Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

terça-feira, 30 de novembro de 2010

                                                 Charge do Amarildo
                                                       Fonte: Noblat

domingo, 28 de novembro de 2010

Coisas do Brasil - artigo - Diário do Nordeste

Coisas do Brasil

 

A cultura do estrangeirismo no Brasil é antiga e produziu fenômeno interessante a ser estudado: a xenofobia às avessas (xenofilia). Se no Exterior há aversão aos estrangeiros - xenofobia - aqui no Brasil os brasileiros adoram tudo que vem de fora, inclusive de regiões diferentes de dentro do Brasil. Dezenas de artistas - humoristas, atores, cantores, etc. - nordestinos tiveram que emigrar para o Sul para conhecer o sucesso, pois os seus conterrâneos resistiam em reconhecê-los. Fiquei tentado a escrever este artigo depois de me deparar várias vezes em livros de autores estrangeiros com citações positivas sobre os escritores Gilberto Freyre, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e outros brasileiros, mas aqui no Brasil pouco se vê citações de brasileiros reconhecendo esses gigantes da literatura nacional, o que pode sugerir que há preconceito na cultura nacional.
Os humoristas Chico Anísio, Renato Aragão e o cantor e poeta Raimundo Fagner, por exemplo, todos cearenses, são heróis dignos de honrarias, pois mesmo tendo que emigrar de sua terra natal, hoje fazem sucesso dentro e fora do país e são considerados fenômenos culturais atemporais. Voltando a Gilberto Freyre, que se formou no Exterior e despertou a atenção dos intelectuais de diversas pátrias, criticado por ter apoiado o golpe militar de 1964, bem como defendido a "democracia racial" e de ser um teórico a-teórico - se é que isto seja possível - deixou valiosa contribuição intelectual falando mais do Brasil do que de outra pátria, mas ironicamente é, em tese, mais reconhecido no estrangeiro. Houve uma época - mais do que agora - em que os brasileiros somente desejavam usar objetos se fossem de outro país, principalmente dos EUA, mesmo havendo produtos similares fabricados aqui tão bons - ou até melhores - quanto os de lá. Há intelectuais brasileiros que admiram regimes esquerdistas do Exterior sem ter a mínima noção do perigo de tais governos; e os anglófilos acreditam ser o Paraíso o Reino Unido e a sua obscura monarquia, mas é engano... O sábio provérbio: "santo de casa não obra milagre"; deve ser brasileiro...



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO

Psicanalista

A crença na religião - artigo - OPOVO

A crença na religião


Em 9 de novembro de 1989, na Alemanha, começou a derrubada do “Muro de Berlin”, mas já na semana imediata era possível comprar nos EUA em lojas de souvenir “pedaços originais” do muro que semanas depois também foram vendidos em outros continentes. No entanto, é possível que diante da quantidade de “pedaços originais” fosse possível construir duas outras muralhas da China. O exemplo acima é dado propositalmente fora das searas das religiões, pois a crença ultrapassa a questão religiosa e habita o imaginário humano. Somente no século XIX, começaram as escavações arqueológicas na Babilônia, onde, em tese, teria surgido a comercialização de objetos supostamente sagrados, daí ainda não se ter uma radiografia segura da gênese e da amplitude da crença naquela sociedade. Na Índia, os hinduístas acreditam serem sagradas as águas do rio Gangues e por isso, se banham diuturnamente nelas sem se preocupar com os cadáveres boiando numa visível poluição e riscos de doenças, pois a crença na cultura indiana é muito forte e ultrapassa a racionalidade.
No templo de Miralepa, no Tibete, os tibetanos passam o dia se jogando no chão num ritual secular que nem eles sabem como e quando começou, mas acreditam que aquele quase flagelo é importante para reverenciar Miralepa de quem nem sequer há provas de que existiu. A civilização Maia, que viveu na América Central, é tida como evoluída, mas fazia sacrifícios humanos terríveis acreditando serem necessários para agradar na devoção aos seus deuses. O homem confunde Evolução com Devoção, mas nada tem a ver uma coisa com a outra, pois na devoção há crença na adoração de santos e imagens sacras. Porém, a Evolução marcha justamente em sentido contrário, pois é se desprendendo das crenças e do material que se evolui.
A ciência tem dado uma contribuição valorosa para desmistificar as crenças na civilização e o caso de maior destaque é o do exame do Santo Sudário de Turim com a datação do carbono 14. Fragmentos do Sudário de Turim foram analisados simultaneamente em 1988, em três laboratórios – Suíça, Inglaterra e EUA – e para surpresa da comunidade científica e religiosa os três apontaram a data dessa relíquia sagrada para a Idade Média, o que sugere que jamais poderia ter sido usado no evento da suposta crucificação no período paleocristão. Há mais de três mil denominações religiosas hoje no mundo e todas afirmam possuir a verdade absoluta e que o seu Deus é o único real.




