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domingo, 29 de julho de 2012

A cultura do adultério - artigo - Diário do Nordeste



A Torá diz que o Rei David cometeu adultério com Bat Sheva esposa de Uriah, mas que não foi punido porque assim quis o Criador; e em, O Livro do Esplendor, o Criador complementa: "O que quer que David tenha feito, foi feito com minha permissão. Porque nenhum homem vai à guerra sem antes dar a sua esposa um ´guet´ (carta de divórcio)" (Zohar, 133). Porém, o adultério na cultura judaica é proibido e punível (Torá, Vayikra, 20,10), mas a regra recepcionada no Novo Testamento seguido pelo cristianismo no mandamento: "Não cobiçarás a mulher do próximo", dá margem para interpretação quanto à mulher cobiçar o homem da outra.
Nos países de cultura muçulmana, o adultério é punido com rigor, mas o Alcorão admite o perdão se a adúltera se arrepender (Surata, IV), mas a jurisprudência islâmica entende diversamente - a cultura islâmica, ao impor punições severas, tenta proteger a família, mas de forma cruel. A cultura patriarcal era poligâmica e a mulher, quase sempre, não escolhia seu marido, além de ter que casar virgem, sob pena de severa punição - na cultura muçulmana há a infibulação: costura da vagina. No século XIV, na Europa, era comum a mulher usar o "cinto de castidade", pois havia o temor de filhos adulterinos na família, o que comprometeria a divisão da herança e iria contra os costumes.
Na Revolução Puritana, na Inglaterra, no século XVII, a mulher adultera tinha que usar roupa com a letra "A" estampada identificando-a. Em 1715, o rei de Portugal, Dom José, assinou lei para expor os traídos, pois a pessoa que tomasse conhecimento de uma traição deveria pendurar chifres na porta da casa do traído, daí a origem do "levou um chifre". Os esquimós não reconhecem o adultério, inclusive, ofertam suas esposas aos visitantes convidados para dormirem juntos como sinal de amizade. Na Europa contemporânea, há uma flexibilização nas relações afetivas e em muitos países os amantes optam por relações abertas em que não há adultério quando trocam de parceiros. As culturas que punem com a morte os adúlteros priorizam a honra ao invés de prestigiar a vida; no Nordeste, do Brasil, por exemplo, a cultura machista estigmatiza a mulher pilhada em adultério, mesmo não sendo crime, mas, numa ou noutra cultura, não há evidências de que o adultério tenha decaído...

 
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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