Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 27 de janeiro de 2013

Ensaio de Montaigne - artigo - Diário do Nordeste


O ano de 1570 foi muito importante na vida do francês Michel de Montaigne, pois aos 37 anos de idade, ele vendeu o seu cargo de magistrado num tribunal - naquela época já era comum isso, mas Montaigne achava um "absurdo" esse costume antes de vender a sua toga - e resolveu dedicar-se à produção intelectual, refugiando-se na sua vasta biblioteca - escreveu numa das colunas: "Não há nada certo exceto a incerteza". Montaigne era irônico e ambíguo e observou, antes mesmo de Freud, a questão dos sonhos e da sexualidade humana com frieza, inclusive Freud leu seus "Ensaios" com bastante atenção e interesse. Montaigne era tido como moralista, mas pelos "Ensaios" parecia mais um antropólogo, ou mesmo um historiador; recomendava aos seus leitores viagens como meio de aprimoramento moral e para o conhecimento de outras culturas.
Montaigne inaugurou um gênero literário, os "Ensaios", e chegou a dizer que os três volumes dos seus "Ensaios" eram o único livro no mundo do gênero. "Ensaios" de Montaigne são plurais no sentido de delimitação de temas, pois tratou de vários assuntos e acabou inscrito nos Índices dos Livros Proibidos da Igreja Católica, em Roma, em 1676, pois influenciava e exortava o pensamento livre da sociedade, coisa que a Igreja detestava. Montaigne foi imparcial ao que observava em suas viagens e registrou tudo em longos diários.
Quando a Europa felicitava-se com a descoberta da pólvora e da imprensa, Montaigne lembrava que os chineses, do outro lado do planeta, já haviam descoberto mil anos antes. Montaigne seria hoje, pelo rigor acadêmico, um autor contraditório e polêmico, mas deu uma contribuição intelectual admirável, inclusive, Lévi-Strauss, o gigante antropólogo estruturalista, homenageou-o com o título de um de seus livros: "Pensamento selvagem", em referência ao ensaio de Montaigne sobre os canibais. Tido como um clássico da literatura, "Ensaios", de Montaigne, tem mais de uma interpretação, mas se não tivesse, deixaria de ser um clássico, pois as obras são sempre reinterpretadas a cada geração, inclusive, os livros revelam-se interessantes ao serem adaptados a outras culturas, exemplo: uma anedota pode ser engraçada numa cultura, mas noutra não ter qualquer sentido, daí haver a necessidade de adequação na tradução...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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