Meu novo livro: Novas abordagens

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sábado, 16 de julho de 2011

Ensaio da eloquência - artigo - Diário do Nordeste

Tanto na música, como num discurso eloquente, é possível ser contagiado pela carga emocional contida nos sons e na fala ecoada. A música tem sido milenarmente instrumento de harmonia e de desarmonia na civilização, pois pode levar o sujeito a estados meditativos positivos, bem como, à depressão. Um dos gigantes da Música Popular Brasileira (MPB), o genial Renato Russo, compôs canções belíssimas e com mensagens inigualáveis, mas cantarolava sempre em estado depressivo, o que acabou prejudicando as melodias e deixou quase toda uma geração melancólica. Na antiquíssima "Odisseia de Homero", relata-se o "Canto da sereia", que atraía e traía os navegantes com cantos hipnotizantes, sugerindo que a música tem o poder de alterar o estado mental do sujeito. Na psicanálise, esse fenômeno é conhecido como "contratransferência", e ocorre quando o psicanalista passa a vivenciar o problema de seu analisando; mas aplicando na vida cotidiana, muitos vivenciam, sem perceber, os problemas e os sofrimentos do outro. Na política, o discurso tem que ser cada vez mais eloquente quando se aproxima a eleição, pois com o distanciar do tempo, a carga emocional contida na eloquência vai perdendo a eficácia e os eleitores tendem a esquecer ou a escutar outros discursos também eloquentes. Nos julgamentos, o advogado sustenta oralmente sua tese com bastante eloquência, pois logo em seguida, há o julgamento pelos magistrados, mas se a querela demorar, tende a perder força aquele discurso emocional. Os totalitários recorrem sempre à eloquência para chegarem ao poder; e os discursos são previamente analisados em cada palavra que será proferida e que depois serão repetidas exaustivamente para fixação - recurso utilizado pelos marqueteiros contemporâneos. Líderes religiosos abusam da eloquência para praticar o proselitismo e, não raramente, angariar mais "ajuda" financeira para as obras assistenciais que nem sempre existem. A fala humana é uma ferramenta poderosíssima, tanto para o bem, quanto para o mal, mas cabe ao leitor ficar atento a essas manipulações sonoras que sutilmente podem controlá-lo...





LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

Um comentário:

Felipe Chagas disse...

Oi Luis

"Ensaio da eloquência" foi com certeza um de seus melhores artigos.

Abraço,
Ruth