Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 26 de janeiro de 2014

O triunfo da religião - artigo - Jornal OPOVO



   A Iconoclastia foi um movimento político-religioso no Império Bizantino, no século VIII até o IX, que defendia a quebra das imagens ditas sagradas como forma de libertar o povo da veneração e do fanatismo, mas não houve êxito nesta investida. No período do Renascimento, na Europa, a religião voltou a ser prestigiada e quase metade das pinturas renascentistas é da Virgem Maria e um quarto de Jesus Cristo, sugerindo que sem a história da religião, provavelmente, não teria ocorrido esse importante movimento cultural. Na Revolução Francesa (1789-91), templos foram destruídos e o calendário modificado para as pessoas não irem aos cultos dominicais, mas de nada adiantou.
   A psicanálise surgiu no século XIX com o declínio do patriarcado e na descrença nas religiões devido às contradições e ao medo de novas inquisições. Sigmund Freud sabia que, para a psicanálise se universalizar, ele teria que afastá-la da religião, inclusive chegou a dizer que todas “eram ilusões” e “uma neurose obsessiva universal”. Jacques Lacan afirmou que a religião triunfaria sobre a psicanálise devido ao seu poder universal e, em 23 de março de 1960, no Seminário 7º, em Bruxelas, na Bélgica, Lacan faz o “Meu discurso aos católicos”, em que apresenta defesa de que a verdadeira religião é a romana — católica — e diz “que se a psicanálise não triunfar sobre a religião é porque a religião é inquebrantável. A psicanálise não triunfará: sobreviverá ou não”.
   Carl Gustav Jung estudou o Espiritismo e a paranormalidade, pois adorava o tema da alma humana — Jung tinha uma verdadeira fascinação por fenômenos ocultos. Numa época de sua vida, Jung disse terem ocorrido vários fenômenos mediúnicos e dizia que foram sinais de que teria que ir a uma sessão espírita, pois dizia que seu pai queria se comunicar. Jung participou de sessões espíritas por dois anos seguidos juntamente com sua mãe Émilie Preiswerk-Jung e a sua prima Helene Preiswerk que atuava como médium — inclusive a tese de doutorado de Jung, defendida em 1902, é sobre as sessões espíritas.
   Os céticos cientistas da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN) , em Genebra, na Suíça, que tentam provar a teoria do Big Bang, em que o universo teria sido criado por uma grande explosão, curiosamente denominaram a perseguida antimatéria de “Partícula de Deus”.
   Bilhões de pessoas no planeta seguem alguma religião na sua cultura, daí ser impossível provar que todas elas estejam erradas em suas crenças, muitas vezes, nada científicas.


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista


sábado, 11 de janeiro de 2014

A paz pede passagem - artigo - Jornal OPOVO


   No início do ano é momento de se renovar a esperança de que tudo irá melhorar no ano vindouro e que as pessoas serão mais humanas, solidárias, enfim, viverão em paz, como fazem nas festas da passagem do ano: se abraçam e se beijam, muitas vezes sem sequer se conhecerem. A predominância das roupas na cor branca da paz nas festas de Réveillon sugere ser um dos objetivos de vida: viver em harmonia com o próximo no ano que chega. No entanto, começamos as primeiras horas do ano novo assistindo atônitos a um crime brutal contra um colega advogado, cometido por causa de uma colisão de trânsito, como se a vida tivesse menos valor do que o conserto do veículo. No dia imediato, a imprensa revela que uma chacina vitimou quatro pessoas num conjunto habitacional e a polícia desconfia que tenha sido por causa de acerto de contas do tráfico de droga.
    E o que dizer dos bárbaros crimes passionais que ocupam diariamente as páginas policiais dos matutinos ocorrendo em todo o país, como se o amor e o ódio fossem a mesma coisa — esse não é o verdadeiro amor. A violência dá prazer em quem a pratica, pois ninguém faz nada sem sentir prazer, salvo sob coação, porém, quase todos parecem querer a paz, mas é preciso que se dê a contrapartida para que um dia a paz reine aqui na Terra. Vivemos numa época em que a vida não tem recebido o devido valor, pois a ineficácia do poder público em policiar as cidades, prender e condenar os que descumprem as leis já é inegável, daí muitos recorrerem à autotutela — justiça com as próprias mãos. Os traficantes de drogas têm suas próprias leis e em algumas localidades a polícia tem receio de adentrar por conta do “poder de fogo” do tráfico, acrescente a essa audácia a impunidade.
   A violência urbana é um fenômeno social que não respeita a esperança coletiva, mas não podemos jamais, em tempo algum, deixar de acreditar que um dia viveremos em paz....

Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista