Os costumes são os principais responsáveis pela literatura religiosa, que em certo momento da História, se transformaram na Bíblia Sagrada. Estão na Bíblia livros com histórias, cantos, poesias, leis morais e comerciais, revelações etc, compendiados de várias culturas, portanto, trata-se de um livro multicultural que pretende orientar os seguidores dessa ou daquela religião, já que muitas religiões o seguem. Os dez mandamentos contidos no Antigo Testamento já estavam publicados no antiquíssimo “Livro egípcio dos mortos”, daí sugerir que houve um “empréstimo cultural” egípcio. Num livro do Antigo Testamento, é autorizado o empréstimo a juros: “Poderás fazer um empréstimo com juros ao estrangeiro” (Deuteronômio, 23,21) – em hebraico, a palavra juros, nechekh, quer dizer: “mordida” – essa é a origem do capitalismo. A cultura da poligamia é também dessa época e estava autorizada no Antigo Testamento e os casamentos seguiam religiosamente essa norma. É também por “empréstimo cultural” desse período uma das mais belas passagens bíblicas: “Faze aos outros aquilo que queres que te façam”.
O Novo Testamento deu uma nova interpretação à literatura religiosa, mas absorvendo por empréstimo muito do que já estava prescrito no Antigo Testamento, porém, diferencia daquele na questão da ênfase em servir a Deus mais do que o dinheiro – “Não se pode servir a Deus e a Mamon” (Lucas, cap. 16, v. 13) –, bem como sugere a monogamia como forma de matrimônio. Surge então, o Cristianismo, que em pouco tempo conquistaria várias plagas e o coração daqueles povos desejosos de salvação. A História do Cristianismo, mesmo exagerada, mudou positivamente a humanidade e ainda hoje é pouco compreendida devido às diversas interpretações.
No século VII, surge a doutrina de Maomé, que também teve o seu livro sagrado, o Alcorão, que recepciona o Antigo e o Novo Testamento e dá uma nova interpretação aos enunciados religiosos, e nasce então, o Islamismo. No Alcorão, a poligamia volta à tona; e hoje o Islamismo é a religião que mais cresce no mundo, não por causa da poligamia, mas por conta da cultura machista dos países que a praticam. No Alcorão, Jesus Cristo é reverenciado e a versão da ressurreição parece-me um pouco inusitada, pois Ele sobe aos céus com a alma e o corpo, após a crucificação. Perde tempo quem tentar anular os livros religiosos ditos sagrados, pois eles fazem parte da cultura e do imaginário dos povos e estão estruturados na mente humana de forma irreversível.
Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista
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