Meu novo livro: Novas abordagens

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sábado, 3 de julho de 2010

Conhecimento x crença - artigo - jornal OPOVO

Conhecimento x crença


Quem escreveu os livros da Bíblia sabia que se lidos repetidas vezes, tornar-se-iam “verdadeiros” muitos dos fatos ali narrados, pois há hibridismo cultural nos textos. A Bíblia é uma coleção de livros híbridos e poliglotas, pois há nela lendas, leis, poesia, profecias, filosofia e história relatada e absorvida de várias culturas. O hibridismo é também notado na questão das crenças e do manancial de informações que forneceu aos demais textos, após o Antigo Testamento. Assim como o Cristianismo, o Islamismo, que tem como livro sagrado o Alcorão, absorveu e recepcionou boa parte do Antigo e do Novo Testamento, ou seja, as três principais religiões do mundo – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo – reconhecem a Bíblia como texto sagrado. Seria uma atitude obscurantista negar a importância da Bíblia para a civilização, mas a contradição maior, entre outras, é que, em sendo o livro mais vendido do planeta, é, por conseguinte, o menos lido, pois historicamente os livros foram mais ouvidos do que lidos e as tradições religiosas por muito tempo foram apenas orais.
A glorificação do sentimento de culpa começou a surgir no ano de 375 d. C, quando um monge prescreveu uma lista em que relacionava e considerava as oito tentações que deveriam ser evitadas pelo homem, sob a crença de uma pena de punição divina. O papa Gregório, o Grande, em 590 d. C transformou essa lista com as oito tentações nos Sete Pecados Capitais, os quais teriam como punição o fogo eterno do inferno. Os Sete Pecados Capitais gregorianos da Igreja Católica são na realidade vícios, representados na figura alegórica do diabo, exemplo: avareza (Mammon); ira (Satã); inveja (Leviatã); gula (Belzebu); luxúria (Asmodeu); orgulho (Lúcifer); preguiça (Belfegor), pois a intenção da Igreja era de moldar a humanidade de tal forma que esses excessos se tornassem pecados para quem os cometesse, mas o resultado saiu pela culatra, pois acabou enchendo a mente humana de sentimento de culpa, aliás, os pacientes portadores de transtornos mentais queixam-se sempre de forte sentimento de culpa. A crença numa punição divina imaginária é compatível à tortura mental, pois o sujeito fica “preso” ao passado e não consegue avançar.
Philippe Pinel identificou nos seus estudos, sem que haja contestação, a religião e os livros pios como prejudiciais à saúde mental, daí ter proibido nos hospitais franceses de Bicêtre e de Salpêtrère qualquer tipo de culto a crenças religiosas. É tentador imaginar que há mensagem velada nessa passagem Bíblica: Conhecereis a verdade – conhecimento – e a verdade vos libertará – das crenças.

Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista.

3 comentários:

Sukham disse...

Olímpio,
É sempre muito interessante pesquisarmos e conhecermos um pouco da história da humanidade. E, assim, são seu artigos, bastante esclarecedores. Acrescento o seguinte texto extraído do livro; Cristianismo e Espiritismo: "... não é senão no ano 60 e 80 que aparecem as primeiras narrações escritas, a de Marcos a princípio, que é a mais antiga, depois as de Mateus e Lucas, todas, escritos fragmentários, como todas as obras populares. Marcos e Lucas transcreveram o que lhes fora dito pelos apóstolos. Mateus e João conviveram com Jesus e recolheram seus ensinos. Os seus evangelhos, porém, não foram escritos senão quarenta e sessenta anos depois da morte do mestre. Com Paulo e depois dele, novas correntes se formam e surgem doutrinas confusas no seio das comunidades cristãs. Sucessivamente, a predestinação e a graça, a divindade do Cristo, a queda e a redenção, a crença em satanás e no inferno, serão lançados nos espíritos e virão alterar a pureza e simplicidade ao ensinamento do filho de Maria."
Sukham

Sukham disse...

Olímpio,
É sempre muito interessante pesquisar e conhecer um pouco da história da humanidade. Assim, é um prazer ler seus artigos que são bastante esclarecedores.
Sukham

Sukham disse...

Olímpio,
Apenas, um pouquinho mais sobre a tradução da Bíblia:

“... A fim de pôr termo à divergências de opinião, no próprio momento em que vários concílios acabam de discutir acerca da natureza de Jesus, uns admitindo, outros rejeitando a sua divindade, o Papa Damaso confia à São Jerônimo em 384, a missão de redigir uma tradução latina do Antigo e do Novo Testamento. Essa tradução deverá ser, daí por diante, a única reputada ortodoxa e tornar-se-á a norma das doutrinas na Igreja: foi o que se dominou a <>. (Obras de São Jerônimo, edição dos Benedetinos, 1693, t. I, col. 1425).
Essa tradução oficial, que deveria ser definitiva segundo o pensamento de quem ordenava (Damaso) a sua execução foi, no entanto, retocada em diferentes épocas, por ordem dos pontífices romanos. O que havia parecido bom no ano 386 ao de 1586, e que fora aprovado em 1546 pelo Concílio Ecumênico de Trento, foi declarado insuficiente e errôneo por Sixto V, em 1590. Fez-se nova revisão por sua ordem, mas a própria edição que daí resultou, e que trazia o seu nome, foi modificada por Clemente VIII em nova edição, que é a que hoje está em uso e pela qual as traduções francesas dos livros canônicos submetidos a tantas retificações através dos séculos.
Entretanto, a despeito de todas essas vicissitudes, sob o sentido adulterado, ou oculto, sente-se palpitar a força da primitiva idéia, onde, se revela a mão do grande semeador, a profundezas desses ensinos, unidos a beleza moral e ao amor, sente-se a obra de um enviado celeste.”
Sukham