Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 1 de junho de 2008

Preço da verdade - Artigo - Diário do Nordeste


Debates e idéias

Preço da verdade


Platão, na sua obra “A República”, narra-nos o que ficou conhecido como “O mito da caverna”, onde os homens viviam, desde nascidos, acorrentados dentro de uma caverna e olhando permanentemente para o lado oposto da entrada. Nesta condição, viam apenas feixes de luz e imaginavam que os mesmos eram deuses, porém, um dia, um dos encarcerados, resolve se libertar e romper as algemas que o aprisionava àquela malfadada condição, e consegue sair da caverna para constatar que as sombras não eram deuses, mas, sim, algo produzido por homens, como eles. Ao voltar à caverna e contar o que descobriu aos demais, foi tido como mentiroso e corruptor das crenças. Os mitos sempre explicaram a vida e não é à-toa que todos – ou quase todos – falam de situações que desde tempos imemoriais a humanidade vem repetindo-os. Foi assim que Freud encontrou no “mito do Édipo” o conflito que todo mundo, sem exceção, passa na vida, e outros tantos que não teria espaço aqui para narrá-los. Alguns filósofos discordam que a vida é mera repetição de fatos, mas parece inegável essa hipótese, se compreendida no seu sentido mais amplo. Todos que se atreveram a trazer verdades e conhecimentos inéditos para a humanidade, pagaram preço alto por conta disso. Muitos ganharam fortunas com suas descobertas, mas outros acabaram pagando preço vultoso e por conta disso foram caluniados, difamados e criticados injustamente, quando não mortos. Não é sem razão que muitos intelectuais da contemporaneidade não publicam seus escritos com medo da opinião pública, pois sempre haverá pessoas e grupos contrários ao que se publica. Na alegoria platônica, vê-se, que desde aquela época já era assim, pois quem tentasse libertar seus pares seria hostilizado no primeiro momento e hoje vemos a história sendo reescrita inocentando bravos homens altruístas que publicaram novas idéias e verdades. A humanidade não está avançando por conta do anacronismo do “sistema” que sempre e somente pensa em “controlar” o homem, ora com falsas crenças, ora instigando ao consumismo desenfreado que o leva a escravidão sem correntes.
LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO
Psicanalista

Um comentário:

Anônimo disse...

A visita da Verdade
Certa feita, disse o Mestre que só a Verdade fará livre o homem; e, talvez porque lhe não pudesse apreender, de imediato, a vastíssima extensão da afirmativa, perguntou-lhe Pedro, no culto doméstico:
— Senhor, que é a Verdade?
Jesus fixou no rosto enigmática expressão e respondeu:
— A Verdade total é a Luz Divina total; entretanto, o homem ainda está longe de suportar-lhe a sublime fulguração.
Reparando, porém, que o pescador continuava faminto de esclarecimentos novos, o Amigo Celeste meditou alguns minutos e falou:
— Numa caverna escura, onde a claridade nunca surgira, demorava-se certo devoto, implorando o socorro divino. Declarava-se o mais infeliz dos homens, não obstante, em sua cegueira, sentir-se o melhor de todos. Reclamava contra o ambiente fétido em que se achava. O ar empestado sufocava-o — dizia ele em gritos comoventes. Pedia uma porta libertadora que o conduzisse ao convívio do dia claro. Afirmava-se robusto, apto, aproveitável. Por que motivo era conservado ali, naquele insulamento doloroso? Chorava e bradava, não ocultando aflições e exigências. Que razões o obrigavam a viver naquela atmosfera insuportável?
Notando Nosso Pai que aquele filho formulava súplicas incessantes, entre a revolta e a amargura, profundamente compadecido enviou-lhe a Fé.
A sublime virtude exortou-o a confiar no futuro e a persistir na oração.
O infeliz consolou-se, de algum modo, mas, a breve tempo, voltou a lamuriar.
Queria fugir ao monturo e, como se lhe aumentassem as lágrimas, o Todo-Poderoso mandou-lhe a Esperança.
A emissária afagou-lhe a fronte suarenta e falou-lhe da eternidade da vida, buscando secar-lhe o pranto desesperado. Para isso, rogou-lhe calma, resignação, fortaleza. O pobre pareceu melhorar, mas, decorridas algumas horas, retomou a lamentação. Não podia respirar — clamava, em desalento.
Condoído, determinou o Senhor que a Caridade o procurasse.
A nova mensageira acariciou-o e alimentou-o, endereçando-lhe palavras de carinho, qual se lhe fora abnegada mãe. Todavia, porque o mísero prosseguisse gritando, revoltado, o Pai Compassivo enviou-lhe a Verdade.
Quando a portadora de esclarecimento se fez sentir na forma de uma grande luz, o infortunado, então, viu-se tal qual era e apavorou-se. Seu corpo era um conjunto monstruoso de chagas pustulentas da cabeça aos pés e, agora, percebia, espantado, que ele mesmo era o autor da atmosfera intolerável em que vivia. O pobre tremeu cambaleante, e, notando que a Verdade serena lhe abria a porta da libertação, horrorizou-se de si mesmo; sem coragem de cogitar da própria cura, longe de encarar a visitadora, frente a frente, para aprender a limpar-se e a purificar-se, fugiu, espavorido, em busca de outra furna onde conseguisse esconder a própria miséria que só então reconhecia.
O Mestre fez longa pausa e terminou:
— Assim ocorre com a maioria dos homens, perante a realidade. Sentem-se com direito à recepção de todas as bênçãos do Eterno e gritam fortemente, implorando a ajuda celestial. Enquanto amparados pela Fé, pela Esperança ou pela Caridade, consolam-se e desconsolam-se, crêem e descrêem, tímidos, irritadiços e hesitantes; todavia, quando a Verdade brilha diante deles, revelando-lhes a condição em que se encontram, costumam fugir, apressados, em busca de esconderijos tenebrosos, dentro dos quais possam cultivar a ilusão.