Luís Olímpio Ferraz Melo é psicanalista

domingo, 21 de novembro de 2010

Berlinda intelectual - artigo - Diário do Nordeste

Berlinda intelectual

 
A historiografia da intelectualidade não é a das mais empolgantes, pois o papel originário dos intelectuais de apontar as contradições, estes homens de conhecimentos enciclopédicos, não os livrou de também tê-las. Platão defendeu a pena de morte e falava na necessidade do ideal do bem, mas é contradição apregoar o bem utilizando a vingança vez por outra. Montaigne era moralista e achava o costume da sua época, - século XVI -, em que era normal o magistrado vender sua vaga nos tribunais, um absurdo, mas Montaigne vendeu a sua toga sem qualquer remorso. Rousseau foi entre todos, o moralista por excelência, deu contribuição intelectual extraordinária para a civilização, mas além de defender a pena de morte sem rodeios, nas suas Confissões tentou justificar em vão o abandono de seus cinco filhos num orfanato. Robespierre foi uma dessas figuras emblemáticas na intelectualidade, pois liderou a Revolução Francesa com discurso ético e em defesa da vida, mas no período do terror, mudou-o e defendeu a pena de morte, onde encontrou nela a sua contradição. Marc Bloch dizia em tom jocoso: - robespierristas, anti-robespierristas, nós vos imploramos: por misericórdia, dizei-nos, simplesmente, quem foi Robespierre? Interpelado sobre a razão de ter mudado o discurso e defendido a pena de morte, Robespierre disse: - os tempos mudaram; como se a atividade intelectual fosse uma contraditória metamorfose ambulante. O conhecimento bom trazido por esses intelectuais não deve ser anulado, pois é contribuição valiosa para a civilização, mas é preciso ficar atento com os escritos intelectuais, onde já se encontrou antissemitismo e totalitarismo disfarçados e outros desejos nocivos para a humanidade, daí a necessidade da leitura crítica. A mudança do discurso é perigosa, pois sem uma justificativa cabal, mostra a contradição do intelectual. O intelectual é responsável pelas ideias que defender; e é prudente que se abstenha de participação ativa político-partidária, pois o intelectual defende a civilização e é independente e os seus valores inarredáveis, são a verdade, a razão e a justiça.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO é psicanalista

domingo, 14 de novembro de 2010

Café no subsolo - artigo - Diário do Nordeste

Café no subsolo


 

A líder comunista Rosa de Luxemburgo e vários de seus contemporâneos marxistas eram judeus, mas diziam ter renunciado a fé religiosa – poucos acreditaram –, porém, seus nomes eram quase sempre ligados aos líderes bolchevique judeus da Rússia – Trotsky, Zinoviev e Kamenev. Descobriu-se nos “arquivos soviéticos” que o “Lênin bonzinho” não existiu, pois essa imagem foi exageradamente explorada pelo seu sucessor Stalin para manter as alianças políticas e legitimar e promover as atrocidades na Rússia.
Os Três Grandes, Roosevelt, então presidente dos EUA, Churchill, primeiro-ministro do Reino Unido, ambos maçons, e o comunista bolchevique Stalin, entre acordos de alianças para a guerra e divisão territorial de países, criaram as Nações Unidas – hoje Organização das Nações Unidas (ONU) – e inauguram-na em 25 de abril de 1945, numa conferência em São Francisco, nos EUA. Os países governados pelos Três Grandes mais a hibrida França e a China comunista são os únicos membros permanentes no Conselho de Segurança da ONU com poder de veto, mas curiosamente são também os gigantes da indústria bélica mundial. É difícil acreditar que o desejo da criação da ONU tenha sido para a viabilização da paz, pois logo no pós-Segunda Guerra houve a Guerra Fria que rearmou todos os continentes e durou quase meio século, tornando inviável o desarmamento militar e o acordo para evitar a temida guerra termonuclear.
A ignorância tem sido a pior arma para se proteger dos governantes beligerantes, pois eles criam situações para tentar justificar as suas ações e se manterem no poder, mesmo que isto custe a vida de milhões. Nos EUA, quando se aproximam as eleições, coincidentemente, começam a aparecer “ameaças” de terrorismo que o governo usa para manipular o eleitorado; e ainda hoje a “Comissão independente do 11/9” tenta descobrir a verdade sobre os atentados terroristas, mas ninguém do governo consegue desconstruir a hipótese de conspiração. Enquanto a civilização se “diverte” tomando cerveja e vinho, os totalitários estão sóbrios, tomando café escondido, sorrindo e planejando o próximo alvo...


 

Luís Olímpio Ferraz Melo – psicanalista.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

                                              Charge:Sponholz
                                        Fonte: Site Cláudio Humberto

domingo, 7 de novembro de 2010

A escrita da história - artigo - Diário do Nordeste

A escrita da história


 
Em "Moisés e o monoteísmo", Freud inaugurou, sem saber, uma nova perspectiva na historiografia da História; e curiosamente a sua bibliografia selecionada sugere que leu mais livros de arqueologia do que de psicologia. De onde escreve o historiador é uma questão crucial para a escrita da história, mas o olhar nos fatos e o que há por trás deles, não podem ser desprezado. O historiador não deve temer publicar descobertas e observações diferentes do que já foi escrito, por receio de heterodoxia ou de causar polêmica, pois o intelectual que não for polêmico tornar-se-á apenas mero repetidor de ideias. Afinal, a história é uma pintura provisória que sempre poderá receber retoques até chegar à perfeição. Baseando-se no volume de arquivos ainda lacrados, é possível que considerada parcela da história possa ser revisada e até reescrita por completo. Foi a Escola dos Annales (1929-89), fundada por gigantes da historiografia, considerada a Revolução Francesa da história, que propôs novas abordagens e perspectivas na escrita da "história nova". Os recentes abertos arquivos soviéticos trouxeram à tona revelações até então não observadas e alguns rumores incontroláveis ganharam força com as provas contidas nesses arquivos. Porém, muitas situações já são dadas como incomprováveis por destruição das provas ou alteração proposital do evento. Hitler temia a história e parecia saber que uma hora seria pilhado, pois apagou várias provas e não deu uma só ordem escrita no holocausto determinando a pública matança dos judeus e dos comunistas. Credite-se ao professor inglês Peter Burke o melhor ensino da escrita da história na contemporaneidade, pois a formação do historiador para a escrita da história é importante e devem ser afastadas influências religiosas, políticas e ideológicas ao narrar os fatos históricos, em contrário, a história estará comprometida. Freud desconfiava, com razão, dos seus futuros biógrafos, pois em sendo rompedor de um sistema de pensamento, sabia que seria alvo de inveja e de maledicências e há lotes de seus "arquivos" que somente poderão ser abertos em 2.100.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO

Psicanalista