Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 26 de agosto de 2012

Apocalipse analisado - artigo - Diário do Nordeste


No último livro do Novo Testamento, o Apocalipse de João, há o relato em forma de profecias de tragédias que estariam para ocorrer - hecatombes, cataclismos, terremotos, tsunamis, guerras, pandemias, fome, etc. -, mas sem dar qualquer pista de data, sugerindo que já ocorreram outras vezes. Ainda no livro de João, há a menção a um número enigmático: "Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis" (Apocalipse 13:18); mas não se sabe exatamente a que se refere o tal número - o Armagedom é citado duas vezes no Apocalipse, 16:14-16, e seria o local em Israel onde ocorreria a batalha final entre o bem e o mal.
Nostradamus, no século XVI, fez 942 previsões que são relembradas toda vez que há grande tragédia. A biblioteca de Nostradamus foi incendiada e quase todos os seus livros viraram cinzas, mas há quem defenda que Nostradamus apenas reescreveu a história passada, pois sabia que o homem não muda e repete sempre a sua trajetória... Correu boato pela Europa que no ano de 1.666 chegaria à terra o verdadeiro Messias, filho de David, tão esperado pelos judeus, mas em 1.664 já se sabia o seu nome: rabino Shabbatai Zvi. Zvi nasceu em 1.626, em Esmirna, na Turquia e arrastou multidões de seguidores em Jerusalém e Safed, onde demonstrou saber cabalístico notável. Do dia 2 a 5 de setembro do ano 1.666, ocorreu o Grande Incêndio de Londres, destruindo milhares de casas e de prédios comerciais e públicos e acreditou-se que aquele ano era o apocalíptico e o nome de Shabbatai Zvi foi lembrado como Messias, mas era outro alarme falso... No dia 15 de setembro de 1.666, Zvi foi preso em Istambul e teve que escolher entre ser decapitado ou converter-se ao Islamismo. Convertido, Zvi recebia ainda 150 piastras por dia pelo seu trabalho de "Guardião das portas do Palácio".
Em várias culturas há a crença de que haverá o apocalipse e o juízo final, porém, somente o povo Maia, na América Central, sugeriu a data fatídica de 21 de dezembro próximo como o término da atual Era e o início da nova. Não há dúvida de que ocorre outra grande transição planetária e deve ser encarada com naturalidade, até porque é inevitável. Não se deve temer, mas não será fácil para ninguém...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 12 de agosto de 2012

A morte ritualizada - artigo - Diário do Nordeste

Na ilha indonésia de Bali, os balineses leem histórias, uns para os outros, quando estão preparando um sepultamento; e as histórias são dos arquivos das famílias e repetidas há séculos, mas o curioso é o motivo do ritual que é mantido em cerimônia por até três dias sem parar: evitar a aproximação dos demônios. Segundo a crença local, os demônios se apoderam das almas vulneráveis após a morte, mas a contação de histórias mantê-los-ia afastados.
No Brasil, em Mato Grosso, os Bororos reúnem as tribos nas aldeias para o ritual mortuário e fazem uma espécie de "enterro secundário", pois há inumação e exumação. Após alguns dias do sepultamento, sempre cantando, o corpo é exumado pelos Bororos e é lavado e depois enfeitado com penas policromas e o crânio é então transportado para as residências e servirá como lembrança do ente querido, como se fosse uma fotografia. No Tibete, o ritual mortuário é uma festa de libertação da alma, pois os tibetanos sabem da reencarnação e que o espírito sobrevive após a morte do corpo, daí o cortejo fúnebre ser encarado com naturalidade e sem histeria.
A cremação do corpo do falecido tem sido usada por empréstimo cultural em muitas culturas, pois foram os gregos que, no século VII a.C. implantaram-na no ritual mortuário, inclusive, no século imediato os hinduístas, na Índia, já também praticavam - há consenso de que o corpo deva ser cremado somente após 72 horas da morte cerebral. O povo judeu é o único contrário à cremação, pois considera profanação ao corpo do falecido. Na Índia, em Varanasi, todos os dias ao cair da noite, há o ritual mortuário de cremação dos mortos nas margens do rio Ganges, em que músicas, louvores e velas são utilizados em homenagem aos mortos, mas a contradição é que jogam as cinzas no rio Ganges poluindo-o, pois usam a água para beber e banhar-se.
A morte tem sido um mistério para a civilização, tanto no campo do outro mundo desconhecido, como no estudo do sofrimento dos entes queridos que ficam. Exceção do suicídio, a morte é um processo de libertação natural do espírito e deve assim ser encarado, portanto, o sofrimento, o luto e a ausência são compreensíveis, mas a vida continua e ninguém deve se entregar ao desânimo ou desistir de viver por conta do desencarne de um ente querido...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista