Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Um leitor na Palestina - artigo - Jornal O Estado




Desembarcando na Palestina e contrariando quase tudo o que havia lido até então sobre aquele paraíso, deparei-me com outra realidade e descobri contradições que me deixaram perplexo e que desejo compartilhar com os demais leitores de O Estado.
A Palestina praticamente não existe mais, pois Israel ocupa-a quase toda. Na Resolução da ONU nº 181, de 1947, aprovada por 33 votos favoráveis e 13 contrários, Israel deveria ter ficado com 51% do território palestino, mas já na guerra de tomada de posse, em 1948-49, ficou com 78%. Como se não bastasse, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, tomou mais quase 20% do território palestino — Cisjordânia e a Faixa de Gaza, em Jerusalém Oriental, as Colinas do Golan, na Síria e o Monte Sinai, no Egito.
Por conseguinte, o Conselho de Segurança da ONU, por unanimidade, determinou na Resolução nº 242, de 1967, a Israel que devolvesse imediatamente as terras ocupadas, mas até hoje isso não ocorreu.
O sionismo diz, em apertada síntese, que os judeus somente estariam seguros se tivessem um Estado judaico, no caso, Israel. Fundamentaram essa hipótese nas perseguições históricas sofridas pelo povo judeu, especialmente o Holocausto na Segunda Guerra, onde, supostamente, teriam morrido 6 milhões de judeus.
Porém, o sionismo perdeu força quando os números de mortos foram revisados. No dia 21 de setembro de 1989, a Agência de Notícias Tass, de Moscou, na Rússia, informou que a Cruz Vermelha havia liberado a lista com os nomes dos mortos nos campos de concentração na Alemanha durante o nazismo e revelou o surpreendente número de 75 mil óbitos, sugerindo que não houve Holocausto com 6 milhões de judeus mortos.
Chama a atenção a falta de debate sobre a palestina, pois toda a civilização poderá ser atingida de forma reflexiva se o conflito não encontrar uma solução pacífica, pois há vasto arsenal termonuclear em Israel e nos países árabes limítrofes...
A maioria dos judeus é contra o sionismo e o judeu Sigmund Freud já havia dito, numa carta datada de 26 de fevereiro de 1930, para Chaim Koffer, membro da fundação em prol da reinstalação dos judeus na Palestina, a sua posição contrária ao sionismo: “(...) Porém, por outro lado, não creio que a Palestina venha um dia a se tornar um Estado judeu nem que o mundo cristão, assim como o mundo islâmico, possa um dia estar disposto a confiar seus lugares sagrados à guarda dos judeus. (...) Não consigo sentir a menor simpatia por uma devoção mal interpretada, que faz de um pedaço do muro de Herodes uma relíquia nacional e, em nome dela, desafia os sentimentos dos habitantes da região”...

Luis Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



domingo, 27 de janeiro de 2013

Ensaio de Montaigne - artigo - Diário do Nordeste


O ano de 1570 foi muito importante na vida do francês Michel de Montaigne, pois aos 37 anos de idade, ele vendeu o seu cargo de magistrado num tribunal - naquela época já era comum isso, mas Montaigne achava um "absurdo" esse costume antes de vender a sua toga - e resolveu dedicar-se à produção intelectual, refugiando-se na sua vasta biblioteca - escreveu numa das colunas: "Não há nada certo exceto a incerteza". Montaigne era irônico e ambíguo e observou, antes mesmo de Freud, a questão dos sonhos e da sexualidade humana com frieza, inclusive Freud leu seus "Ensaios" com bastante atenção e interesse. Montaigne era tido como moralista, mas pelos "Ensaios" parecia mais um antropólogo, ou mesmo um historiador; recomendava aos seus leitores viagens como meio de aprimoramento moral e para o conhecimento de outras culturas.
Montaigne inaugurou um gênero literário, os "Ensaios", e chegou a dizer que os três volumes dos seus "Ensaios" eram o único livro no mundo do gênero. "Ensaios" de Montaigne são plurais no sentido de delimitação de temas, pois tratou de vários assuntos e acabou inscrito nos Índices dos Livros Proibidos da Igreja Católica, em Roma, em 1676, pois influenciava e exortava o pensamento livre da sociedade, coisa que a Igreja detestava. Montaigne foi imparcial ao que observava em suas viagens e registrou tudo em longos diários.
Quando a Europa felicitava-se com a descoberta da pólvora e da imprensa, Montaigne lembrava que os chineses, do outro lado do planeta, já haviam descoberto mil anos antes. Montaigne seria hoje, pelo rigor acadêmico, um autor contraditório e polêmico, mas deu uma contribuição intelectual admirável, inclusive, Lévi-Strauss, o gigante antropólogo estruturalista, homenageou-o com o título de um de seus livros: "Pensamento selvagem", em referência ao ensaio de Montaigne sobre os canibais. Tido como um clássico da literatura, "Ensaios", de Montaigne, tem mais de uma interpretação, mas se não tivesse, deixaria de ser um clássico, pois as obras são sempre reinterpretadas a cada geração, inclusive, os livros revelam-se interessantes ao serem adaptados a outras culturas, exemplo: uma anedota pode ser engraçada numa cultura, mas noutra não ter qualquer sentido, daí haver a necessidade de adequação na tradução...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Paraíso quase perdido - artigo - Jornal OPOVO


