Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 21 de novembro de 2010

Berlinda intelectual - artigo - Diário do Nordeste

Berlinda intelectual

 
A historiografia da intelectualidade não é a das mais empolgantes, pois o papel originário dos intelectuais de apontar as contradições, estes homens de conhecimentos enciclopédicos, não os livrou de também tê-las. Platão defendeu a pena de morte e falava na necessidade do ideal do bem, mas é contradição apregoar o bem utilizando a vingança vez por outra. Montaigne era moralista e achava o costume da sua época, - século XVI -, em que era normal o magistrado vender sua vaga nos tribunais, um absurdo, mas Montaigne vendeu a sua toga sem qualquer remorso. Rousseau foi entre todos, o moralista por excelência, deu contribuição intelectual extraordinária para a civilização, mas além de defender a pena de morte sem rodeios, nas suas Confissões tentou justificar em vão o abandono de seus cinco filhos num orfanato. Robespierre foi uma dessas figuras emblemáticas na intelectualidade, pois liderou a Revolução Francesa com discurso ético e em defesa da vida, mas no período do terror, mudou-o e defendeu a pena de morte, onde encontrou nela a sua contradição. Marc Bloch dizia em tom jocoso: - robespierristas, anti-robespierristas, nós vos imploramos: por misericórdia, dizei-nos, simplesmente, quem foi Robespierre? Interpelado sobre a razão de ter mudado o discurso e defendido a pena de morte, Robespierre disse: - os tempos mudaram; como se a atividade intelectual fosse uma contraditória metamorfose ambulante. O conhecimento bom trazido por esses intelectuais não deve ser anulado, pois é contribuição valiosa para a civilização, mas é preciso ficar atento com os escritos intelectuais, onde já se encontrou antissemitismo e totalitarismo disfarçados e outros desejos nocivos para a humanidade, daí a necessidade da leitura crítica. A mudança do discurso é perigosa, pois sem uma justificativa cabal, mostra a contradição do intelectual. O intelectual é responsável pelas ideias que defender; e é prudente que se abstenha de participação ativa político-partidária, pois o intelectual defende a civilização e é independente e os seus valores inarredáveis, são a verdade, a razão e a justiça.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

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