Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

sábado, 25 de dezembro de 2010

O preço do livro - artigo - Diário do Nordeste

O preço do livro

 

Por muito tempo, os livros não eram acessíveis, pois além do analfabetismo alarmante em todos os períodos da história, o alto preço do livro afastava os poucos leitores. Daí a existência das rodas de leitura, em que os partícipes rateavam o preço do livro para compartilhá-lo. Sempre houve na civilização uma elite nababesca e detentora do conhecimento e a humanidade fica refém desses polímatas, pois em sabendo ler, escrever e manipular as massas defendem e propagam causas, muitas vezes, inglórias.
Na Alemanha de Hitler, milhares de livros foram queimados em praças públicas para mostrar que eram nocivos e não tinham valor algum para o regime nazista; em contradição, a história registra que Hitler era um grande leitor de tudo; e ironicamente no seu livro, "Minha luta", que vendeu 12 milhões de exemplares, somente na Alemanha, se diz socialista. Na União Soviética, os escritores, poetas e intelectuais iam parar no gulag; e Na Revolução Cultural da China, destruíram-se milhares de livros que não interessavam ao regime comunista de Mao Tse-Tung; e no Tibete dezenas de bibliotecas inteiras foram destruídas e perderam-se conhecimentos milenares e importantes para a civilização. O Índice dos Livros Proibidos, ou "anticatálogo", oficializado pela Igreja Católica no Concílio de Trento, no século XVI, instituiu a censura ao conhecimento, tornando-o seletivo ao bel-prazer dos interesses dos clérigos.
Na Inquisição, o cidadão que "lia demais", ou "possuía livro inconveniente", poderia sufragar na fogueira num ritual exemplar de higienização do conhecimento. Na modernidade e com a tecnologia, o preço do livro despencou e hoje é acessível a muitos e deve-se estimular esse auspicioso investimento cultural da boa leitura na sociedade. Atribuo mais aos livros a qualquer outro fenômeno a produção intelectual, pois o que teria sido de Platão, Aristóteles, Darwin, Rousseau, Freud e outros tantos gigantes do pensamento humano se não fossem as leituras cotidianas? O conhecimento é universal e o livro é patrimônio da civilização, daí poder-se afirmar que os livros têm valor e não preço.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é Psicanalista

sábado, 18 de dezembro de 2010

Ensaio do poder - artigo - Diário do Nordeste

Ensaio do poder

 

Montesquieu, Rousseau, Voltaire, Kant e outros iluministas eram maçons e delinearam uma sociedade livre e sem os arbítrios dos reis. Porém, os maçons eram perseguidos pelos reis na Europa, inclusive, alguns países puniam com a pena de morte quem ingressasse na maçonaria por conta do então misterioso "segredo" maçônico. Daí, a sua resposta com a Revolução Francesa, quando se deu fim ao absolutismo, porém, mudou apenas o totalitário no poder. Há evidências de que o movimento revolucionário arquitetado por Marx nasceu por conta de um racha na sua comunidade e por ausência de doutrina capaz de se contrapor ao capitalismo. No entanto, quando o comunismo chegou à Rússia não havia prova de que o capitalismo lá estivesse implantado. A amizade de Marx com o industrial Engels é obscura e pode sugerir que havia um conluio dentro do plano da Revolução Proletária, pois não é razoável acreditar que Marx e Engels estivessem preocupados com a civilização e o "perigo" do capitalismo. Que nenhum marxista se sinta ofendido, mas chega a ser uma ironia acreditar que o desejo de Marx era de ver todos iguais e vivendo em lua de mel com a paz e a plena harmonia. Do epistolário de Marx, extrai-se um homem rude e longe de ser o novo Messias, como muitos marxistas acreditam sê-lo. O industrial e político americano Henry Ford publicou em 1922 o livro, "O Judeu Internacional: O Maior Problema do Mundo", revelando-se surpreendentemente antissemita e a sua "obra" foi idolatrada e usada por Hitler que chegou a homenageá-lo. Em 24 de outubro de 1929, a Bolsa de Valores de Nova Iorque quebrou e milhares de bancos foram à derrocada e milhares de empresas fecharam suas portas demitindo milhões de funcionários e o capitalismo levou um duro "golpe" que ocasionou a II Guerra, porém, curiosamente muitos saíram da crise maior do que antes. Onde houver dinheiro e/ou disputa pelo poder, desconfie, pois o desejo de dominação do homem supera qualquer outro sentimento e Maquiavel, que viveu dentro do poder e conhecia-o como poucos, deu-nos a lição primeira dos que jogam no poder: os fins justificam os meios.