O livro Paraíso perdido, do poeta cego inglês do século 17, John Milton, fala da queda do homem que teria ousado desobedecer às leis de Deus e de um grupo que teria iludido muitos com a promessa de um novo mundo criado no caos em algum lugar da escuridão.
As belezas naturais do Ceará são conhecidas mundialmente e movimentam o turismo na Capital e nas paradisíacas praias litorâneas há décadas. Porém, não há evidências de que o fluxo turístico tenha conseguido trazer ao Ceará benefícios capazes de justificar o seu constante incremento, pois na mesma proporção do crescimento desse nicho de mercado houve por “empréstimo cultural” de outros países o aumento do consumo e do tráfico de drogas e da prostituição nas chamadas “zonas turísticas” — já alastrado por todo o Estado.
A Copa do Mundo é um evento que movimenta apaixonadamente quase toda a civilização, pois congrega boa parte das seleções das nações ao mesmo tempo em belas disputas; e bilhões de dólares circulam em prol do evento.
A Copa de 2014 será no Brasil e o nosso paradisíaco Ceará sediará apenas “meia dúzia” de jogos. No entanto, gastará alguns bilhões de reais para se enquadrar às exigências dos cartolas organizadores.
O lamentável é que há outras prioridades reclamando solução urgente, porém, não há o mesmo açodamento. Exemplo: a questão da severa seca histórica que assola o interior do Estado e que tem levado desespero, sede, fome e morte às famílias dos sertanejos.
Outro ponto que reclama urgência é a segurança pública, pois a violência urbana não dá sinais de trégua ou indícios de que até a Copa de 2014 diminuirá. É “gol contra”. Não há prioridade maior para um governo do que garantir o direito à vida e à dignidade do cidadão.
A Copa do Mundo é supérflua e não há qualquer garantia de que o nosso Ceará sairá vencedor desse certame em matéria de benefícios reflexivos.
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista

sábado, 12 de janeiro de 2013

Solução salomônica - artigo - Diário do Nordeste



   Numa carta datada de 26 de fevereiro de 1930, o judeu Sigmund Freud revela a Chaim Koffer, membro da fundação em prol da reinstalação dos judeus na Palestina, a sua posição contrária ao sionismo: “(...) Porém, por outro lado, não creio que a Palestina venha um dia a se tornar um Estado judeu nem que o mundo cristão, assim como o mundo islâmico, possa um dia estar disposto a confiar seus lugares sagrados à guarda dos judeus. (...) Não consigo sentir a menor simpatia por uma devoção mal interpretada, que faz de um pedaço do muro de Herodes uma relíquia nacional e, em nome dela, desafia os sentimentos dos habitantes da região”.
   O professor catedrático judeu de História da Universidade de Montreal, no Canadá, Yakov M. Rabkin, no seu livro, “Judeus contra judeus — a história da oposição judaica ao sionismo”, revela algo que o leitor ainda não sabia: a maioria dos rabinos e judeus tradicionais é contrária ao sionismo e à manutenção do Estado de Israel, pois vai contra o ensinamento originário do Judaísmo e é uma desobediência aos “Três Juramentos” feitos pelo povo judeu por ocasião da derrubada do segundo templo de Jerusalém no ano de 70 d.C. — 1º, Israel não suba os muros; 2º, Deus fez Israel jurar que não se rebelaria contra as nações do mundo; e o 3º, Deus fez os idólatras jurarem que não oprimiriam Israel em demasia. O sionismo aumentou o antissemitismo e é apresentado entre rabinos e judeus como um perigo mais grave do que todos os falsos messias — pichações de judeus nos muros no bairro Mea Shearim, em Jerusalém, diziam: “O judaísmo e o sionismo são diametralmente opostos”.
   Na resolução da ONU nº 181, Israel ocuparia 51% da Palestina, mas já na guerra de tomada de posse, em 1948-49, ocupou 78% expropriando as terras de 700 mil palestinos. Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel ocupou a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, em Jerusalém Oriental, as Colinas do Golan, na Síria e o Monte Sinai, no Egito. O Conselho de Segurança da ONU, por unanimidade, determinou, na Resolução nº 242, de 22 de novembro de 1967, que Israel devolvesse as terras ocupadas que representam aproximadamente 20% — ou seja, Israel ocupa quase toda a Palestina. A solução salomônica para reinar a paz na Palestina é jurídica: Israel deve cumprir as Resoluções da ONU...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A questão palestina - artigo - Jornal OTEMPO de Minas Gerais


 Trata-se duma das questões mais importantes para a civilização. Pouco debatida e explicada, o leitor fica sem formar opinião por conta das várias versões sobre os fatos. Após a queda do último governo da Judeia e a destruição de Jerusalém, no ano 70, a região mudou de nome e passou a ser conhecida como "o país dos filisteus", ou Palestina, pois o desejo do Império Romano era desjudeizá-la. A Palestina transformou-se, ao longo desses dois milênios, numa cultura genuinamente árabe e palestino-muçulmana, pois a grande maioria dos judeus emigrou em diásporas para a Europa, África, Rússia e, depois, para os Estados Unidos. O Estado de Israel foi fruto do movimento sionista, que defendia, em apertada síntese, que os judeus somente estariam seguros se tivessem um Estado judaico para protegê-los das perseguições. A doutrina do sionismo foi fundada por Teodoro Herzl (1860-1904), que esteve apenas uma vez na Palestina.
A ONU aprovou, em 29 de novembro de 1947, por 33 votos a favor e 13 contra, a Resolução nº 181, que criaria o Estado de Israel e outro, palestino, que ainda não foi reconhecido completamente pela organização. Israel deveria ocupar 51% do território palestino, mas já na guerra pela posse, em 1948-49, ocupou 78% dele e expropriou 700 mil palestinos de suas terras. Apontada como obstáculo para a paz, hoje, a Guerra dos Seis Dias, contra o Egito, a Síria e a Jordânia, foi iniciada em 5 de junho de 1967, resultando na Resolução nº 242, do Conselho de Segurança da ONU, de 22 de novembro de 1967, que determinou, por unanimidade, que Israel devolvesse imediatamente cerca de 20% das terras ocupadas - a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental, as colinas de Golan, na Síria, e o monte Sinai, no Egito - à Palestina. Israel tem problema gravíssimo de falta de água, devido à seca severa; as fontes do rio Jordão estão na Cisjordânia e concentram 30% da água da Palestina.
   As diversas tentativas de acordo para a paz entre judeus, árabes e palestinos muçulmanos naufragaram em Oslo I e II, Camp David, Taba e Mapa da Estrada - a moeda de troca foi, quase sempre, ofertar terras pela paz.
   Em 14 de junho de 2002, Israel começou a construção de uma "barreira de segurança" na Cisjordânia (em Samaria e Judeia, nomes bíblicos), alegando que é para segurança dos israelenses, por causa dos atentados terroristas. Os palestinos chamam-na de "muro de anexação", uma vez que inviabilizou a vida social e econômica de várias comunidades palestinas, que dependem de áreas contínuas para sua sobrevivência, o que aumenta a tensão e reduz ainda mais as esperanças de novas tentativas de paz na Palestina.
   Recentemente, a ONU elevou o status da Palestina para Estado Observador, dando, assim, efetividade e eficácia parcial à Resolução nº 181, de 1947, mas uma solução definitiva para a paz continua longe...


LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista