídico alegando que contêm “racismo”: primeiro foi Caçadas de Pedrinho e agora, Negrinha, lançado em 1920. Querem retirar de circulação os livros de Lobato pela via judicial, como numa espécie de Índex Judicial dos Livros Proibidos...

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



domingo, 23 de setembro de 2012

A Heloísa de Rousseau - artigo - Diário do Nordeste


Nenhum outro romance provocou tanto furor e inundações de lágrimas nos leitores daquela época como, "A nova Heloísa", de Jean-Jacques Rousseau. Lançado em 1761, "A nova Heloísa", tornou-se o livro mais vendido no século XVIII e projetou Rousseau no cenário literário com esse romance baseado em cartas escritas durante 13 anos, de 1732-45. Rousseau inaugurou um novo estilo de leitura que foi considerado uma revolução na literatura, assim como Montaigne criou um novo gênero literário no século XVI, os Ensaios, Rousseau trouxe o leitor de volta para vivenciar a leitura - Rousseau era obcecado pelo tema "leitura" e em, "Emile", sugeriu que a criança aprendesse a ler tarde: "quando estivesse madura para o aprendizado".
A procura pela "A nova Heloisa" rendeu setenta edições publicadas antes de 1800, mas mesmo assim, os livreiros ainda tinham que alugar livros por dia e até por hora para suprir a demanda da "A nova Heloísa" - em 1880 o livro chegou a 100ª edição. No primeiro prefácio de "A nova Heloisa", Rousseau diz: "Teatros são necessários para as grandes cidades e os romances para os povos corruptos". À primeira vista, foi uma contradição, porém, Rousseau tentou explicar, sem sucesso, nos outros prefácios: "Este romance não é um romance", pois dizia que era uma coleção de cartas entre dois amantes que viviam numa cidadezinha ao sopé dos Alpes e que ele seria apenas o editor. Naquela época, era comum os romances surgirem de forma anônima devido ao puritanismo e ao regime e Rousseau assumiu a autoria de "A nova Heloísa" que foi considerado um texto sentimentalista e pré-romântico. Em suas "Confissões", o brilhante Rousseau reconhece suas falhas morais e tenta explicar o abandono dos seus cinco filhos num orfanato alegando que seriam educados melhores do que se estivessem com ele e a sua esposa, Thérèse Levasseur - afinal, ninguém é perfeito...
Em fevereiro de 1777, Rousseau publicou uma "carta aberta" pedindo socorro financeiro em troca dos direitos autorais de seus manuscritos publicados e inéditos, porém, após a morte de Rousseau, muitos textos anônimos foram lhe atribuído autoria sem que haja prova da autenticidade. Rousseau desejou em, "A nova Heloísa" prestigiar os relacionamentos afetivos verdadeiros dando-lhes corpo e alma...


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista









terça-feira, 18 de setembro de 2012

Palestina urgente - artigo - Observatório da imprensa


Fiquei surpreso com a quantidade de contradições que descobri na Palestina quando lá estive. A mídia internacional não tem sido imparcial com os fatos históricos e contemporâneos que estão ocorrendo na Palestina, pois há nítida influência do sionismo nas matérias. Nos EUA, por exemplo, nada sai de positivo acerca da questão palestina e o New York Times somente prestigia com benevolência em seus comentários livros pró-Israel. Há anos, a Liga Israelense de Direitos Humanos divulga informações sobre a demolição de residências, a expropriação de terras, o tratamento dos trabalhadores, a tortura e a detenção ilegal de árabes e palestinos muçulmanos, mas quase nada é publicado sobre o tema.
Outra prova de boicote à questão palestina foi a divulgação do relatório “Insight” pelo jornal londrino Sunday Times, em 19 de junho de 1977, relatando as torturas aos árabes e as prisões ilegais e afirmando que o Estado de Israel sabia de tudo mas fazia vista grossa; bem como os relatórios da Anistia Internacional e da Cruz Vermelha, corroborando as atrocidades, mas, com exceção do Globe, de Boston, nada saiu nos EUA – artigos de opinião pró-palestinos nos jornais são quase inexistentes.
Não se veem na mídia debates acerca do descumprimento de Israel da Resolução nº 242, de 22 de novembro de 1967, da Organização das Nações Unidas – ONU –, que determina que Israel devolva aos palestinos as terras ocupadas na Guerra dos Seis Dias naquele ano. Esse descumprimento, inclusive, tem sido apontado como o principal obstáculo para a paz entre judeus, árabes e palestinos muçulmanos.
Devido ao clima severo, a escassez de água potável e para agricultura na Palestina tem sido um problema sério, inclusive na Faixa de Gaza. Quase toda a água usada pelos palestinos é imprópria para o consumo humano — as nascentes e as fontes de água potável tornaram-se o bem mais precioso naquela desértica região.
O muro de segurança na Cisjordânia começou a ser construído por Israel em 14 de junho de 2002, alegando-se que é para evitar ataques terroristas. Porém, tem inviabilizado a vida social e econômica de várias comunidades palestinas, pois as terras deixaram de ser contíguas e a mídia tem sido omissa ao não mostrar essa realidade. Os sangrentos ataques contra os palestinos armados de pedras nas fronteiras limítrofes a Israel pelo Haganah – exército israelense – foram denunciados até por militares israelenses dissidentes e isso começou a mudar lentamente a visão da opinião pública em relação à questão palestina. Porém, os palestinos ainda estão sem voz e vez na mídia internacional...



Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista, Fortaleza, CE



sábado, 8 de setembro de 2012

Palestina milenar - artigo - Diário do Nordeste


Após a queda do último governo da Judéia e a destruição de Jerusalém, no Oriente Médio, em 70 d.C., essa região mudou de nome e passou a ser conhecida como o país dos Filisteus, ou, Palestina, pois o desejo do Império Romano era desjudeizá-la. A Palestina transformou-se ao longo desses dois milênios numa cultura genuinamente árabe e palestino-muçulmana, pois a grande maioria dos judeus emigrou em Diásporas para a Europa, África, Rússia e depois para os EUA. O Estado de Israel foi fruto do movimento sionista e a Organização das Nações Unidas - ONU - aprovou em 29 de novembro de 1947, a Resolução nº 181, que criaria o Estado de Israel e outro Palestino - o Estado Palestino ainda não foi reconhecido pela ONU.
Várias guerras foram deflagradas entre árabes e israelenses, mas a que é apontada como obstáculo para a paz foi a Guerra dos Seis Dias contra o Egito, a Síria e a Jordânia, iniciada em 5 de junho de 1967 - que resultou na Resolução da ONU nº 242, de 22 de novembro de 1967, que determina ao Estado de Israel a devolução das terras ocupadas aos palestinos. As diversas tentativas de acordos para a paz entre árabes e israelenses naufragaram - Oslo I e II, Camp David, Taba e Mapa da Estrada - e a regra era quase sempre ofertar terras pela paz. Em 14 de junho de 2002, Israel começou a construção de um muro na Cisjordânia (Samaria e Judeia, nome bíblico), alegando que é para segurança dos israelenses por causa dos atentados terroristas, mas inviabilizou a vida social e econômica de várias comunidades palestinas que dependem das áreas contínuas para sobrevivência.
A Faixa de Gaza hoje é uma prisão a céu aberto e de difícil acesso, pois com o bloqueio econômico, os palestinos muçulmanos em Gaza dependem do fornecimento de alimentos e outros gêneros do Egito e de Israel. Dos 14 milhões de judeus no mundo, apenas 5.640.000 vivem em Israel, na Palestina, porém, é preciso urgência para uma solução pacífica viabilizando que judeus, árabes e palestinos muçulmanos possam viver em paz como irmãos. As barreiras militares de fiscalização nas estradas, o muro de segurança na Cisjordânia, ao longo do território palestino, bem como a "guerra psicológica" e a tensão termonuclear no Oriente Médio, mostram que a questão palestina diz respeito a toda civilização...


LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

domingo, 26 de agosto de 2012

Apocalipse analisado - artigo - Diário do Nordeste


No último livro do Novo Testamento, o Apocalipse de João, há o relato em forma de profecias de tragédias que estariam para ocorrer - hecatombes, cataclismos, terremotos, tsunamis, guerras, pandemias, fome, etc. -, mas sem dar qualquer pista de data, sugerindo que já ocorreram outras vezes. Ainda no livro de João, há a menção a um número enigmático: "Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis" (Apocalipse 13:18); mas não se sabe exatamente a que se refere o tal número - o Armagedom é citado duas vezes no Apocalipse, 16:14-16, e seria o local em Israel onde ocorreria a batalha final entre o bem e o mal.
Nostradamus, no século XVI, fez 942 previsões que são relembradas toda vez que há grande tragédia. A biblioteca de Nostradamus foi incendiada e quase todos os seus livros viraram cinzas, mas há quem defenda que Nostradamus apenas reescreveu a história passada, pois sabia que o homem não muda e repete sempre a sua trajetória... Correu boato pela Europa que no ano de 1.666 chegaria à terra o verdadeiro Messias, filho de David, tão esperado pelos judeus, mas em 1.664 já se sabia o seu nome: rabino Shabbatai Zvi. Zvi nasceu em 1.626, em Esmirna, na Turquia e arrastou multidões de seguidores em Jerusalém e Safed, onde demonstrou saber cabalístico notável. Do dia 2 a 5 de setembro do ano 1.666, ocorreu o Grande Incêndio de Londres, destruindo milhares de casas e de prédios comerciais e públicos e acreditou-se que aquele ano era o apocalíptico e o nome de Shabbatai Zvi foi lembrado como Messias, mas era outro alarme falso... No dia 15 de setembro de 1.666, Zvi foi preso em Istambul e teve que escolher entre ser decapitado ou converter-se ao Islamismo. Convertido, Zvi recebia ainda 150 piastras por dia pelo seu trabalho de "Guardião das portas do Palácio".
Em várias culturas há a crença de que haverá o apocalipse e o juízo final, porém, somente o povo Maia, na América Central, sugeriu a data fatídica de 21 de dezembro próximo como o término da atual Era e o início da nova. Não há dúvida de que ocorre outra grande transição planetária e deve ser encarada com naturalidade, até porque é inevitável. Não se deve temer, mas não será fácil para ninguém...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 12 de agosto de 2012

A morte ritualizada - artigo - Diário do Nordeste

Na ilha indonésia de Bali, os balineses leem histórias, uns para os outros, quando estão preparando um sepultamento; e as histórias são dos arquivos das famílias e repetidas há séculos, mas o curioso é o motivo do ritual que é mantido em cerimônia por até três dias sem parar: evitar a aproximação dos demônios. Segundo a crença local, os demônios se apoderam das almas vulneráveis após a morte, mas a contação de histórias mantê-los-ia afastados.
No Brasil, em Mato Grosso, os Bororos reúnem as tribos nas aldeias para o ritual mortuário e fazem uma espécie de "enterro secundário", pois há inumação e exumação. Após alguns dias do sepultamento, sempre cantando, o corpo é exumado pelos Bororos e é lavado e depois enfeitado com penas policromas e o crânio é então transportado para as residências e servirá como lembrança do ente querido, como se fosse uma fotografia. No Tibete, o ritual mortuário é uma festa de libertação da alma, pois os tibetanos sabem da reencarnação e que o espírito sobrevive após a morte do corpo, daí o cortejo fúnebre ser encarado com naturalidade e sem histeria.
A cremação do corpo do falecido tem sido usada por empréstimo cultural em muitas culturas, pois foram os gregos que, no século VII a.C. implantaram-na no ritual mortuário, inclusive, no século imediato os hinduístas, na Índia, já também praticavam - há consenso de que o corpo deva ser cremado somente após 72 horas da morte cerebral. O povo judeu é o único contrário à cremação, pois considera profanação ao corpo do falecido. Na Índia, em Varanasi, todos os dias ao cair da noite, há o ritual mortuário de cremação dos mortos nas margens do rio Ganges, em que músicas, louvores e velas são utilizados em homenagem aos mortos, mas a contradição é que jogam as cinzas no rio Ganges poluindo-o, pois usam a água para beber e banhar-se.
A morte tem sido um mistério para a civilização, tanto no campo do outro mundo desconhecido, como no estudo do sofrimento dos entes queridos que ficam. Exceção do suicídio, a morte é um processo de libertação natural do espírito e deve assim ser encarado, portanto, o sofrimento, o luto e a ausência são compreensíveis, mas a vida continua e ninguém deve se entregar ao desânimo ou desistir de viver por conta do desencarne de um ente querido...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

terça-feira, 31 de julho de 2012

A questão judaica na mídia - artigo - Observatório da imprensa


O livro Antissemitismo — a intolerável chantagem. Israel-Palestina, um ‘affaire’ francês?*, escrito a várias mãos por intelectuais judeus franceses, mostra as injustas acusações contra a mídia, especialmente a francesa, em relação à questão judaica e a manutenção do Estado de Israel e a estratégia de intimidação contra os que divergem publicamente acerca do sionismo – os judeus divergentes são rotulados maldosamente de “maus judeus”. O livro faz alerta para a confusão feita em relação à questão dos judeus e a do sionismo – criação do Estado de Israel. Ou seja, nem todo judeu é sionista, bem como se propõe a esclarecer a causa do aumento do antissemitismo e a tentativa velada de setores da mídia de rotular de antissemita, antissionista, negacionista e/ou racista quem critica o sionismo – o rótulo da moda é “judeofobia”.
A partir de 2001, foi notado na França o aumento do antissemitismo e os jornais estamparam em manchetes o tema. O alarmismo acerca da nova onda de antissemitismo levou o jornal Libération de 2 de abril de 2002, numa entrevista, a compará-lo a uma “nova Noite de Cristal” – em referência aos dias 9 e 10 de novembro de 1938 dos pogroms nazistas que pilharam as lojas judaicas na Alemanha. Outros jornais entraram no debate: “Antissemitismo: o que não se ousa dizer”, Le Nouvel Observateur, 6 de fevereiro de 2003; “Antissemitismo faz estragos!”, Marianne, 7 de abril de 2003; “O quadro negro do antissemitismo”, L’ Express, 10 de abril de 2003; “Antissemitismo, um mal francês?”, L’ Express, 17 de abril de 2003, entre outros tantos.
O livro em epígrafe auxilia na compreensão de como a boa mídia, no caso concreto, o jornal francês Le Monde, pode e foi injustamente acusado de ir contra Israel por conta de uma frase pinçada de um artigo de opinião que nada tem a ver com a linha editorial do jornal; outro caso foi o Libération que, equivocadamente, publicou uma legenda numa foto, mas que em seguida pediu desculpas pelo erro – porém, mesmo assim, foi tachado maldosamente de “diabolizar” Israel.
Os intelectuais autores do livro mostraram para o mundo que o sionismo está longe de ser unanimidade entre os judeus e, com denodo, denunciaram a perseguição que sofrem os críticos da manutenção do Estado de Israel e do conflito com os palestinos. A liberdade de expressão é colocada em segundo plano quando o tema é a questão judaica, pois quem falar, dependendo do país, é “intimidado”, como se o tema fosse um tabu...
No Brasil, a mídia parece preferir o silêncio a entrar no debate da questão judaica, do Estado de Israel e o conflito com os palestinos, como se o tema não dissesse respeito a toda a civilização...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista


* Antissemitismo – a intolerável chantagem. Israel-Palestina, um ‘affaire’ francês?, de Etienne Balibar et al, Rony Brauman e Judith Butler, Anima Editora, 2004





domingo, 29 de julho de 2012

A cultura do adultério - artigo - Diário do Nordeste



A Torá diz que o Rei David cometeu adultério com Bat Sheva esposa de Uriah, mas que não foi punido porque assim quis o Criador; e em, O Livro do Esplendor, o Criador complementa: "O que quer que David tenha feito, foi feito com minha permissão. Porque nenhum homem vai à guerra sem antes dar a sua esposa um ´guet´ (carta de divórcio)" (Zohar, 133). Porém, o adultério na cultura judaica é proibido e punível (Torá, Vayikra, 20,10), mas a regra recepcionada no Novo Testamento seguido pelo cristianismo no mandamento: "Não cobiçarás a mulher do próximo", dá margem para interpretação quanto à mulher cobiçar o homem da outra.
Nos países de cultura muçulmana, o adultério é punido com rigor, mas o Alcorão admite o perdão se a adúltera se arrepender (Surata, IV), mas a jurisprudência islâmica entende diversamente - a cultura islâmica, ao impor punições severas, tenta proteger a família, mas de forma cruel. A cultura patriarcal era poligâmica e a mulher, quase sempre, não escolhia seu marido, além de ter que casar virgem, sob pena de severa punição - na cultura muçulmana há a infibulação: costura da vagina. No século XIV, na Europa, era comum a mulher usar o "cinto de castidade", pois havia o temor de filhos adulterinos na família, o que comprometeria a divisão da herança e iria contra os costumes.
Na Revolução Puritana, na Inglaterra, no século XVII, a mulher adultera tinha que usar roupa com a letra "A" estampada identificando-a. Em 1715, o rei de Portugal, Dom José, assinou lei para expor os traídos, pois a pessoa que tomasse conhecimento de uma traição deveria pendurar chifres na porta da casa do traído, daí a origem do "levou um chifre". Os esquimós não reconhecem o adultério, inclusive, ofertam suas esposas aos visitantes convidados para dormirem juntos como sinal de amizade. Na Europa contemporânea, há uma flexibilização nas relações afetivas e em muitos países os amantes optam por relações abertas em que não há adultério quando trocam de parceiros. As culturas que punem com a morte os adúlteros priorizam a honra ao invés de prestigiar a vida; no Nordeste, do Brasil, por exemplo, a cultura machista estigmatiza a mulher pilhada em adultério, mesmo não sendo crime, mas, numa ou noutra cultura, não há evidências de que o adultério tenha decaído...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 15 de julho de 2012

Alemanha luterana - artigo - Diário do Nordeste


O jovem alemão Martinho Lutero rompeu com a Igreja Católica aos 34 anos de idade, em 1517, quando publicou as suas 95 teses discordando do sistema papal em vigor naquela época - em poucos meses toda a Europa conheceria o pensamento de Lutero. Ele discordava da infalibilidade do papa e da venda da indulgência, pois acreditava que somente pela fé em Jesus Cristo o homem poderia ganhar a salvação.
O movimento luterano deu início ao protestantismo que hoje é também conhecido como o gigantesco ciclo evangélico e toda igreja evangélica tem no peito um coração luterano. Lutero é um divisor de águas na religião Católica com a sua Reforma, inclusive, o próprio Vaticano já ensaiou reabilitá-lo da excomunhão, pois a exegese contemporânea é a de que Lutero queria apenas combater a corrupção na Igreja sem desejar dividi-la. Lutero deixou uma produção intelectual e teológica baseada no Novo Testamento admirável e que serve de égide para as igrejas evangélicas. Lutero se casou com Catarina von Bora e inovou na religião ao permitir que os padres se casassem, quebrando assim o regime do celibato obrigatório da Igreja Católica.
A fidelidade de Lutero aos ensinamentos do cristianismo e na tradução da bíblia para a língua alemã salta aos olhos, mas o que poucos sabem é que, em janeiro de 1543, aos 60 anos de idade, Lutero rompeu também com o Judaísmo quando escreveu o livro, "Dos judeus e suas mentiras", que foi um dos livros mais lidos naquela época e exerceu grande influência na Alemanha.
A Alemanha foi palco de grandes movimentos sociais, pois além da Reforma luterana, foi lá que Karl Marx desenvolveu o marxismo lastreado na obra de Hegel e com a contribuição de Engels - todos alemães. Lutero era contrário a usura, mas teve que assistir atônito ao nascimento do capitalismo que gerou a expansão do império financeiro da família de banqueiros Rothschild que residi há séculos na Alemanha.
Curiosamente, as duas grandes guerras estiveram diretamente ligadas à Alemanha com o seu início e fim, inclusive, pelo controvertido Tratado de Versalhes, teria sido a provocadora da Primeira Guerra. É inegável a contribuição de Lutero na mudança cultural da Alemanha, pois o seu prestígio teológico e intelectual produziu o gigantesco movimento evangélico mundial...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 1 de julho de 2012

A velhíssima inveja - artigo - Diário do Nordeste


   No Antigo Testamento, há o relato da briga de Caim contra o seu irmão, Abel que, por inveja, acabou matando-o, sugerindo que a inveja é tão antiga e conhecida quanto a história da civilização. A Igreja Católica enumerou os Sete Pecados Capitais, mas é a inveja que é tida como mais terrível e grave — no livro, “O conto do Pároco”, é dito: “É certo que a inveja é o pior pecado que existe, porque todos os outros são pecados apenas contra uma só virtude, enquanto a inveja é contra toda virtude e contra tudo que seja bom”. A inveja existe na formação do sujeito e é até compreensível na criança e no adolescente, mas a persistência na fase adulta pode se tornar uma questão complexa e de difícil superação. No complexo de Édipo, boa parte do ódio sentido do menino é projetado no pai, pois sente inveja por ele possuir a mãe. A menina tem ciúme e inveja da mãe e deseja tomar o seu lugar para possuir e cuidar dos bebês que o pai lhe deu. É comum a mulher sentir inveja de outra mulher no quesito beleza física, elegância e status social, mas é no homem que se vê a maior visibilidade da inveja, pois, além do narcisismo, precisa ser o melhor no desempenho sexual, ter o pênis grande e o mais bem-sucedido nos negócios, daí invejar e não suportar saber que há outros melhores. O invejoso sofre em silêncio e queixa-se de sentimento de culpa, sugerindo ser uma repreensão inconsciente por causa da inveja, como fosse-lhe algo reprovável moralmente do qual não tem o domínio.
   Freud relacionou a inveja que a mulher sente do pênis aos seus impulsos agressivos, daí ter sugerido que as mulheres não são analisáveis por conta de que nunca conseguirão o pênis que desejam (Melanie Klein, 1991). Das camadas mais altas à mais baixa da sociedade encontra-se invejosos e não existe limite de idade e há pessoas que não cabem dentro de si de tanta inveja. O invejoso adulto é como camaleão, pois na frente do invejado se comporta como se fosse um príncipe, mas pelas costas age como sendo a reencarnação do Torquemada (Inquisidor-geral espanhol).
A inveja é tema recorrente na análise e o mestre Freud foi vítima do ódio de invejosos irrecuperáveis de dentro e de fora da psicanálise e Jacques Lacan se saía com essa quando esbarrava nos invejosos: “Façam como eu, não me invejem”.


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

terça-feira, 26 de junho de 2012

De olho na China - artigo - Observatório da imprensa



   Já se sabe que a China envia a diversos países milhares de professores para ensinar o mandarim, mas recentemente a mídia internacional revelou que os chineses enviarão também outros tantos de agrônomos para auxiliar na produção de alimentos usando o exitoso método chinês. Mas como não existe almoço de graça no capitalismo, tampouco caridade no comunismo, o tema merece uma análise imparcial. A China comunista tem uma história assustadora de dominação e de assassinatos – números conservadores apontam para 60 milhões de mortos pelos comunistas chineses – e muitos dos óbitos tiveram como causa justamente a fome, o que os chineses agora, de forma subliminar, em tese, querem acabar no mundo. Durante o Grande Salto Adiante, 1959-61, no Laogai, gulag maoísta, 20 milhões de chineses morreram de fome e é tida como a maior fome programada da história da civilização. Daí ser muito estranha essa investida “benevolente” da China em compartilhar seus métodos de produção de alimentos...
   A China vive hoje um crescimento econômico maior do que sua capacidade de produção, uma vez que a questão precária da energia, obtida principalmente por meio do carvão e que é altamente poluidor do meio ambiente, e a escassez de água será um desafio nos próximos anos, mas parece que os comunistas não estão nem aí para a saúde dos 1,3 bilhão de chineses – 80% da população chinesa é composta de humildes camponeses.
   Outra questão crucial na China é a comunicação, pois lá se falam próximo de 5 mil dialetos, centenas de patoás e o mandarim oficial, com os seus 10 mil caracteres, é por demais complexo. Daí sugerir que os chineses são manipulados sem que haja como reagir. A cultura milenar chinesa foi destruída por       Mao Tse-tung ainda em 1949, quando fundou a República Popular da China. Em 1950, por ocasião da invasão ao Tibete, um milhão e duzentos mil inocentes e inofensivos tibetanos foram assassinados e a explicação da Revolução Cultural maoísta era a de que estavam libertando o Tibete dos tibetanos – quem quiser que tente entender.
   Mao Tse-tung era marxista-lenista e implantou a censura plena e o controle total da população por meio da produção e distribuição de alimentos e do racionamento das reservas de água potável.
   Num país hermético, como a China, onde falar a verdade dá pena de morte, é prudente e sábio arregalar os olhos para essa investida “benevolente” dos híbridos chineses comunistas, pois, como diziam os próprios idealizadores do comunismo, no caso, Hegel e Marx, a história sempre se repete: na primeira vez acontece como tragédia, na segunda, como farsa...

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



terça-feira, 19 de junho de 2012

O fenômeno da rede Al-Jazira - artigo - Observatório da imprensa


Iniciadas suas transmissões via satélite em 1º de novembro de 1996, no Catar, a rede de televisão Al-Jazira tornou-se em pouco tempo um fenômeno de audiência no mundo árabe, pois apresenta conteúdo diverso, fugindo assim dos temas religiosos, anúncios e notícias previamente enviadas e controladas pelos órgãos governamentais. Concorrendo com outras duas emissoras de canais abertos arábicos que fazem diariamente a leitura do Corão – livro sagrado dos muçulmanos – e que também produzem e retransmitem programas de esportes e documentários, que são denominadas de Ghasab 1 e Ghasab 2. O fato é que com o fenômeno da Al-Jazira a cultura árabe modificou-se e até a arquitetura apresenta novidade, pois as casas passaram a ter nos telhados antenas para captar os sinais de satélite.
A Al-Jazira penetrou no impermeável controle que os governos árabes impunham aos meios de comunicação e a BBC de Londres, que era até então fonte dos governos árabes, visto a sua suposta independência, bem como a Rádio Monte Carlo, ambas foram desbancadas, pois os árabes agora têm o seu canal televisivo e de notícias independente captado por satélite em todo o planeta.
A Al-Jazira é a porta-voz das questões árabes no mundo e fonte para a grande mídia que se atreve a publicar as verdades do mundo com independência e sem manipulação. Não é fácil mudar a cultura de um povo, especialmente a de lá, em que a religião se sobrepõe aos governantes e há nítido puritanismo e machismo na sociedade e o conteúdo da mídia é de difícil acesso e controlado, como se vê no Relatório Árabe de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento de 2003, no qual o mundo árabe tem a pior classificação entre as sete regiões do mundo, com apenas 7% da população tendo acesso à internet – 60% das mulheres, segundo o Relatório, são analfabetas nos 22 países da Liga Árabe.
A sociedade árabe é patrilinear e o sangue, a honra, a família e a religião são sagrados naquela plaga, daí o grande mérito da Al-Jazira, pois introduziu na sua grade de programação notícias gerais, com espaço infantil e feminino, sem falar no destaque para as paixões dos árabes: a criação de cavalos e as competições de falcões.
O mundo árabe é resistente à modernidade e demorou a aceitar a globalização, mas os tempos são outros e hoje, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, por exemplo, é possível encontrar itens de consumo que ainda não foram lançados na Europa e nos EUA, sugerindo que está em andamento uma mudança cultural arábica e que a Rede Al-Jazira contribui para divulgá-la para o resto do mundo.

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



sábado, 16 de junho de 2012

Racismo explicado - artigo - Diário do Nordeste


Os estudos dos fósseis com crânios humanos começaram em 1800, em Engis, na Bélgica, depois no vale de Neander, na Alemanha, daí o nome do antiquíssimo primata: "Homem de Neanderthal", e forneceram elementos para o estudo da espécie humana. O debate sobre raça percorreu os séculos XVIII e XIX e, após breve parada, durante a Segunda Guerra, voltou à tona com novos estudos genéticos e antropológicos. Registrou-se, ainda em 1900, 29 raças; em 1937, 38; porém, no fim do século XX contava-se quase 200 raças humanas catalogadas, mas as teorias poligenéticas não se sustentaram, pois há somente uma espécie humana, daí sugerir que raça é uma criação do homem e não um elemento biológico - no século XV, em provençal, a palavra raça designava a escória da população. Há interesses políticos dominatórios obscuros para segregar a civilização em raças, exemplo: a escravidão, mas não há base cientifica para o naufragado discurso racial e eventuais diferenças são somente culturais. Em 1848, o filólogo Ernest Renan forjou o termo antissemitismo transformando-o numa questão racial, mas em 1855, publicou livro em que diz apoiar as teses de Darwin que, curiosamente, contradizem as suas - Darwin dizia existir três tipos de raças - A origem das espécies, de Darwin, seria publicado em 1859. Foi preciso esperar até 1932 para a palavra "racismo" aparecer nos dicionários europeus e, em 1948, na África do Sul, tornou-se Apartheid - o nome oficial dos negros na África do Sul é bantu. O anacrônico conceito de raça foi oficialmente abandonado pela Unesco em 1950 e depois pela comunidade científica que substituiu, com eufemismo, por etnia. Os avanços da ciência na descoberta do DNA, em 1953, e após a proclamação do projeto do Genoma Humano, em 2000, ganhou força a hipótese de que existe somente uma espécie humana e não há mais razão para cultuar a existência de raças entre os humanos. Em 1975, por iniciativa dos países árabes, africanos e do bloco soviético, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou uma resolução comparando o sionismo a uma forma de racismo por conta dos conflitos no Oriente Médio tidos então como raciais, porém, foi anulada em 1991. O conceito de raça, povo, paz, liberdade e igualdade varia culturalmente, mas há somente uma espécie humana...



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

terça-feira, 12 de junho de 2012

Em quem acreditar? - artigo - Observatório da imprensa


   Em 4 de junho comemorou-se o 23º aniversário do massacre na Praça da Paz Celestial, na China. As estimativas dos números das mortes civis na repressão do governo comunista chinês aos protestos dos estudantes na ocasião variaram entre 400 a 800 vítimas, segundo publicou na época o jornal americano The New York Times, mas segundo a Cruz Vermelha chinesa o número chegou a quase três mil.Porém, para os estudantes sobreviventes organizadores do protesto, os números se aproximam de quase dez mil vítimas.
   No dia 4 de fevereiro de 1946, Die Zeitung, órgão semioficial das forças aliadas, publicou matéria dizendo que o número de judeus mortos na II Guerra no denominado Holocausto era de 5.012.000, mas na edição de 1º de maio do mesmo ano o New York Times, da família judaica Ochs, publicou que o número era na verdade de seis milhões de vítimas.
   Seis anos depois, no dia 11 de maio de 1952, o professor judeu Listojewski declarou à revista The Broom, de San Diego, na Califórnia, nos EUA, sem que haja até hoje contestação, que “como estatístico, tenho me esforçado durante dois anos e meio em averiguar o número de judeus que pereceram durante a época de Hitler. A cifra oscila entre 350.000 e 500.000. Se nós, os judeus, afirmamos que foram 6.000.000, isto é uma infame mentira”.
   O professor judeu Norman G. Finkelstein, da Universidade de Nova York, no seu livro A indústria do Holocausto, editora brasileira Record, 6ª edição, ano 2010, na pág. 135, diz: “(...) O total de 6 milhões [de judeus mortos] não só fica mais insustentável, como os números da indústria do Holocausto se aproximam dos daqueles que negam o Holocausto. Levemos em consideração que o líder nazista Heinrich Himmler avaliou a população total dos campos, em janeiro de 1945, em menos de 700.000 e que, segundo Friedlander, cerca de um terço [233 mil] desse número foi eliminado por volta do mês de maio.”
   Há interesses inconfessáveis em aumentar ou diminuir números de mortos em tragédias que causam comoção social, mas os motivos para tanto podem ser diversos. Porém deve-se registrar que a imprensa sempre se açoda para divulgar um número que, depois de proclamado, quase nunca deseja resgatar a verdade. No caso do massacre na Praça da Paz Celestial, na China, a questão da censura chinesa pode ter induzido ao erro o New York Times na divulgação do total de número de vítimas, mas no da II Guerra parece que prevaleceu a regra fundamental dos historiadores: a história é escrita pelos vencedores...


 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



domingo, 3 de junho de 2012

América maçônica - artigo - Diário do Nordeste

A liberdade e a igualdade são direitos universais do homem e o discurso em defesa desses sacrossantos princípios é sedutor e não encontra resistência, daí o sucesso da Revolução Americana e da Francesa, mas o leitor tem o direito de saber a verdade por trás desse desejo de libertar e igualar os povos. A Revolução Americana - 1775-83 - lutava pela independência e foi a franco-maçonaria que arquitetou e executou o plano de construir o império que são hoje os EUA. A batalha armada tinha estratégias militares e esotéricas, pois as casas dos maçons tornaram-se abrigos para os demais, inclusive, eles identificavam as residências pelos símbolos maçônicos que, quando descobertos, eram trocados. Em 1787, na Filadélfia, foi elaborada uma nova Constituição substituindo a de 1781 - Artigos da Confederação - proclamada após a independência americana, mas os elementos para a nova carta magna foram extraídos de vários artigos publicados na imprensa de Nova Iorque, em 1788, dos articulistas federalistas: Alexander Hamilton (1755-1804), James Madison (1751- 1836) e John Jay (1745-1829), mas, curiosamente, os ditos artigos eram assinados por um tal de "Publius". Somente após a morte de Hamilton descobriu-se o "segredo" da autoria, pois Hamilton deixou documento reivindicando 63 dos 85 artigos publicados. Porém, a polêmica não terminou por aí, pois Madison reivindicou também a autoria de alguns artigos que Hamilton alegou ter escrito, mas o fato é que essa questão nunca foi analisada dessa forma: como se planejou a revolução, quem são os destinatários da liberdade e da igualdade e a fraude na autoria dos artigos que ensejaram a Constituição Americana...
Não foi por acaso que, em 30 de abril de 1789, o maçom e general George Washington, tornou-se o primeiro presidente dos EUA, inclusive, a cidade de Washington DC, sede da Casa Branca e da Maçonaria, tem na sua planta, em monumentos urbanos e na cédula de um dólar vários símbolos maçônicos...
Toda eleição americana a maçonaria tem articulação de bastidores, pois nenhum presidente sobrevive politicamente sem as bênçãos maçônicas... Que nenhum cientista político e/ou constitucionalista se sinta ofendido, mas todos os livros de Ciência Política e de Direito Constitucional precisam ser revisados urgentemente...



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista



terça-feira, 29 de maio de 2012

A “nova” crise econômica - artigo - Observatório da imprensa



Somente do século 17 até a crise financeira de 2008, nos EUA, provocada pela quebra do Banco Lehman Brothers, de origem judaica e que emprestava dinheiro somente para governos, ocorreram 60 crises econômicas. Porém, a crise de 2008 foi a mais grave dos últimos 75 anos e atingiu de forma reflexiva toda a economia global. O colapso econômico ocorrido de 1929 a 1933, conhecido como “A Grande Depressão”, aconteceu também nos EUA quando houve a quebra da Bolsa de Valores de Wall Street, em Nova York, e novamente a economia global foi contaminada reflexivamente e toda civilização teve que pagar pelo pato que somente alguns comeram...
“A Grande Depressão” gerou vários danos de todas as ordens ao homem e à sociedade em todo o mundo, pois a dignidade humana foi ferida de morte e as dificuldades financeiras até para alimentação e a higiene pessoal foram registradas. A ilusão da especulação financeira mostrou a sua face mais terrível e cruel produzindo sofrimento e aumentando significativamente as estatísticas de suicídio e dando margem para o surgimento de movimentos extremistas – exemplo: nazismo e fascismo – e foi a mola propulsora para o mais sangrento conflito de todos os tempos: a Segunda Grande Guerra.
A Grécia tem corroborado a hipótese de que a história se repete, pois com a crise econômica, e a ameaça de sair da zona do euro, os gregos correm aos bancos para sacar suas economias antes da possível troca da moeda e, quiçá, o colapso, assim como fizeram os romanos em 33 d.C durante o império de Tibério, que teve que injetar um milhão de peças de ouro pública na economia para evitar o colapso.
A Grécia vive uma crise existencial, pois no berço da filosofia e na terra helenística de Sócrates, Platão, Aristóteles e tantos outros gigantes do pensamento humano que ensinaram a bondade, a beleza, a literatura e a arte, os gregos encontram-se mergulhados numa crise econômica de dívida externa impagável, assim como toda a Europa.
O Estado de S.Paulo (14/5) publicou matéria da agência de notícias Reuters com o líder de um partido ultradireitista grego, Nikolaos Mihaloliakos, contestando a tese de que 6 milhões de judeus foram mortos na Segunda Guerra Mundial. “Não houve fornos, isso é uma mentira (...), não houve câmaras de gás também”, disse Mihaloliakos – toda vez que há crise econômica o antissemitismo ressurge. No dia 23 último, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse numa palestra em Harvard que a crise a atual poderá ser pior do que “A Grande Depressão”, sugerindo que a história se repete e que de novo nada tem a atual crise econômica...
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista