Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

domingo, 30 de janeiro de 2011

Os filhos na família - artigo - Diário do Nordeste

Os filhos na família

 

Freud dizia que a família era composta de heróis trágicos que ora se atraíam, ora se agrediam e ora se matavam, mas que a família é viável e necessária para a formação do sujeito. A família é um espinheiro indispensável à civilização, não que o sujeito seja masoquista, mas o desejo da família advém do instinto inato da preservação da espécie que cada um traz dentro de si. Na contemporaneidade acontece fato interessante de ser estudado: a família desagrega-se, mas todos a querem. Os filhos dão sobrevida aos relacionamentos conjugais, mas também são os que mais dão trabalho, pois não é fácil educá-los para a vida numa sociedade que abandonou quase todas as virtudes e onde o vício e a maledicência encontram-se por toda parte. Os filhos culpam os pais por tudo, mas esquecem que um dia serão também pais e acabam criando uma espécie de brincadeira infantil do "desconta lá" e o sentimento de culpa se instala em forma de círculo. Não há posição mais cômoda dentro da família do que ser ou fingir-se de vítima, mas assim como os pais têm a obrigação de educar os filhos, os filhos por sua vez têm o dever de obedecê-los e procurar fazer o melhor possível para reconhecê-los pelo trabalho e as noites de insônia que deram causa. Os pais não devem se sentir culpados por conta de qualquer ato dos filhos, pois muitas vezes fazem de tudo, mas mesmo assim, o filho desgarra e segue com seu livre-arbítrio caminho desaconselhado. Se fizer pouco, o filho reclamará, mas se fizer muito poderá acusar de tê-lo mimado e não ter lhe dado oportunidade de conhecer as dificuldades da vida. Os filhos e os pais precisam se conquistar um pelo outro e não somente de forma unilateral, como pensam e desejam muitos filhos. Desde tempos imemoriais há a ingratidão dos filhos na família, mas é preciso adverti-los que a função dos pais é nobilíssima e precisa ser reconhecida e não anulada e/ou diminuída. Disse genial poeta: (...) Você me diz que seus pais não entendem/Mas você não entende seus pais/Você culpa seus pais por tudo/E isso é absurdo/São crianças como você/O que você vai ser, quando você crescer?



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

sábado, 29 de janeiro de 2011

Reflexões maçônicas - artigo - jornal OPOVO - Espiritualidade


Reflexões maçônicas

 

   Tem-se sempre questionado se a sociedade secreta denominada Maçonaria é ou não uma religião, ou apenas uma confraria masculina em que seus partícipes reúnem-se e juram guardar segredos. A questão é complexa, mas hoje quero dar uma contribuição para auxiliar na compreensão do leitor do que é a franco-maçonaria. Há várias hipóteses de datas para o surgimento da Maçonaria, mas a mais recorrente na modernidade é a fundação da loja maçônica na Taverna da Macieira, em Londres, Inglaterra, em 24 de junho de 1717. Sabe-se que a Maçonaria aceita homens de qualquer religião, mas todos têm apenas que acreditar num deus – o da Maçonaria é o Grande Arquiteto do Universo. A Maçonaria preenche os requisitos genéricos para ser considerada uma religião no sentido formal, pois há adorações, crenças, imagens, rituais e cultos, mas os maçons não admitem ser uma religião.
   A Maçonaria foi copiada da sociedade secreta israelense dos “Irmãos Essênios” que se confunde com a Maçonaria em vários momentos da História; e em algumas tradições religiosas é dito, mesmo sem provas materiais, que Jesus Cristo teria sido maçom da antiga ordem maçônica – ou essênica – e sua perseguição e morte ocorreram por conta de Ele ter revelado os segredos que os fariseus queriam guardar para uso próprio. Daí sugerir a razão do repúdio da Maçonaria à imagem da cruz e ao crucifixo por conta deste obscuro evento. A Maçonaria é composta, na sua maioria, por homens honrados e dignos, mas somente pouquíssimos chegam ao grau máximo – 33º grau no Rito Escocês Antigo e Aceito – quando o maçom conhece todos os segredos da Maçonaria. Somente no quarto grau é revelada ao maçom a palavra secreta: "Jah-Bul-On", que é uma variação de quatro línguas: caldeu, hebraico, siríaco e egípcio; e o símbolo que supostamente substitui a cruz na Maçonaria é o compasso e o esquadro – instrumentos dos construtores.
   A Igreja Católica, que é cristã, perseguiu os maçons na Inquisição, pois acreditava que a Maçonaria era uma ameaça ao domínio da religião católica; e Hitler e Mussolini também perseguiram os maçons por conta do poderio que uma sociedade secreta pode causar num governo. Na Revolução Francesa, a Maçonaria tentou anular a religião, inclusive retirando do calendário o dia de “domingo” para os fiéis não irem às missas, mas não houve êxito e não é claro se há religiosidade dentro da Maçonaria, pois vários de seus membros iluministas não nutriam apreço algum pelas religiões, exemplo: Montesquieu, Kant, Rousseau, Voltaire, Karl Marx etc.


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O jornalista Henry Ford - artigo - Observatório da Imprensa


 

O jornalista Henry Ford



Por Luís Olímpio Ferraz Melo em 25/1/2011


   Pouco conhecida a veia jornalística do industrial americano Henry Ford, que se notabilizou no universo da indústria automobilística, sendo modelo de gestão e de empreendimento para a geração dele e ainda hoje homem de destaque na mídia. Henry Ford comprou o semanário americano Dearborn Independent, que até então tinha tiragem tímida, e passou a publicar artigos de sua lavra. Pouco tempo depois, o seu jornal tornou-se um dos mais concorridos. Mas o que teria levado esse industrial de sucesso a se meter com o jornalismo?
   Afinal, é cediço que jornal não é um bom negócio econômico. Ford queixava-se que a imprensa americana estava nas mãos da comunidade judaica e não conseguia publicar algumas críticas ao modo de agir dos judeus, daí a justificativa dele para ter o seu próprio jornal. Notabilizou-se por escrever sobre a comunidade judaica e recolheu documentos para fundamentar seus longos artigos, o que acabou gerando, em 1922 o livro O Judeu Internacional, em que reúne essa coletânea de artigos e virou best-seller no mundo. No livro, que teve edição brasileira em 1933, pela Editora da Livraria do Globo, Ford revela como funciona a imprensa nos EUA e como os grandes jornais – The New York Times etc. – sofrem a influência em suas pautas dos anunciantes.
   Até hoje não contestadas, chegam a ser assustadoras as revelações que Ford traz em seu livro, pois fala com desenvoltura sobre as agências de notícias e de como as informações são usadas por uma elite para ganhar dinheiro na Bolsa de Valores, manipular os mercados e a opinião pública. Houve equívoco na obra de Henry Ford? Sim, pois ultrapassou o campo da análise dos fatos para abrigar-se no antissemitismo, mas Ford se defende no livro dizendo que esse "rótulo" de antissemita foi criado pela imprensa de influência judaica para desqualificar qualquer pessoa que ousasse falar sobre a questão judaica.
   O livro de Ford foi escrito no entreguerras e antes do genocídio judeu de Hitler na Alemanha e hoje tem valor apenas histórico, pois este é um tema que deve ser tratado com seriedade, equilíbrio e sem qualquer preconceito – afinal, somos todos irmãos. Ford relata no livro a história do boicote sofrido pelo matutino New York Herald, pois tinha linha independente e seu proprietário, James G. Bennett, dizia que seu jornal estava disposto a atender somente aos interesses públicos, e não aos particulares – e foi assim até a sua morte. Porém, após isto, o jornal entrou em crise financeira e teve que ser vendido, foi fundido com o New York Sun e o mito da imprensa independente nova-iorquina desapareceu.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A farsa marxista - artigo - Diário do Nordeste

A farsa marxista

 

No dia 5 de julho de 1843, foram apresentadas ao Supremo Conselho maçônico do Grande Oriente, em Bruxelas, várias teses sobre temas como "Capital" e "Trabalho" e os maçons dos graus 8º, 17º e 19º, ficaram encarregados do movimento judaico-maçônico para a construção da política mundial maçônica. No dia 17 de novembro de 1845, na loja maçônica, "Anarquistas de Bruxelas", ou "Le Socialiste", foi iniciado aos 27 anos de idade nas luzes da Maçonaria aquele que viria a ser um de seus mais ilustres membros, o judeu Karl Marx. Habilidoso e demonstrando ter perfil de líder, Marx tornou-se o iluminado para liderar a Revolução Proletária rumo à construção do desejo maçônico de um governo único. Marx sabia que o movimento revolucionário somente teria sucesso se mobilizasse a classe operária, pois além de menos esclarecida, era uma força civil gratuita e devastadora contra qualquer regime governamental. Muitos dos artigos escritos pelo industrial Engels e assinados por Marx e publicados no The New York Tribune, mostra uma fraude sem precedente e afasta qualquer conceito de ética e de lealdade para com os marxistas. Há prova de que parte modificada do Manifesto Comunista já estava publicada antes de Marx nascer, sugerindo obscuridade nesse monumento literário e que, dos três volumes de, "O Capital", apenas no primeiro Marx teria supostamente participado como co-autor e os outros dois volumes o industrial Engels teria escrito sozinho - ninguém consegue explicar a razão do Engels ter financiado Marx. A Rússia era amplamente judaica já em 1917, na Revolução Bolchevique, mas não havia prova de que o Capitalismo estivesse implantando-se lá e Lênin falava num "capitalismo estatal" que seria aceitável num eventual regime ditatorial comunista. Na Revolução Alemã em 9 de novembro de 1918, parecia que o povo alemão tinha sido o vencedor, mas sem qualquer remorso, a Ordem judaico-maçônica Bnai-Brith hasteou a sua bandeira no Portão de Brandenburgo, sugerindo que os vencedores eram outros. Nenhum movimento revolucionário conseguiu desenvolver-se sem que houvesse um grupo secreto por trás.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

domingo, 16 de janeiro de 2011

A lógica da serpente - artigo - Diário do Nordeste

A lógica da serpente

 

Sempre surgem rumores de que artigos pseudocientíficos, defendendo posições favoráveis à indústria farmacêutica, em que o publicista descreve o sintoma, bem como sugere o antídoto disponível no mercado são, na verdade, forjados e encomendados, sem que haja contestação. Não são poucas as denúncias de que vários vírus foram "criados" em laboratórios, bem como o "remédio" para a sua cura e também sem contestação - os africanos que o digam. A indústria farmacêutica se notabiliza na arte de ludibriar a civilização, pois seus produtos apenas controlam os sintomas, até porque não seria interessante financeiramente curar os seus clientes. Uso o exemplo acima para mostra que o capitalismo e o comunismo são farinhas do mesmo saco, pois é cediço que na história quem cria a doença tem que ter o antídoto. Assim, como no caso em tela, coloca-se toda a civilização sempre em disputa sem que se saiba a razão, ora lutando contra um ser virtual chamado capitalismo, que a maioria nem sequer imagina quem está por trás do capital; ora lutando por uma hipotética igualdade social. Veja que não há defensores públicos do capitalismo, pois seria uma deformidade defender algo supostamente pernicioso e cruel, mas em que todos, de uma forma ou de outra, estão inseridos e trabalham por ele e para ele. Parece paradoxal e contraditório comparar e dizer que o capitalismo e o comunismo vivem de mãos dadas e um precisa do outro, assim como o bem e o mal e o amor e o ódio - o que seria da luz se não fosse à escuridão? Essa hipótese, à primeira vista, parece absurda e fantasiosa, mas não é, pois sem perceber "criaram" um inimigo terrível para a civilização e que os quase 90% da civilização menos abonada deveria combater e odiar os apenas 10% que detêm o capital. Deve-se reconhecer que o plano foi bem bolado, mas numa análise estrutural, encontramos o fio condutor usado pelos poderosos para manipular e controlar toda a civilização. O leitor deve lembrar que a venenosa serpente é que fornece o antídoto para curar e salvar as suas vítimas - tudo num processo natural e sem a interferência do homem...



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

sábado, 8 de janeiro de 2011

Convite à Maçonaria - artigo - Diário do Nordeste

Convite à Maçonaria

 

Não há duvida de que a Maçonaria é composta, na sua maioria, por homens honrados, mas há evidências de que somente os que chegam ao último grau (33º grau no rito escocês) sabem verdadeiramente os reais objetivos da Maçonaria. A Igreja Católica mirou a Maçonaria e os "Arquivos da Inquisição" mostram que os rumores incontroláveis de que há impressões digitais da comunidade judaica na origem da Maçonaria ganharam corpo com documentos oficiais e sem que haja contestação. A sociedade secreta judaica dos "Irmãos Essênios" foi a inspiração para a Maçonaria, daí as especulações de que os judeus estariam por trás da Maçonaria. A "Bula Papal" de Clemente XII publicada em 28 de abril de 1738 e corroborada por Bento XIV em 17 de junho de 1751, condenou a Maçonaria e, além de excomungar os maçons, poderia levá-los a sufragar na "fogueira santa", pois alegavam que a Maçonaria era uma conspiração e ameaça à religião católica e ao Estado. Os segredos maçônicos foram descobertos nos depoimentos dos maçons aos Inquisidores, bem como no estudo de textos antigos que traziam alusões ao conhecimento e às técnicas utilizadas pela Maçonaria e em publicações de ex-maçons arrependidos. O juramento maçônico é aterrorizante e o neófito sem saber na verdade o que é o segredo maçônico, "autoriza" a cortarem a sua língua e o pescoço se vier a revelar o segredo, o que acaba fornecendo munição para o imaginário humano. Nos depoimentos na Inquisição, extrai-se que os maçons ingressaram por curiosidade de conhecer o "segredo" da Maçonaria, mas há evidências de que o objetivo maçônico era uma ruptura com o regime governamental para se criar um "governo único" liderado por maçons, assim como fizeram na Revolução Maçônica, digo, Revolução Francesa. Os membros da Maçonaria estão nos altos escalões dos governos, sugerindo ser um poder paralelo secreto, porém, a falta de transparência torna ilegítimas as sociedades secretas. Se a Maçonaria é do bem e em prol da civilização, por que não se abre? Convido os Grão-Mestres maçônicos para um debate público de alto nível sobre a Maçonaria. A sorte está lançada.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

A linguagem bíblica - artigo - OPOVO

A linguagem bíblica


   “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Nessa passagem bíblica, sugere-se que a palavra – o Verbo – inicia a saga humana do conhecimento em busca do infinito, daí o autor da linguagem bíblica ter colocado Deus como detentor do Verbo. Os textos bíblicos estudados no original grego, e não na tradução dominante, a latina, traz revelações que sugerem ter sido modificadas pelos tradutores. Exemplo: Pietro Pomponazzi, no século XVI, descobriu lendo Aristóteles em grego que S. Tomás de Aquino havia se equivocado quanto à visão dele em relação à imortalidade da alma. As leituras que as pessoas fazem da Bíblia e das imagens sacras, parecem estar esculpidas no inconsciente, daí sugerir que o czar Ivan III da Rússia teria encomendado a um artista italiano o projeto da catedral de S. Miguel, no Kremelin, mas pediu para seguir os mesmos traços da de Vladimir do século XII, pois estava associada às tradições religiosas. Somente em 1508, em Alcalá, na Espanha, foi fundada uma universidade trilíngue para estudar as três línguas da Bíblia: hebraico, grego e latim, daí os primeiros dicionários bilíngues terem surgido somente depois desta data.
   No Concílio de Trento, por volta de 1560, houve derrota dos humanistas que tentaram substituir a Vulgata – versão latina oficial da Bíblia – por uma nova tradução realizada direto do original em hebraico e grego. No mesmo Concílio, a Igreja Católica oficializou o Índice dos Livros Proibidos, o que acabou por dificultar o estudo no período do Renascimento da verdadeira intenção e importância da linguagem bíblica.
   O Apocalipse, último livro da Bíblia, por exemplo, cita um fenômeno dito divino, mesmo sendo natural, de que haverá um “juízo final”, em que após uma longa batalha, o bem vencerá o mal e, entre outros fatos naturais, a Terra será abalada por guerras, terremotos, tsunamis, fome, etc. O fato narrado acima alegoricamente, trata-se de fenômeno natural que ocorre a cada 12 mil anos; e que os antigos estruturaram numa linguagem bíblica, capaz de ser compreendida por todos em qualquer época.
   Os livros contidos na Bíblia e outros Evangelhos que estão sendo encontrados podem elucidar, no futuro, qual era o desejo dos autores bíblicos ao misturar mitos, quimeras, conhecimentos e profecias numa linguagem, em tese, universal. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como um bronze sonante; e um címbalo retumbante”. 1ª Epístola de Paulo aos Coríntios, 13:1.



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

                                                       Charge - Néo
                                                 Fonte: Blog do Noblat

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mistérios e magia do Tibete - artigo - jornal OESTADO

Mistérios e magia do Tibete


   Localizado nos Himalaias, conhecido como teto do mundo, por estar a 4.500 metros acima do nível do mar, o Tibete é um local fascinante e repleto de riquezas naturais que, além de impressionar, leva o visitante daquela plaga a repensar os valores das congestionadas sociedades urbanas convencionais, bem como o cuidado que a Natureza precisa de todos nós. Na primeira vez que estive no Tibete, logo ao desembarcar, senti falta de ar, devido à altitude, acima do mar, que torna o ar rarefeito. De todos os países e locais exóticos em que estive, posso dizer que o Tibete me despertou atenção especial, pois além de ser um lugar repleto de mistérios, não somente por conta do regime comunista da China, que desde 1950 controla aquele território, mas também pelas versões mirabolantes de alguns poucos que dizem ter ido ao Tibete e publicam relatos superdimensionados. No entanto, minha busca no Tibete era conhecer a cultura tibetana e colher elementos históricos para os meus ensaios. O Tibete é um local de difícil acesso, pois a China controla com rigor a entrada e a permanência naquele território, dificultando e controlando o limite geográfico do visto, daí o glamour de se ir ao Tibete.
   O Tibete também é conhecido como o país das neves, mas devo confessar que nas duas temporadas em que estive lá, talvez por conta do aquecimento global, esse nome não lhe faz mais jus, porém, o frio ainda é intenso e severo. As montanhas altaneiras, a neve, os templos, o fanatismo religioso daquele povo humilde e iludido que vive com devoção as suas crenças religiosas impressionam. Lhasa é a capital do Tibete e hoje é uma metrópole como qualquer outra, pois há hotéis de luxo, bancos por todo lado, revenda de veículos importados, shopping center, etc., ou seja, a essência nativa e virginal atribuída ao Tibete de séculos passados, não existe mais, pois o capitalismo destrói a cultura dos povos.
   A comunicação no Tibete é dificílima, pois os tibetanos falam um dialeto quase incompreensível, quando não, o mandarim chinês, que também não é dos mais fáceis, e o inglês é quase inexistente. Antes de ir lá pela primeira vez, li vários livros sobre aquele país e sua cultura, mas são raros os livros em que há descrição real do local, inclusive alguns fogem à realidade tibetana e podem sugerir que os autores são romancistas, folcloristas, ou nunca estiveram no Tibete...
  Muitas vezes, me peguei parado admirando paisagens naturais nas montanhas, ruas e vielas o movimento sem pressa e quase que em câmara lenta da população tibetana. É uma experiência fantástica, o choque cultural é muito grande, pois encontramos dinheiro espalhado pelo chão nos templos e ninguém mexe, estátuas enormes em memória dos Dalai Lamas esculpidas em ouro e um povo honesto e lhano. Algumas curiosidades devem se registrar, exemplo: o atual 14º Dalai Lama não é da tradição originária dos Lamas, pois a tradição, segundo a crença tibetana, terminou com o 13º Dalai Lama, que faleceu em 1924. Ou seja, o atual Dalai Lama seria um genérico na tradição original dos Lamas.
   Quando retornei da segunda visita, aproveitei para refletir a força das crenças nas culturas e como a religião movimenta bilhões de pessoas no planeta que, em tese, confundem Devoção com Evolução, pois na Devoção necessita-se de crenças, santos e imagens, enquanto na Evolução, é justamente o contrário, pois precisamos nos desapegar das crenças e do material para entrarmos no processo Evolutivo. Acho que essa foi a grande contradição que encontrei nos países, especialmente o Tibete, que exortam a religião como meio de conduzir o seu povo. Devido à longa distância, provavelmente não mais voltarei ao Tibete, mas a magia – encanto – do Tibete sempre guardarei comigo.



