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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A família em análise - artigo - Jornal OTEMPO de Minas Gerais

   Sigmund Freud dizia que a família era constituída de heróis trágicos que ora se atraíam, ora se agrediam, ora se matavam, mas reconhecia a importância do núcleo familiar na formação do sujeito, aconselhando que as relações familiares fossem conservadoras, porém, esclarecidas ao máximo.
Jacques Lacan, outro gigante da psicanálise, acompanhou o pensamento freudiano, mesmo não tendo conseguido uma estabilidade familiar, mas sabia da importância da família para o sujeito. Lacan ironizava contra si: "odeio minha família porque não posso amá-la", mas foi o próprio Lacan que criou os conflitos que justificariam esse ódio familiar.
   Alguns regimes políticos não dão ênfase à família, pelo contrário, tentam até anulá-la, pois o Estado estaria sempre em primeiro lugar, e pugnam pelo controle de natalidade para limitar e controlar a família e a sociedade; exemplo: comunismo, fascismo e nazismo.
   A desagregação familiar é fenômeno que, em tese, nasceu no século XIX, com o declínio do patriarcado e a descrença na religião; e a família então procurou se remodelar para continuar sobrevivendo a todos os ataques e modismos a que ficou exposta.
   Há pontos curiosos para se estudar em relação à família, pois todos a querem, mas poucos estão dispostos a constituí-la e arcarem com o preço que é pago por esse instinto inato de sobrevivência da espécie e do desejo de ter um lar. A família é tema recorrente na psicanálise, pois Freud, quando redescobriu o complexo de Édipo, a família passou a ser mais bem-observada em sua influência e importância na formação do sujeito.
   A família na contemporaneidade passa por nova crise e as separações conjugais não param de crescer. Porém, despercebidamente, vem aumentando assustadoramente outro fenômeno psicológico que quase sempre ocorre com o desenlace matrimonial que é conhecido hoje como "alienação parental", que tanto prejuízo causa na formação da criança e do adolescente. A "alienação parental" acontece quando a genitora manipula ou faz lavagem cerebral no filho para que fique indiferente e hostilizando o genitor por conta do seu desejo de vingança e do sentimento de abandono, impedindo, assim, a plenitude do amor filial. No entanto, em pequena escala, o contrário, ou seja, o genitor alienar o filho, é também possível.
   Observa-se outro fenômeno contemporâneo que diz respeito ao núcleo familiar, pois os homossexuais e as lésbicas estão reivindicando pelo mundo o direito de constituir família e de poder adotar, sugerindo que a família é algo necessário e sagrado para o sujeito.
   A questão do total descontrole do uso e do abuso das drogas, do alcoolismo, do suicídio e da violência urbana tem, em tese, muito a ver com a ausência do afeto da família na vida do sujeito.
   A família é um espinheiro em forma de lar, porém, necessário à civilização e ao sujeito. No entanto, como de tempos em tempos, remodelar-se-á para continuar existindo.

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

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