Meu novo livro: Novas abordagens

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sábado, 7 de setembro de 2013

A religião na Rússia - artigo - Jornal OPOVO


   O xamanismo surgiu na Sibéria, na Rússia, há 40 mil anos e é tido como a tradição religiosa mais antiga, mas a cultura religiosa milenar russa passou por diversas transformações, porém foi no rompimento da Igreja Ortodoxa russa com Roma, no século XI, que muita coisa mudou — os católicos apostólicos romanos ficam de joelhos quando rezam; já os católicos ortodoxos russos, em pé. Outra mudança religiosa cultural de grande impacto na Rússia se deu na Revolução Outubro de 1917, liderada por Lênin do partido comunista, que tinha na sua doutrina o desejo de destruir a religião na Rússia.
   A Igreja Ortodoxa na Rússia imperial era a religião oficial dos monarcas (czares, em russo) de 1546 a 1917, mas com o novo regime comunista, foi decretado por Lênin, em 5 de fevereiro de 1918, a separação da Igreja do Estado. Lênin elegeu a Igreja Ortodoxa como inimiga do Estado comunista e organizou “carnavais antirreligiosos” durante as comemorações religiosas para inviabilizar os eventos. Em 26 de fevereiro de 1922, Lênin publicou um decreto governamental ordenando o confisco imediato de todos os objetos preciosos existentes nas igrejas russas, especialmente o ouro, a prata e as pedras preciosas. Neste mesmo ano, 2.691 padres, 1.962 monges e 3.447 freiras foram barbaramente assassinados pelos comunistas. Os principais líderes soviéticos da revolução comunista eram judeus — Lênin, Trotski, Zinoviev, Kamenev, Rykov, Radek e outros tantos — e a população contrária ao comunismo gritava palavras de ordem nos protestos: ”Fora os judeus! Fora o Comunismo!”, inclusive não há registros de destruição de sinagogas na Rússia neste período.
   Vários recursos foram utilizados pelos comunistas para “converterem” os cristãos ortodoxos ao ateísmo, conforme prega o comunismo, inclusive com a privação da comida, água, prisão nos campos de concentração (gulag, em russo) e, na persistência, o paredão de fuzilamento. A tardia encíclica papal do papa Pio XI, datada de 19 de março de 1937, condenando o comunismo, não conseguiu evitar os 20 milhões de assassinatos na Rússia pelos comunistas, muitos deles por resistência à mudança cultural religiosa.
   A constituição atual da Rússia diz que o país é laico, ou seja, todas as crenças religiosas deveriam ser respeitadas, mas uma lei de 26 de setembro de 1997, estabelece e reconhece que a Igreja Ortodoxa, o Budismo, o Islamismo e o Judaísmo são religiões tradicionais russas, o que inviabiliza a proliferação de novas religiões e cultos religiosos.

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista e autor do livro Novas abordagens.