Meu novo livro: Novas abordagens

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sábado, 7 de abril de 2012

Síndrome leopoldiana - artigo - Diário do Nordeste

O desejo de dominar os demais no sujeito produz comportamento atípico que é capaz de surpreender até os mais experientes. O genocídio ocorrido no território do rio Congo, na África, no final do século XIX, em que 10 milhões de africanos foram barbaramente assassinados e que foi patrocinado pelo rei da Bélgica, Leopoldo II, fornece elementos importantes para estudarmos o comportamento e a perversidade humana em sua plenitude. O jovem rei Leopoldo II sonhava encontrar terras devolutas para ampliar o seu reinado e descobriu as riquezas do Congo, até então inexplorado. Para dominar as tribos negras africanas naquela plaga, fundou um movimento para "libertação dos escravos" e proclamou-se humanista e filantropo, mas enganou a muitos da comunidade internacional que lhe depositaram apoio, pois o seu real objetivo era explorar os congoleses e retirar-lhes todas as suas riquezas minerais e, especialmente, o látex e o marfim. Em Serra Leoa, também na África, no século XXI, os diamantes vêm provocando discórdias e guerras entre as tribos locais e mais uma vez os africanos são explorados e mutilados pelos comerciantes dessa pedra preciosa. Os diamantes de sangue, como ficaram conhecidos, são negociados com os africanos a preço vil e/ou trocados por armamento de guerra obsoleto, proporcionando assim a formação de guerrilhas tribais e impedindo qualquer esperança de paz. A crueldade no sujeito e na civilização sempre existiu, mas houve um aumento considerável nos casos de genocídio após a Peste Negra, na Idade Média, na Europa, em que quase metade da população pereceu, supostamente por envenenamento da água - depois veio a Inquisição até os dias de hoje. Extermínios em massa tornaram-se a solução para os "conquistadores" do planeta, daí os regimes totalitários não prestigiarem o direito à vida e à dignidade humana, inclusive recorrendo à pena de morte como ferramenta para se manter a ordem - estatísticas apontam que 100 milhões de pessoas no mundo foram assassinados durante regimes comunistas no século XX. A síndrome leopoldiana age inconscientemente no governante levando-o a sentir prazer em ser temido e insaciável, mas como um esquizofrênico, não se preocupa com o sofrimento e o bem-estar dos demais, pois para o leopoldino somente o seu gozo interessa.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

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