Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O espírito do Carnaval - artigo - OPOVO

O espírito do Carnaval


 

   O carnaval surgiu na cultura europeia para ser uma festa de protesto em que tudo seria permitido e o mundo ficaria naqueles dias “de cabeça para baixo”. As máscaras eram sempre utilizadas para garantir ao folião certa “invisibilidade” e assim ele poder extravasar seus desejos reprimidos. As máscaras demonstravam uma ironia, pois muitos usavam nessa festa, tida como pagã, a de padre, outros tantos se fantasiavam de magistrado para debochar da Justiça. Enfim, era no carnaval que se via de forma cômica a população se manifestando livremente. Até os animais entravam sem querer nas “brincadeiras” carnavalescas, pois cachorros eram arremessados de um lado para o outro e galos e galinhas espancados até a morte. O período momino é único para os que querem “mudar” de sexo e se fantasiar do sexo oposto sem serem discriminados, mas além do aspecto engraçado, muitos ultrapassam a brincadeira...
   A História registra na Europa Moderna as moças lançando das janelas de suas casas ovos, farinha e água nos foliões que desfilavam pelas ruas com as suas fantasias e acompanhados pelas músicas e marchinhas carnavalescas, sempre de duplo sentido. Carnaval tem a mesma raiz da palavra carne, daí a vinculação à “carnalidade ou ao sexo”, tanto o é, que no século XVI, na Alemanha, os açougueiros preparavam no carnaval salsichas que chegavam a pesar duzentos quilos para “simbolizar” na festa a carne e o pênis (sexo).
   Poder-se ia dizer, com alguma segurança, que os carnavalescos buscam no carnaval viver um período de impunidade legalizada, pois em sendo “tudo permitido”, logo após, segundo a tradição católica, vem a Quaresma, em que o sujeito se priva de tudo que abusou durante o carnaval – carne, sexo, álcool, drogas, palavrões, violência etc. – e se penitencia dos excessos cometidos.
   Na contemporaneidade, o carnaval foi deverasmente modificado, pois o espírito do carnaval era para ser somente diversão, críticas bem humoradas, confraternização, mas tem se transformado num campo de violência sem fim e de entrada para profundos conflitos psicológicos no sujeito.
   As antiquíssimas festas tradicionais religiosas comemorativas influenciaram no surgimento do carnaval, pois sempre houve desejo no homem de comemoração e de confraternização, mas o carnaval é a única festa em que o carnavalesco, após o término do período momino, já começa a pensar na próxima, sugerindo preferir os “infernais” dias carnavalescos, aos paradisíacos retiros espirituais que tanto bem fazem para o corpo e a alma.

 

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.

Um comentário:

Vanderjean Arrais de Vasconcelos disse...

Belas palavras, meu querido. É impressionante como esta festa (Carnaval) ilude as cabeças de milhões de pessoas. Inúmeros acidentes, homicídios, infectados por doenças transmitidas sexualmente aumentam neste período significativamente.Devemos procurar paz e graça por meio do nosso Deus que sem sombra de dúvidas nos quer ver longe desse verdadeiro inferno na Terra.