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domingo, 12 de fevereiro de 2012

A cultura do Carnaval - artigo - Diário do Nordeste


O Carnaval surgiu na Europa, na Idade Média, mas os gregos tinham uma festa anual análoga, pois durava seis dias regados a muito vinho, danças, procissões e encenações — homens e mulheres se embriagavam e diziam louvar o deus do vinho, Dionísio. Na festa de 404 a.C., milhares de atenienses participaram em blocos carregando pelas ruas réplicas de pênis gigantes e cantarolando músicas de duplo sentido que dava uma conotação sexual ao evento. O Carnaval europeu sempre teve um viés de crítica ao sistema e às autoridades, pois, por ser festa pagã, os foliões se fantasiavam de padres para debochar da Igreja, mas também eram vistos falsos magistrados e políticos na folia.
O Carnaval sempre foi usado também para se extravasar desejos reprimidos, pois, como se diz, o mundo fica de cabeça para baixo e tudo é permitido no período momino, daí muitos usarem máscaras e fantasias do sexo oposto... O Carnaval de Ivrea, na Itália, é o único que manteve um vínculo com a Idade Média, porém, nesta época os combatentes de todas as camadas sociais enfrentavam-se nas ruas com os punhos, ou com pedras, em uma espécie de luta ritual deixando, inclusive, mortos. A tradição das batalhas sobrevive ainda hoje no Carnaval de Ivrea, mas as laranjas tomaram o lugar das pedras, porém, no final da “brincadeira” há sempre feridos sendo levados aos hospitais. Água, farinha e ovos eram jogados nos foliões pelas moças debruçadas nas janelas de suas casas e em alguns lugares havia a festa carnavalesca quase familiar e reservada para evitar os “papudinhos” inconvenientes. Animais indefesos, mesmo sem fantasias, eram capturados nas ruas e levados para a folia e arremessados de um lado para o outro até a morte. Durante toda a Idade Média, a Quaresma era rigorosa, pois, além das penitências impostas pela Igreja, se fazia acompanhar da privação até a Páscoa de carne, álcool, sexo, palavrões, festas, enfim, tudo que se abusou no Carnaval.
O Carnaval no Brasil modificou-se, pois antes era alegre, divertido e pacífico, mas transformou-se num campo de violência sem fim — e também de abuso de álcool e de drogas, o que tem levado muitos foliões a distúrbios psicológicos, sugerindo que é preciso sabedoria e prudência durante a folia para não cair na armadilha anunciada do desequilíbrio mental...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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