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

sábado, 1 de janeiro de 2011

Discurso político - artigo - Diário do Nordeste

Discurso político

 

A arte da retórica domina o universo da política, pois a persuasão é o elemento fundamental no discurso dos políticos. Regra geral, todos os políticos falam na mesma linguagem eloquente e envolvente para encantar e convencer os eleitores de que são os melhores e mais habilitados no certame eleitoral. Usam sempre palavras-chaves dentro do discurso, exemplo: "mudança", "lutar", "combater", etc., porém, são por demais repetitivos e sem qualquer criatividade e tendem a esvaziar os comícios e a política num futuro próximo. O discurso político, com honrosas exceções, é sofismático, mas isto não é desonestidade do político, mas sim, questão de sobrevivência dentro do sistema que aceita entre as suas regras a mentira e a simulação. Passou despercebido, mas o marketing político eleitoral vem substituindo a necessidade dos cansativos discursos políticos em tempos de campanha eleitoral, pois a imagem trabalhada pelos marketeiros diminui a exigência dos discursos que agora são ensaiados e calculados para cada público específico. O eleitor esclarecido ou não acaba aceitando o jogo político e permite a mudança do discurso dos políticos, aliás, a única mudança real depois de eleitos é a do discurso. Na Antiguidade, o político que mais mentia e prometia o que não podia era quase sempre o mais forte, inclusive, a palavra demagogo foi forjada para denominar o chefe do partido democrático daquela época. No entanto, vê-se que pouco ou nada mudou na política, pois a mentira ainda domina o discurso político na contemporaneidade e o eleitor pouco evoluiu em matéria de consciência política. O sistema político é cruel e exige do político bastante exercício retórico e muitos recursos financeiros para alimentar os líderes comunitários e os cabos eleitorais em tempos eleitoreiros. Cada vez mais falece o sistema político, pois o desinteresse pela política e pelos políticos é notório e isto é visível em todas as camadas da sociedade. No Oriente se aplica um sábio provérbio milenar para criticar a arte da retórica que poder-se-ia aplicar ao discurso político: "Carroça vazia faz muito barulho".



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista