Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 17 de abril de 2011

A busca da alquimia - artigo - Diário do Nordeste


 
Arqueólogos ingleses descobriram no século XIX, na Mesopotâmia – hoje Iraque –, a epopeia do rei Gilgamesh em plaquetas de argila na língua cuneiforme, que teria vivido há cerca de 2.700 a.C. É dito no texto que Gilgamesh passeava com seu amigo Enkidu, de quem o destino acabou por lhe tirar a vida prematuramente, e após esse trágico evento, Gilgamesh passou a viajar pelo mundo em busca da imortalidade, mas do sobrevivente do dilúvio, Utnapishtim, teria ouvido que a sua busca era inglória, pois somente os deuses seriam imortais. Disse-lhe ainda: “Gilgamesh, onde queres chegar nas tuas andanças? A vida que estás procurando, nunca encontrarás. Pois, quando criaram os homens, os deuses decidiram que a morte seria seu quinhão, e detiveram a vida em suas próprias mãos. Gilgamesh, enche teu estômago; faze alegres o dia e a noite; que os teus dias sejam risonhos. Dança e toca música noite e dia. (...) Olha para o filho que está segurando a tua mão. E deixa que tua esposa encontre prazer nos teus braços. Só dessas coisas é que os homens devem cogitar”. Uma lição antiquíssima, mas ainda muito atual, pois o sujeito transita pela vida saboreando uma ilusão e alimentando desejos ilimitados, como se somente o presente tivesse total importância. A cultura do hedonismo – prazer imediato –, o desejo de gozar a qualquer preço, impera no sujeito e na sociedade. A busca desenfreada pelo prazer leva o sujeito a estados mentais preocupantes, pois, sem limites, a vida somente se justifica se houver gozo – não confundir com desejo. A intensidade do desejo não realizado – frustração – é proporcional ao tamanho e ao tempo do sofrimento no sujeito – muitos desejos são frutos da inveja. O desejo da imortalidade na epopeia de Gilgamesh pode ser traduzido no medo do homem de temer a interrupção irreversível do gozo. A morte não entendida produz na mente humana medo da indefinição sobre a sua alma – ou espírito – de onde irá descansar – se no céu ou no inferno –, segundo a alegoria religiosa. O homem é, sem saber, talvez, uma cópia de Gilgamesh antes de descobrir a verdadeira alquimia da vida.



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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