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sábado, 9 de abril de 2011

A religião no divã - artigo - Espiritualidade - OPOVO

A religião no divã



   Sigmund Freud construiu os alicerces da psicanálise no declínio do patriarcado e na descrença na religião, pois Deus – o Pai – havia perdido espaço na moderna sociedade materialista e individualista europeia. Milhões de pessoas no planeta diziam ter se “libertado” das religiões e seguiram caminhos de peregrinações em busca da verdade. Muitas foram até a Índia, acreditando ser aquela seara o local mais sagrado do mundo, mas acabaram se vinculando a gurus e aos babas – em sânscrito quer dizer “pai” –, ou seja, mudaram apenas de rótulo e continuaram no contexto das religiões. Outros tantos ousaram e falavam apenas em espiritualidade ou espiritualismo, inclusive alguns fundaram templos utilizando métodos análogos aos das religiões. Poucos outros criaram técnicas de autoconhecimento e rotularam como espiritualizadas, mas não se esqueceram de colocar nas suas logomarcas o símbolo maior do materialismo (® marca registrada).
   Ainda na Índia, Satya Sai Baba, que se autorrotula de Deus, diz não ser e nem querer ser de alguma religião, mas age com o mesmo sistema alienatário utilizado pelas religiões convencionais. Sai Baba construiu um império econômico e fanatizou milhões desses que diziam ter “escapado” das religiões, mas continuaram no mesmo sistema de crenças, porém, proclamando terem encontrado a verdade.
   Que nenhum membro da Igreja Católica se sinta ofendido, mas a história dos papas e do Vaticano é assustadora e remete-nos a uma questão crucial: querem os papas a salvação ou a dominação do homem? Traições, assassinatos, prostituições, vícios, corrupção, fraude, conspirações, etc., fazem parte do enredo da vida pregressa de muitos papas que envergonham essa instituição milenar...
   A indústria do turismo religioso é algo impressionante, pois rende milhões de dólares por ano alimentando a alienação e o fanatismo nas pessoas; e em muitos países, a religião tem mais poder e autoridade do que o governante. Assistimos atônitos na contemporaneidade a proliferação desordenada de criação de igrejas, seitas e templos; não com o desejo de salvar os seus seguidores, mas com interesses obscuros e visando quase sempre auferir ganhos financeiros com suas pregações e “curas” milagrosas que não existem.
   Quando o homem entender o verdadeiro sentido da vida e praticar o que os antigos já ensinavam – “fora da caridade não há salvação” e “faze aos outros aquilo que queres que te façam” – não mais se justificará a existência das quase sempre mercenárias e alienantes religiões.


Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.

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