Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 25 de setembro de 2011

A guilda dos céticos - artigo - OPOVO/Espiritualidade


   A história das guildas na Europa fornece elementos importantes para se entender essa forma de agrupamento social. Registros datam o início das guildas ainda no século VIII e a sua existência se justificava para reunir pessoas com o mesmo pensamento e profissão - negociantes, artesãos, artistas etc. - e havia segredos nelas, como é hoje nas sociedades secretas. Dentro das guildas, falava-se línguas e dialetos específicos para que outros não soubessem dos segredos profissionais daquela categoria e assim ficariam seguros de eventuais ataques.
   O Renascimento, período áureo da civilização, somente foi possível por conta da Bíblia, pois a história religiosa da civilização foi belamente retratada na pintura e na arte. Na Revolução Francesa, tentou-se de todas as formas anular a religião, destruindo igrejas e modificando o calendário e retirando o “domingo”, para que as pessoas não fossem à missa (mas não conseguiram).
   Usei o exemplo da guilda para mostrar que os céticos vivem como se estivessem na Idade Média, dentro dessas comunidades, pois, ao negarem tudo, não acreditam em nada do mundo espiritual. Fecham-se numa redoma. É compreensiva a desilusão quando se descobre que boa parte da literatura religiosa é mera quimera, mas nem por isto tudo deve ser anulado, até porque seria impossível.
   Outro tipo de comunidade surgiu na Europa nos moldes das guildas, a Comuna, mas tinha ideologia política partidária e, por ser marxista, negava a religião e tudo o que fosse metafísico. Porém, causou derramamento de sangue e gerou muita confusão.
   Mais recente, surgiram, em Israel, os Kibutzim, em que as pessoas residem na comunidade e todos colaboram com os afazeres. É uma alternativa ao sistema capitalista. Pessoas de religiões diferentes convivem nos Kibutzim, pois há alguma tolerância nessa seara, mas aquela região - Palestina - é marcada por conflitos territoriais e religiosos.
   Negar por negar, sem conviver e conhecer a cultura desses povos que preservam suas crenças e têm fé nas tradições e rituais sagrados, parece-me um erro, pois se possível fosse anular a questão da religiosidade nas pessoas, poder-se-ia estar retirando algo bastante importante para suas vidas. Não serei eu que proporei encorajar a civilização a abandonar suas crenças sem que seja possível dar-lhe algo concreto em troca - exemplo, o conhecimento. Porém, como é utópico acreditar que um dia todos terão acesso à educação e desejarão aprender, deixem como está.

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista e autor do livro Psicanálise para todos.

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