Meu novo livro: Novas abordagens

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domingo, 12 de agosto de 2012

A morte ritualizada - artigo - Diário do Nordeste

Na ilha indonésia de Bali, os balineses leem histórias, uns para os outros, quando estão preparando um sepultamento; e as histórias são dos arquivos das famílias e repetidas há séculos, mas o curioso é o motivo do ritual que é mantido em cerimônia por até três dias sem parar: evitar a aproximação dos demônios. Segundo a crença local, os demônios se apoderam das almas vulneráveis após a morte, mas a contação de histórias mantê-los-ia afastados.
No Brasil, em Mato Grosso, os Bororos reúnem as tribos nas aldeias para o ritual mortuário e fazem uma espécie de "enterro secundário", pois há inumação e exumação. Após alguns dias do sepultamento, sempre cantando, o corpo é exumado pelos Bororos e é lavado e depois enfeitado com penas policromas e o crânio é então transportado para as residências e servirá como lembrança do ente querido, como se fosse uma fotografia. No Tibete, o ritual mortuário é uma festa de libertação da alma, pois os tibetanos sabem da reencarnação e que o espírito sobrevive após a morte do corpo, daí o cortejo fúnebre ser encarado com naturalidade e sem histeria.
A cremação do corpo do falecido tem sido usada por empréstimo cultural em muitas culturas, pois foram os gregos que, no século VII a.C. implantaram-na no ritual mortuário, inclusive, no século imediato os hinduístas, na Índia, já também praticavam - há consenso de que o corpo deva ser cremado somente após 72 horas da morte cerebral. O povo judeu é o único contrário à cremação, pois considera profanação ao corpo do falecido. Na Índia, em Varanasi, todos os dias ao cair da noite, há o ritual mortuário de cremação dos mortos nas margens do rio Ganges, em que músicas, louvores e velas são utilizados em homenagem aos mortos, mas a contradição é que jogam as cinzas no rio Ganges poluindo-o, pois usam a água para beber e banhar-se.
A morte tem sido um mistério para a civilização, tanto no campo do outro mundo desconhecido, como no estudo do sofrimento dos entes queridos que ficam. Exceção do suicídio, a morte é um processo de libertação natural do espírito e deve assim ser encarado, portanto, o sofrimento, o luto e a ausência são compreensíveis, mas a vida continua e ninguém deve se entregar ao desânimo ou desistir de viver por conta do desencarne de um ente querido...

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

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