No início do ano é momento de se renovar a esperança de que tudo irá melhorar
no ano vindouro e que as pessoas serão mais humanas, solidárias, enfim, viverão
em paz, como fazem nas festas da passagem do ano: se abraçam e se beijam, muitas
vezes sem sequer se conhecerem. A predominância das roupas na cor branca da paz
nas festas de Réveillon sugere ser um dos objetivos de vida: viver em harmonia
com o próximo no ano que chega. No entanto, começamos as primeiras horas do ano
novo assistindo atônitos a um crime brutal contra um colega advogado, cometido
por causa de uma colisão de trânsito, como se a vida tivesse menos valor do que
o conserto do veículo. No dia imediato, a imprensa revela que uma chacina
vitimou quatro pessoas num conjunto habitacional e a polícia desconfia que tenha
sido por causa de acerto de contas do tráfico de droga.
E o que dizer dos bárbaros crimes passionais que ocupam diariamente as
páginas policiais dos matutinos ocorrendo em todo o país, como se o amor e o
ódio fossem a mesma coisa — esse não é o verdadeiro amor. A violência dá prazer
em quem a pratica, pois ninguém faz nada sem sentir prazer, salvo sob coação,
porém, quase todos parecem querer a paz, mas é preciso que se dê a contrapartida
para que um dia a paz reine aqui na Terra. Vivemos numa época em que a vida não
tem recebido o devido valor, pois a ineficácia do poder público em policiar as
cidades, prender e condenar os que descumprem as leis já é inegável, daí muitos
recorrerem à autotutela — justiça com as próprias mãos. Os traficantes de drogas
têm suas próprias leis e em algumas localidades a polícia tem receio de adentrar
por conta do “poder de fogo” do tráfico, acrescente a essa audácia a
impunidade.
A violência urbana é um fenômeno social que não respeita a esperança
coletiva, mas não podemos jamais, em tempo algum, deixar de acreditar que um dia
viveremos em paz....
Luís Olímpio Ferraz Melo é advogado e psicanalista
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