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sábado, 1 de dezembro de 2012

A tradição inglesa - artigo - Diário do Nordeste



A tradição da "venda de esposa" nos mercados centrais da Inglaterra até o século XX foi tida como um atentado à moral e aos bons costumes, mas os motivos que, quase sempre, levavam os maridos a venderem suas esposas eram dois: porque "falavam demais" ou por traição - neste caso, os amantes geralmente arrematavam as esposas. Havia até um ritual bizarro para a consumação da venda em que incluía a esposa ter que chegar ao local público do leilão puxada pelo marido por uma corda amarrada no pescoço. A Igreja Católica era contra a "venda de esposa", pois dizia que quebrava o sacramento do casamento, mas a Lei das Causas Matrimoniais, de 1857, legalizou o divórcio na Inglaterra.
O que valia era a tradição, pois por ocasião da entrega da esposa ao comprador ambos tinham que fazer juramento como num casamento - inclusive, houve negócios de venda de esposas que foram desfeitos tempos depois, pois não se cumpriu todo o ritual: venda na praça do mercado público, não uso da corda no pescoço ou o comprador era casado. O valor pago pelas esposas nos leilões era irrisório, pois variava de uma caneca de cerveja a algumas libras, porém, as partes pareciam sair satisfeitas, mas houve casos de arrependimento. Em 1775, em Rotherham, o fazendeiro Jonathan Jowett chegou a debochar da venda de sua esposa que o teria traído, pois colocou um chifre de carneiro dourado na cabeça com o nome do amante dela, Willian Taylor, e a entregou no local marcado em meio a gritos dos espectadores. Outros maridos faziam propaganda das esposas para vendê-las, tipo: "vendo mulher limpa e organizada". Os jornais tratavam o assunto com preconceito chamando as mulheres de sirigaitas e vadias, mesmo quando não tinham culpa alguma. Os cornos tinham a "feira dos chifres", que se transformou num carnaval comemorado todo ano no dia de São Lucas. Havia até convocação dos cornos pela imprensa e os chifrudos se reuniam no "ponto dos cornos", perto de Deptford, e percorriam toda a cidade. O ritual de rough music, que era uma forma de debochar publicamente alguém quando desrespeitava alguma norma social, exemplo: traição, segundo casamento, corrupção etc. - análogo ao charivari francês e a scampanate italiano -, tornou-se uma bem-humorada brincadeira inglesa com banda de música e tudo mais...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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