O xamanismo surgiu na Sibéria, na Rússia, há 40 mil anos e é tido como a
tradição religiosa mais antiga, mas a cultura religiosa milenar russa passou por
diversas transformações, porém foi no rompimento da Igreja Ortodoxa russa com
Roma, no século XI, que muita coisa mudou — os católicos apostólicos romanos
ficam de joelhos quando rezam; já os católicos ortodoxos russos, em pé. Outra
mudança religiosa cultural de grande impacto na Rússia se deu na Revolução
Outubro de 1917, liderada por Lênin do partido comunista, que tinha na sua
doutrina o desejo de destruir a religião na Rússia.
A Igreja Ortodoxa na Rússia imperial era a religião oficial dos monarcas
(czares, em russo) de 1546 a 1917, mas com o novo regime comunista, foi
decretado por Lênin, em 5 de fevereiro de 1918, a separação da Igreja do Estado.
Lênin elegeu a Igreja Ortodoxa como inimiga do Estado comunista e organizou
“carnavais antirreligiosos” durante as comemorações religiosas para inviabilizar
os eventos. Em 26 de fevereiro de 1922, Lênin publicou um decreto governamental
ordenando o confisco imediato de todos os objetos preciosos existentes nas
igrejas russas, especialmente o ouro, a prata e as pedras preciosas. Neste mesmo
ano, 2.691 padres, 1.962 monges e 3.447 freiras foram barbaramente assassinados
pelos comunistas. Os principais líderes soviéticos da revolução comunista eram
judeus — Lênin, Trotski, Zinoviev, Kamenev, Rykov, Radek e outros tantos — e a
população contrária ao comunismo gritava palavras de ordem nos protestos: ”Fora
os judeus! Fora o Comunismo!”, inclusive não há registros de destruição de
sinagogas na Rússia neste período.
Vários recursos foram utilizados pelos comunistas para “converterem” os
cristãos ortodoxos ao ateísmo, conforme prega o comunismo, inclusive com a
privação da comida, água, prisão nos campos de concentração (gulag, em russo) e,
na persistência, o paredão de fuzilamento. A tardia encíclica papal do papa Pio
XI, datada de 19 de março de 1937, condenando o comunismo, não conseguiu evitar
os 20 milhões de assassinatos na Rússia pelos comunistas, muitos deles por
resistência à mudança cultural religiosa.
A constituição atual da Rússia diz que o país é laico, ou seja, todas as
crenças religiosas deveriam ser respeitadas, mas uma lei de 26 de setembro de
1997, estabelece e reconhece que a Igreja Ortodoxa, o Budismo, o Islamismo e o
Judaísmo são religiões tradicionais russas, o que inviabiliza a proliferação de
novas religiões e cultos religiosos.
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista e autor do livro
Novas abordagens.