Meu novo livro: Novas abordagens

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terça-feira, 31 de julho de 2012

A questão judaica na mídia - artigo - Observatório da imprensa


O livro Antissemitismo — a intolerável chantagem. Israel-Palestina, um ‘affaire’ francês?*, escrito a várias mãos por intelectuais judeus franceses, mostra as injustas acusações contra a mídia, especialmente a francesa, em relação à questão judaica e a manutenção do Estado de Israel e a estratégia de intimidação contra os que divergem publicamente acerca do sionismo – os judeus divergentes são rotulados maldosamente de “maus judeus”. O livro faz alerta para a confusão feita em relação à questão dos judeus e a do sionismo – criação do Estado de Israel. Ou seja, nem todo judeu é sionista, bem como se propõe a esclarecer a causa do aumento do antissemitismo e a tentativa velada de setores da mídia de rotular de antissemita, antissionista, negacionista e/ou racista quem critica o sionismo – o rótulo da moda é “judeofobia”.
A partir de 2001, foi notado na França o aumento do antissemitismo e os jornais estamparam em manchetes o tema. O alarmismo acerca da nova onda de antissemitismo levou o jornal Libération de 2 de abril de 2002, numa entrevista, a compará-lo a uma “nova Noite de Cristal” – em referência aos dias 9 e 10 de novembro de 1938 dos pogroms nazistas que pilharam as lojas judaicas na Alemanha. Outros jornais entraram no debate: “Antissemitismo: o que não se ousa dizer”, Le Nouvel Observateur, 6 de fevereiro de 2003; “Antissemitismo faz estragos!”, Marianne, 7 de abril de 2003; “O quadro negro do antissemitismo”, L’ Express, 10 de abril de 2003; “Antissemitismo, um mal francês?”, L’ Express, 17 de abril de 2003, entre outros tantos.
O livro em epígrafe auxilia na compreensão de como a boa mídia, no caso concreto, o jornal francês Le Monde, pode e foi injustamente acusado de ir contra Israel por conta de uma frase pinçada de um artigo de opinião que nada tem a ver com a linha editorial do jornal; outro caso foi o Libération que, equivocadamente, publicou uma legenda numa foto, mas que em seguida pediu desculpas pelo erro – porém, mesmo assim, foi tachado maldosamente de “diabolizar” Israel.
Os intelectuais autores do livro mostraram para o mundo que o sionismo está longe de ser unanimidade entre os judeus e, com denodo, denunciaram a perseguição que sofrem os críticos da manutenção do Estado de Israel e do conflito com os palestinos. A liberdade de expressão é colocada em segundo plano quando o tema é a questão judaica, pois quem falar, dependendo do país, é “intimidado”, como se o tema fosse um tabu...
No Brasil, a mídia parece preferir o silêncio a entrar no debate da questão judaica, do Estado de Israel e o conflito com os palestinos, como se o tema não dissesse respeito a toda a civilização...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista


* Antissemitismo – a intolerável chantagem. Israel-Palestina, um ‘affaire’ francês?, de Etienne Balibar et al, Rony Brauman e Judith Butler, Anima Editora, 2004





domingo, 29 de julho de 2012

A cultura do adultério - artigo - Diário do Nordeste



A Torá diz que o Rei David cometeu adultério com Bat Sheva esposa de Uriah, mas que não foi punido porque assim quis o Criador; e em, O Livro do Esplendor, o Criador complementa: "O que quer que David tenha feito, foi feito com minha permissão. Porque nenhum homem vai à guerra sem antes dar a sua esposa um ´guet´ (carta de divórcio)" (Zohar, 133). Porém, o adultério na cultura judaica é proibido e punível (Torá, Vayikra, 20,10), mas a regra recepcionada no Novo Testamento seguido pelo cristianismo no mandamento: "Não cobiçarás a mulher do próximo", dá margem para interpretação quanto à mulher cobiçar o homem da outra.
Nos países de cultura muçulmana, o adultério é punido com rigor, mas o Alcorão admite o perdão se a adúltera se arrepender (Surata, IV), mas a jurisprudência islâmica entende diversamente - a cultura islâmica, ao impor punições severas, tenta proteger a família, mas de forma cruel. A cultura patriarcal era poligâmica e a mulher, quase sempre, não escolhia seu marido, além de ter que casar virgem, sob pena de severa punição - na cultura muçulmana há a infibulação: costura da vagina. No século XIV, na Europa, era comum a mulher usar o "cinto de castidade", pois havia o temor de filhos adulterinos na família, o que comprometeria a divisão da herança e iria contra os costumes.
Na Revolução Puritana, na Inglaterra, no século XVII, a mulher adultera tinha que usar roupa com a letra "A" estampada identificando-a. Em 1715, o rei de Portugal, Dom José, assinou lei para expor os traídos, pois a pessoa que tomasse conhecimento de uma traição deveria pendurar chifres na porta da casa do traído, daí a origem do "levou um chifre". Os esquimós não reconhecem o adultério, inclusive, ofertam suas esposas aos visitantes convidados para dormirem juntos como sinal de amizade. Na Europa contemporânea, há uma flexibilização nas relações afetivas e em muitos países os amantes optam por relações abertas em que não há adultério quando trocam de parceiros. As culturas que punem com a morte os adúlteros priorizam a honra ao invés de prestigiar a vida; no Nordeste, do Brasil, por exemplo, a cultura machista estigmatiza a mulher pilhada em adultério, mesmo não sendo crime, mas, numa ou noutra cultura, não há evidências de que o adultério tenha decaído...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 15 de julho de 2012

Alemanha luterana - artigo - Diário do Nordeste


O jovem alemão Martinho Lutero rompeu com a Igreja Católica aos 34 anos de idade, em 1517, quando publicou as suas 95 teses discordando do sistema papal em vigor naquela época - em poucos meses toda a Europa conheceria o pensamento de Lutero. Ele discordava da infalibilidade do papa e da venda da indulgência, pois acreditava que somente pela fé em Jesus Cristo o homem poderia ganhar a salvação.
O movimento luterano deu início ao protestantismo que hoje é também conhecido como o gigantesco ciclo evangélico e toda igreja evangélica tem no peito um coração luterano. Lutero é um divisor de águas na religião Católica com a sua Reforma, inclusive, o próprio Vaticano já ensaiou reabilitá-lo da excomunhão, pois a exegese contemporânea é a de que Lutero queria apenas combater a corrupção na Igreja sem desejar dividi-la. Lutero deixou uma produção intelectual e teológica baseada no Novo Testamento admirável e que serve de égide para as igrejas evangélicas. Lutero se casou com Catarina von Bora e inovou na religião ao permitir que os padres se casassem, quebrando assim o regime do celibato obrigatório da Igreja Católica.
A fidelidade de Lutero aos ensinamentos do cristianismo e na tradução da bíblia para a língua alemã salta aos olhos, mas o que poucos sabem é que, em janeiro de 1543, aos 60 anos de idade, Lutero rompeu também com o Judaísmo quando escreveu o livro, "Dos judeus e suas mentiras", que foi um dos livros mais lidos naquela época e exerceu grande influência na Alemanha.
A Alemanha foi palco de grandes movimentos sociais, pois além da Reforma luterana, foi lá que Karl Marx desenvolveu o marxismo lastreado na obra de Hegel e com a contribuição de Engels - todos alemães. Lutero era contrário a usura, mas teve que assistir atônito ao nascimento do capitalismo que gerou a expansão do império financeiro da família de banqueiros Rothschild que residi há séculos na Alemanha.
Curiosamente, as duas grandes guerras estiveram diretamente ligadas à Alemanha com o seu início e fim, inclusive, pelo controvertido Tratado de Versalhes, teria sido a provocadora da Primeira Guerra. É inegável a contribuição de Lutero na mudança cultural da Alemanha, pois o seu prestígio teológico e intelectual produziu o gigantesco movimento evangélico mundial...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 1 de julho de 2012

A velhíssima inveja - artigo - Diário do Nordeste


   No Antigo Testamento, há o relato da briga de Caim contra o seu irmão, Abel que, por inveja, acabou matando-o, sugerindo que a inveja é tão antiga e conhecida quanto a história da civilização. A Igreja Católica enumerou os Sete Pecados Capitais, mas é a inveja que é tida como mais terrível e grave — no livro, “O conto do Pároco”, é dito: “É certo que a inveja é o pior pecado que existe, porque todos os outros são pecados apenas contra uma só virtude, enquanto a inveja é contra toda virtude e contra tudo que seja bom”. A inveja existe na formação do sujeito e é até compreensível na criança e no adolescente, mas a persistência na fase adulta pode se tornar uma questão complexa e de difícil superação. No complexo de Édipo, boa parte do ódio sentido do menino é projetado no pai, pois sente inveja por ele possuir a mãe. A menina tem ciúme e inveja da mãe e deseja tomar o seu lugar para possuir e cuidar dos bebês que o pai lhe deu. É comum a mulher sentir inveja de outra mulher no quesito beleza física, elegância e status social, mas é no homem que se vê a maior visibilidade da inveja, pois, além do narcisismo, precisa ser o melhor no desempenho sexual, ter o pênis grande e o mais bem-sucedido nos negócios, daí invejar e não suportar saber que há outros melhores. O invejoso sofre em silêncio e queixa-se de sentimento de culpa, sugerindo ser uma repreensão inconsciente por causa da inveja, como fosse-lhe algo reprovável moralmente do qual não tem o domínio.
   Freud relacionou a inveja que a mulher sente do pênis aos seus impulsos agressivos, daí ter sugerido que as mulheres não são analisáveis por conta de que nunca conseguirão o pênis que desejam (Melanie Klein, 1991). Das camadas mais altas à mais baixa da sociedade encontra-se invejosos e não existe limite de idade e há pessoas que não cabem dentro de si de tanta inveja. O invejoso adulto é como camaleão, pois na frente do invejado se comporta como se fosse um príncipe, mas pelas costas age como sendo a reencarnação do Torquemada (Inquisidor-geral espanhol).
A inveja é tema recorrente na análise e o mestre Freud foi vítima do ódio de invejosos irrecuperáveis de dentro e de fora da psicanálise e Jacques Lacan se saía com essa quando esbarrava nos invejosos: “Façam como eu, não me invejem”.


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista