Meu novo livro: Novas abordagens

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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mistérios e magia do Tibete - artigo - jornal OESTADO

Mistérios e magia do Tibete


   Localizado nos Himalaias, conhecido como teto do mundo, por estar a 4.500 metros acima do nível do mar, o Tibete é um local fascinante e repleto de riquezas naturais que, além de impressionar, leva o visitante daquela plaga a repensar os valores das congestionadas sociedades urbanas convencionais, bem como o cuidado que a Natureza precisa de todos nós. Na primeira vez que estive no Tibete, logo ao desembarcar, senti falta de ar, devido à altitude, acima do mar, que torna o ar rarefeito. De todos os países e locais exóticos em que estive, posso dizer que o Tibete me despertou atenção especial, pois além de ser um lugar repleto de mistérios, não somente por conta do regime comunista da China, que desde 1950 controla aquele território, mas também pelas versões mirabolantes de alguns poucos que dizem ter ido ao Tibete e publicam relatos superdimensionados. No entanto, minha busca no Tibete era conhecer a cultura tibetana e colher elementos históricos para os meus ensaios. O Tibete é um local de difícil acesso, pois a China controla com rigor a entrada e a permanência naquele território, dificultando e controlando o limite geográfico do visto, daí o glamour de se ir ao Tibete.
   O Tibete também é conhecido como o país das neves, mas devo confessar que nas duas temporadas em que estive lá, talvez por conta do aquecimento global, esse nome não lhe faz mais jus, porém, o frio ainda é intenso e severo. As montanhas altaneiras, a neve, os templos, o fanatismo religioso daquele povo humilde e iludido que vive com devoção as suas crenças religiosas impressionam. Lhasa é a capital do Tibete e hoje é uma metrópole como qualquer outra, pois há hotéis de luxo, bancos por todo lado, revenda de veículos importados, shopping center, etc., ou seja, a essência nativa e virginal atribuída ao Tibete de séculos passados, não existe mais, pois o capitalismo destrói a cultura dos povos.
   A comunicação no Tibete é dificílima, pois os tibetanos falam um dialeto quase incompreensível, quando não, o mandarim chinês, que também não é dos mais fáceis, e o inglês é quase inexistente. Antes de ir lá pela primeira vez, li vários livros sobre aquele país e sua cultura, mas são raros os livros em que há descrição real do local, inclusive alguns fogem à realidade tibetana e podem sugerir que os autores são romancistas, folcloristas, ou nunca estiveram no Tibete...
  Muitas vezes, me peguei parado admirando paisagens naturais nas montanhas, ruas e vielas o movimento sem pressa e quase que em câmara lenta da população tibetana. É uma experiência fantástica, o choque cultural é muito grande, pois encontramos dinheiro espalhado pelo chão nos templos e ninguém mexe, estátuas enormes em memória dos Dalai Lamas esculpidas em ouro e um povo honesto e lhano. Algumas curiosidades devem se registrar, exemplo: o atual 14º Dalai Lama não é da tradição originária dos Lamas, pois a tradição, segundo a crença tibetana, terminou com o 13º Dalai Lama, que faleceu em 1924. Ou seja, o atual Dalai Lama seria um genérico na tradição original dos Lamas.
   Quando retornei da segunda visita, aproveitei para refletir a força das crenças nas culturas e como a religião movimenta bilhões de pessoas no planeta que, em tese, confundem Devoção com Evolução, pois na Devoção necessita-se de crenças, santos e imagens, enquanto na Evolução, é justamente o contrário, pois precisamos nos desapegar das crenças e do material para entrarmos no processo Evolutivo. Acho que essa foi a grande contradição que encontrei nos países, especialmente o Tibete, que exortam a religião como meio de conduzir o seu povo. Devido à longa distância, provavelmente não mais voltarei ao Tibete, mas a magia – encanto – do Tibete sempre guardarei comigo.



Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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