Meu novo livro: Novas abordagens

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terça-feira, 22 de maio de 2012

O narcotráfico no México - artigo - Observatório da imprensa


   Não se sabe ainda se o jornalista René Orta Salgado, assassinado na semana retrasada na cidade de Morelos, no México, morreu por conta do exercício da profissão, visto que havia abandonado a carreira no final do ano passado para se dedicar à militância político-partidária. Mas por 20 anos dedicou-se a cobrir notícias policiais, daí as suspeitas de ter sido mais uma vítima dos cartéis dos narcotraficantes mexicanos – outros jornalistas também foram assassinados em circunstâncias semelhantes às de Salgado e somente este mês o número total de vítimas dos cartéis de drogas já registra 100 mortes.
   O efeito colateral desses episódios apareceu no dia imediato à morte de Salgado, pois alguns veículos de comunicação publicaram editoriais em que diziam que evitariam tocar no assunto do tráfico de drogas e dos cartéis tendo em vista os assassinatos de jornalistas e os ataques recentes às sedes das empresas de comunicação. Os atentados contra os jornalistas e os meios de comunicação no México atingem em cheio a população e a liberdade de expressão, pois sem imprensa livre, não há o que se falar em Estado democrático de Direito.
   Não é de hoje que o México é tido como um país violento e dominado pelo tráfico de drogas, mas há outro crime que passou despercebido da grande mídia, tão hediondo como os atentados à liberdade de expressão. A Ciudad Juarez, no México, limítrofe com os EUA, é conhecida como a “capital mundial do feminicídio”, visto que, desde 1993, mais de 400 mulheres foram brutalmente assassinadas e outras 500 estarem desaparecidas. A Ciudad Juarez é pobre, considerada misógina e dominada pelo tráfico de drogas e pela corrupção, daí reinar a impunidade e o silêncio da população.
   Os Estados Unidos do México têm 31 estados mais o Distrito Federal, a capital, México DF, mas o que tem de grande tem de inseguro, pois por ano são registrados 20 mil sequestros realizados pelos narcotraficantes e as vítimas podem ser qualquer um: jornalistas, magistrados, advogados, médicos, padres, policiais etc.
   A vingança privada e as execuções extrajudiciais praticadas pelos narcotraficantes são mais temidas do que o poder e o dever de punição do Estado, daí o fenômeno social da violência urbana ter se generalizado no México. Ainda na semana passada, o ex-vice-ministro da Defesa, general de divisão Tómas Angeles, e mais dois outros generais foram presos pelo Exército mexicano acusados de envolvimento com os cartéis de drogas. Com a violência autofágica no México, a democracia, a imprensa e os mexicanos encontram-se ameaçados de morte, pois os bilionários cartéis das drogas já mostraram que criaram um “narcoestado” dentro do México.


Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista



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