Luís Olímpio Ferraz Melo - psicanalista

A imagem do advogado - artigo - OPOVO

Em incursão na Sibéria, um soldado do exército russo me perguntou a minha profissão e eu disse: advogado. O militar começou a rir e perguntei-lhe qual o motivo da risada. Na bucha respondeu que todo advogado é mentiroso e por isto ele achou graça. Por motivos óbvios, calado fiquei. Não se pode negar que a imagem do advogado na sociedade anda em baixa por conta de alguns colegas que não estão honrando a nossa nobilíssima profissão. Toda a categoria advocatícia encontra-se respingada por causa da exposição na mídia, quase que diariamente, apontando supostos desvios éticos de advogados. Não é justo toda a classe pagar por atos isolados de alguns. É cediço no Direito que todos têm o direito à ampla defesa e ao contraditório, mas há casos envolvendo colegas advogados em que as provas estão gritando e são por demais robustas; e negar os fatos é o mesmo que debochar da inteligência da opinião pública, até porque ninguém acredita mais nessas desculpas esfarrapadas.
Há evidências de que, tradicionalmente, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) é corporativista e evita punir desvios, mas deve mudar de postura urgentemente, pois toda a categoria foi lançada ao crivo da opinião pública e somente com rigor se conseguirá resgatar a imagem e a dignidade do advogado.
Depois da maratona, que é o curso de Direito, faz-se o Exame de Ordem para ingressar na OAB e os que passam têm que fazer juramento antes de começar a exercer a atividade privativa dos advogados, prometendo exercer a advocacia com dignidade, ética e defender a Constituição. Os que não cumprirem, o que voluntariamente prometeram, devem ser responsabilizados pela atual fratura exposta na imagem dos advogados. Corrupção e desvios éticos existem em todas as categorias profissionais, mas isto não pode jamais ser justificativa para aceitarmos passivamente na nossa nobilíssima classe dos advogados.

 
Luís Olímpio Ferraz Melo - Advogado e psicanalista

domingo, 12 de dezembro de 2010

Esperança para a paz - Artigo - Diário do Nordeste

Esperança para a paz

 

Tolstói, o gigante russo do pacifismo universal, quando oficial, por ocasião de uma marcha, diz ao militar que espancava o seu colega de farda: - Não se envergonha de tratar assim um de seus semelhantes? Você não leu o Evangelho? O militar teria respondido: - E você, não leu os regulamentos militares? A contradição da guerra está entre fazer o bem auxiliando o próximo e executar o mal para impor a autoridade, ambos os substantivos regulamentados por normas e leis que têm previstas sanções na terra; e a outra supostamente no céu. Antes não houvesse leis para regulamentar a conduta humana, mas que fosse aplicada a regra de ouro, milenar e universal, de fazer ao próximo somente aquilo que queres que te façam.
Ao se atribuir a autoria dos textos ditos sagrados da Bíblia a uma entidade superior antropomórfica e inseri-los no contexto das religiões, cometeu-se um grave equívoco histórico; e uma das consequências é o lamentável fanatismo. Não se sabe como foram feitas as traduções da Bíblia, pois somente no século XVI apareceram os primeiros dicionários bilíngues, sugerindo que os textos originais podem ter sido substancialmente alterados. No Novo Testamento, se retirarmos as quimeras, é possível afirmar que há conhecimento educacional universal e atemporal para a civilização, pois as parábolas são de valor inestimável e de uma profundidade indescritível.
A Terceira Guerra Mundial se avizinha, mas a Quarta poderá ser evitada se seguirmos o exemplo dos líderes pacifistas, como Tolstói que tanto influenciou outro gigante do pacifismo, Gandhi. Neste ano em que se comemora o centenário de desencarne do iluminado Tolstói e diante dos rumores de guerras inevitáveis, precisamos dar uma chance à paz e divulgar as augustas e sábias palavras proferidas e esculpidas no Novo Testamento, pois este antigo conhecimento poderá auxiliar a civilização na busca da almejada paz perpétua. Disse genial pensador: "Quando todos derem as mãos não haverá mais como se pegar em armas"; e Gandhi revelou: "A mim me bastou o Sermão da Montanha; por que o Evangelho inteiro não basta para os demais?".



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

domingo, 5 de dezembro de 2010

Freud e as mulheres - artigo - Diário do Nordeste

Freud e as mulheres

No século XIX, o jovem Freud e outros seus contemporâneos, definiram as mulheres como loucas, histéricas e hipnotizadas, porém, no acender das luzes do século XX, o Freud maduro amenizou o discurso em relação às mulheres, pois estava preocupado com o futuro da condição feminina. Nas famosas reuniões das "Quartas-feiras", em sua casa, em Viena, na Áustria, entre os anos 1902 e 1907, Freud repudiou a misoginia e dizia apenas que a mulher é um continente obscuro. Já na reta final da carreira perguntava-se com frequência: o que quer uma mulher? Essa é a pergunta freudiana para a qual, ainda hoje, não se tem a resposta. Lacan sugeriu que a mulher quer gozar - no sentido amplo da palavra - e seus seguidores embarcaram nessa tese. Alguns desejos parecem existir em quase todas as mulheres: casar e ter filho. O desejo de ter o filho seria a sua saída da fase da inveja do pênis, e o casar e ter família, a segurança que a mulher deseja para não "terminar sozinha", como temem. Passou despercebido por Freud e seus seguidores a questão da linguagem indefinida da mulher que pode fornecer elementos para a dificuldade delas de finalizarem os relacionamentos, pois quase sempre deixam em banho-maria os "ex". Há linguagem universal que as mulheres usam como indefinição: "pode ser"; "hoje não"; "outro dia"; "talvez", etc. Sem maldade, mas com algum exagero, a mulher fala sempre nos novos enlaces que há algo que ela nunca fez com outro, sugerindo querer presentear ou prestigiar o novo romance com aquela "primeira vez".
Há na mulher preocupação excessiva com o corpo e os cabelos, pois nunca estão satisfeitas e sempre acham que é possível melhorar, mas sofrem por conta desse desejo de perfeição. A mulher na contemporaneidade embarcou no barco furado das feministas que pregam pelo mundo afora a liberação total e a busca ilimitada por prazer, mas nunca mostram os efeitos colaterais desses comportamentos. Rousseau sugeriu em Émile, uma nova mulher, voltada para a família, pois este é desejo inato da mulher, inclusive Rousseau e Freud acreditavam que somente na família a mulher se realiza.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista