Meu novo livro: Novas abordagens

Meu novo livro: Novas abordagens

domingo, 26 de setembro de 2010

Fofoca na sociedade - artigo - Diário do Nordeste

Fofoca na sociedade


A fofoca e o fuxico são perigosos sinônimos - feminino e masculino - que têm por finalidade "criar" uma situação ou aumentar um fato dando outra versão. Pesquisa aponta que 2/3 das conversações nas rodas sociais são fofocas e a mídia especializada em glorificar e bisbilhotar a vida privada das celebridades fatura alto com os escândalos e os "furos". A capacidade criativa do propagador de fofoca é algo extraordinário, mas pode ser considerada autos-sabotagem, pois em todos sabendo o nascedouro frequente das maledicências, os fofoqueiros, regra geral, não têm credibilidade. No jargão jornalístico, ouve-se muito a expressão, "plantar notícia", para designar uma notícia artificial e assim tentar torná-la fato jornalístico natural. É tentador imaginar que algumas pessoas teriam dificuldade de viver se não existisse a fofoca, já que pautam suas vidas em torno da vida alheia sem se preocupar com a sua. Há dois elementos psicológicos na fofoca: ela dá prazer e "consola" o fofoqueiro - a desgraça de poucos faz a alegria de muitos, diz o provérbio. Porém, produz uma autofagia social em que até os "cuidadores" da vida alheia são prejudicados.
O fofoqueiro é terrível e se projeta na sua vítima, semeia discórdias e ainda tem a ilusão de que nunca é alvo de fofoca. O sujeito desprevenido pode sofrer de rejeição, melancolia e tornar-se depressivo por conta da ação dos "boateiros". Cícero, no seu tratado sobre os deveres sociais, recomendava que se evitasse a fofoca maldosa sobre pessoas que não estivessem presentes nas rodas de conversa. Nas salas de convivência da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, o aluno que for pego "desabonando" um colega é multado, devendo pagar uma garrafa de clarete; o curioso é que essa regra foi criada pelos próprios alunos. Não é raro ouvir queixas de pessoas dizendo-se ser vítima de fofocas, mas quando perguntadas se também fofocam, saem-se dizendo que apenas fazem "comentários", mas fofoca, não (!). A fofoca anda de mãos dadas com a inveja e é um fenômeno social milenar que não traz benefício algum para a civilização e deve ser desencorajada.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO

Psicanalista

sábado, 25 de setembro de 2010

''Meu reino não é deste mundo'' - artigo - jornal OPOVO

''Meu reino não é deste mundo''


No charlatanismo, o conhecimento — da persuasão ou do antídoto — é transformado em crença para convencer o desejoso de cura. Desde 27 a.C. até a Revolução Francesa em 1789, a civilização foi governada por reis e monarcas e, para se manter no poder, os soberanos se apropriaram de conhecimentos milenares com o intuito de impressionar os súditos e assim controlá-los permanentemente.
O conhecido método do “toque real”, em que o rei fazia a imposição das mãos na cabeça dos súditos, curando-o de vários sintomas, principalmente de escrófula, nada mais era do que o magnetismo animal teorizado por Franz Mesmer no século XVIII. Os súditos acreditavam que o rei era taumaturgo e tinha poderes sobrenaturais e que eram legitimados no poder pelos deuses, daí a civilização ter passado 17 séculos sobre o domínio imperial, mas é tentador imaginar que os soberanos usavam de malandragem para controlar o povo. Na mitologia grega, Apolo é o deus da poesia e da medicina, pois sugere-se que a palavra tem poder de cura pelo magnetismo e a sugestão — no princípio era o Verbo, cita a Bíblia - assim como a medicina.
Afora usar os unguentos e as pílulas de todas as espécies e locais, que eram comercializadas em praças públicas como panaceias, os charlatões sempre tinham que diversificar seus métodos, afinal, uma hora seriam descobertos. Na Índia, Nepal, Tibete e outros países onde o fanatismo impera, mais perigoso do que as epidemias, são os charlatões, que se multiplicam a cada geração. Os charlatões se passam nessas searas por curandeiros divinos com poderes até de materializar objetos, mas não passam de ilusionistas. A boa-fé das pessoas é utilizada pelos charlatões para enganá-las, mas mesmo assim, muitas vezes, passam por “bonzinhos”, pois dizem que quem não tiver dinheiro não paga, ou, se não curar, não precisa pagar.
A crença na religião e nas suas alegorias é muito forte na civilização e desde a venda de indulgência pela Igreja Católica até a comercialização de lotes no céu – acredite, houve isso mesmo – as pessoas são enganadas pelos charlatões. Há magnetismo na fala e um eloquente charlatão pode encantar os sujeitos desprevenidos e fragilizados; veja na Odisséia de Homeroo canto da sereia que atraía e traía os barqueiros que ficavam hipnotizados. Os charlatões, ou trapaceiros, usam linguagem hiperbólica nas suas abordagens; e chega a sugerir ao desavisado que não há salvação fora de seus produtos.
As adivinhações, as promessas, grandes promessas, são sempre usadas pelos charlatões nas suas propagandas irresistíveis em jornais e/ou praças públicas, mas é sábio desconfiar de esmolas demais. Não há duvidas de que a Natureza possui nas plantas elixir para o tratamento de diversos sintomas, mas o charlatão transforma esse conhecimento em divino para ludibriar o aflito pela cura e adiciona a sugestão pela fala. Muitos médicos emprestaram, em troca de dinheiro, seus famosos nomes para charlatões patentearem e venderem suas pílulas, remédios e unguentos em escala industrial, tornando assim quase que “legalizado” o charlatanismo medicinal, mas com efeito placebo. O leitor que conseguir se libertar da armadilha do charlatanismo universal poderá dizer: “o meu reino não é deste mundo”.

LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO, psicanalista e autor do livro Pensamento contemporâneo

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

                                                        Charge: Sponholz
                                          Fonte: Site do Claúdio Humberto

domingo, 19 de setembro de 2010

Disputa de gigantes - artigo - Diário do Nordeste

Disputa de gigantes

 


Bibliotecas reivindicam o título de maior do mundo, mas não é fácil esclarecer e proclamar a vencedora, mesmo o Guiness Book já tendo a sua eleita. Há critérios técnicos que devem ser observados, tais como: quantidade de livros, artigos, dissertações, teses, fotografias, jornais, espaço físico, documentos inéditos, etc. A biblioteca de Nínive, na Assíria, no século VII antes de Cristo, possuía 25 mil plaquetas de argila, que eram usadas como livros e foi tida como a maior daquela época. Alexandre, o Grande, deu nome a uma das maiores bibliotecas da Antiguidade, a de Alexandria, no Egito, onde era possível encontrar antes de ser incendiada, milhares de rolos de pergaminhos. Na biblioteca de Ambrosiana, na Itália, os leitores eram aquecidos com braseiros, diminuindo assim a preocupação com eventual incêndio. De 1880 para cá houve aumento considerável na procura pelas bibliotecas, pois o advento da luz elétrica facilitou as pesquisas e leituras que eram limitadas ao bel-prazer da luz solar. Na biblioteca de Oxford, na Inglaterra, ainda hoje tem que se fazer juramento ao entrar de que não produzirá centelha que possa colocar em risco os livros. No século XV, após a fundação na Europa da Imprensa por Gutenberg - os chineses já tinham inventado há mil anos -, a produção de livros se proliferou de tal forma que era dito ironicamente que ninguém tinha mais tempo para lê-los, pois a oferta era enorme e no máximo se conseguia ver somente as capas. Os clientes das bibliotecas eram em geral os polímatas - homens de ampla cultura, hoje também conhecidos como intelectuais. A biblioteca do Congresso Nacional em Washington, nos EUA, a Nacional de Saint Petersburgo, na Rússia, a Biblioteca Nacional de Madri, a Bibliothèque Nationale em Paris e o British Museum em Londres, por exemplo, reivindicam o título de maior do mundo. Os 300 livros de Epicuro perdidos e outros tantos que ainda não foram achados desfalcam as gigantes bibliotecas que buscam o reconhecimento do seu tamanho, mas muitos homens de letras têm hoje a sua biblioteca particular, mas é bom não entrarmos nessa briga.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO

psicanalista

domingo, 12 de setembro de 2010

Revolução revisada - artigo - Diário do Nordeste

Revolução revisada

 
A história das revoluções despreza o verdadeiro desejo e objetivos almejados nesses movimentos. A Revolução Francesa (1789-1791) mobilizou aproximadamente 90% de camponeses que se rebelaram contra o regime monárquico, porém, foi a franco-maçonaria que emprestou a sublevação a trilogia: liberdade, igualdade e fraternidade - estandarte da luta contra os mais favorecidos em favor de todos e da democracia. O movimento revolucionário arquitetado por Moses Modechai Marx Levi, ou simplesmente, Karl Marx, saiu da sociedade secreta "Liga dos Justos" que encomendou o monumental Manifesto Comunista. Porém, parte modificada do texto do Manifesto já estava publicada antes de Marx nascer, e o nome foi modificado em 1847 de "Liga dos Justos" para "Liga dos Comunistas". Muitos dos artigos de Marx publicados no The New York Tribune foram escritos por seu amigo industrial Engels (Burke, 2006), o que sugere que há obscurantismo na teleologia do movimento e no desejo marxista. É difícil acreditar em movimento das massas sem o "apoio" dos grupos de pressão e/ou das sociedades secretas. No máximo, conseguirá movimentar um punhado de pessoas e por pouco tempo nas ruas. As elites tradicionalmente não se rebelam, pois sempre souberam dominar o poder sem esforço. O movimento estudantil é exceção à regra, mas as lutas dos estudantes são sempre delimitadas. É possível que os EUA não existissem na atual forma se não fosse a maçonaria, pois os maçons foram fundamentais na constituição do Estado americano. A Revolução Soviética, 1917, tomou de assalto os meios de comunicação para manipular a população e ao mesmo tempo impor ampla censura. No regime nazi-fascista do Vichy (1940-44), passou-se a ensinar por cartilhas nas escolas outra versão da história daquele período obscuro para os franceses. Não é confortável escrever sobre isto, mas a civilização é manipulada e os totalitários querem passar a ideia de que o povo não tem inteligência e precisa deles para sobreviver. Tudo é um esquema e a célebre frase de Mussolini não deixa dúvida: - cuidado para não cairmos na armadilha fatal da coerência.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO

Psicanalista

domingo, 5 de setembro de 2010

Prazer na leitura - Artigo - Diário do Nordeste

Prazer na leitura

 
Muitos livros, mesmo quando exageram ou não contam a verdade, produzem prazer no leitor. Alguns leitores afirmam ter modificado suas vidas após alguma leitura, mas esse fenômeno somente é possível quando o leitor está aberto a novos conhecimentos. Para escrever bons textos é recomendável debruçar-se em leituras edificantes para adquirir diversos conhecimentos e pontos de vista. Há leituras que são divertidas, que falam de fatos que jamais poderiam ter existido, exemplo, não há nada de absurdo que não se possa encontrar num livro de filosofia e/ou de história, daí a necessidade da leitura crítica. A Enciclopédia Soviética é emblemática e causava risos nos leitores, devido a tantas modificações sofridas nos períodos imperiais e totalitários, inclusive, os intelectuais recomendavam, com ironia, que os soviéticos atualizassem sempre as suas biografias para poder acompanhar as constantes mudanças na Enciclopédia. O prazer proporcionado por um bom livro é indescritível, pois ninguém é o mesmo após consumi-lo. A juventude na contemporaneidade desperdiça precioso tempo em baladas, ao invés de dedicar à boa leitura; se o costume de ler fosse incentivado na sociedade, teríamos, em pouco tempo, uma boa civilização culta. Historicamente, os livros têm mais ouvintes do que leitores, basta ver que desde criança se ouve na escola as estorinhas infantis; e a bíblia, mesmo sendo o livro mais vendido, é apenas o mais ouvido nas homilias; e os livros eram escritos quase sempre na terceira pessoa, justamente pensando mais nos ouvintes das rodas de leitura do que nos leitores solitários. Filmes, novelas e documentários são baseados em centenas de livros que são assistidos anualmente por bilhões. Os livros e a Imprensa revolucionaram o pensamento humano, mesmo com os índices alarmantes de analfabetismo, e podem auxiliar na construção da nova sociedade que já começou. Na Inquisição européia era perigoso ler e mais ainda possuir certos livros; e na China imperial havia problema na circulação dos livros e sempre era citado o provérbio: Emprestar livro é estupidez; pior ainda é devolvê-lo.



LUÍS OLÍMPIO FERRAZ MELO

psicanalista