Meu novo livro: Novas abordagens

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sábado, 7 de maio de 2011

História de vida - artigo - Diário do Nordeste

Numa das versões do antiquíssimo conto árabe, "As mil e uma noites", é dito que o rei persa Shariar surpreende a sua esposa em adultério e não contendo a emoção, mata-a. Após essa tragédia real pessoal Shariar passa a se relacionar com várias mulheres, mas ao término da noite de orgias, entrega a mulher aos seus carrascos para que a exterminem. Shariar sentia prazer em matar as mulheres e assim foi por muito tempo até que Sherezade, filha de um Vizir - alto funcionário nos impérios muçulmanos - se envolver com o rei traído, mesmo sabendo do perigo iminente de morte. Porém, usa uma estratégia admirável para demovê-lo do seu desejo de se vingar do universo feminino por conta de uma traição. A cada noite, Sherezade conta uma história para Shariar e, quando fica fascinante e próximo ao término, deixa-a inconclusa para terminá-la na noite seguinte, deixando o rei curioso para saber o final. E assim foi por mil e uma noites... As histórias antigas de várias culturas trazem ensinamentos velados que precisam de compreensão para a elucidação; e, no caso da tragédia de Shariar, que até então parecia irreversível, apareceu uma mulher que foi capaz de conquistá-lo usando um método contrário ao processo da análise, ou seja, o rei apenas ouvia, ao invés de falar. A questão da traição conjugal está impregnada na cultura da civilização, pois é reprimida e até em livros ditos sagrados é recomendado o apedrejamento e a morte a mulher adúltera. Passou despercebido que a mentira engole o fato na traição, pois o sujeito se sente traído por conta da mentira e o fato - o eventual ato sexual - pode ser considerado algo acessório. Nos países de cultura muçulmana, a mulher que for surpreendida em adultério é apedrejada até a morte e a todo um ritual para prolongar o sofrimento e assim desencorajar as outras na prática do adultério - mas não há evidências de que haja diminuição da traição. Um fato chama a atenção na questão do adultério: a quase totalidade dos que traem dizem sofrer, mesmo que não sejam descobertos, sugerindo que podem ter caídos inconscientemente numa "armadilha" cultural...


LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

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